O médico da menina Sofia, o brasileiro Rodrigo Vianna, lamentou a morte da criança de um ano e oito meses na madrugada desta segunda-feira (14), em Miami. Sofia, que passou pelotransplante de cinco órgãos, estava internada desde julho por conta de um vírus e não resistiu a uma parada cardíaca.
“É um dia de luto para a nossa equipe. Para mim, como brasileiro, médico e ‘meio tio’ dela é ainda mais difícil. Estamos com um nó na garganta bem difícil de explicar”, afirmou, em entrevista ao G1.
menina (Foto: Arquivo Pessoal/Patrícia de Lacerda)
De acordo com ele, a infecção viral causou um grande dano aos pulmões da criança, que acabou levando à morte. Vianna afirma que todos os órgãos transplantados continuavam funcionando até “quase que a última hora de vida” de Sofia.
Vianna conta que ela foi a primeira criança a ser submetida a um transplante neste ano, no Jackson Memorial Hospital, que não resistiu. “Nossa profissão tem momentos lindos de cura, mas também momentos de extrema dor. Jamais estaremos completamente preparados para isso.”
O brasileiro, que é chefe do setor de transplantes do hospital, comenta que estava perto de Sofia e da família quando ela sofreu a parada cardíaca. “A gente não sabe explicar como ela contraiu a o vírus, mas sabemos que vencemos a infecção, só que o estrago no pulmão dela foi muito grande. Por conta do estado delicado de saúde dela, passei a noite no hospital e vi quando ela teve a parada. Foi muito rápido e, infelizmente, já esperado”, diz.
“Os pais dela [Gilson e Patrícia] garantiram que sua filha, a nossa bonequinha, tivesse acesso à única opção que a poderia mantê-la viva. Apesar do transplante de múltiplos órgãos ter altos índices de sucesso, nada é 100%. A medicina tem alguns limites que a gente não explica”, destaca o médico.
Para Vianna, a criança deixa um legado de luta. “Sofia e seus pais deixam para todos nós uma linda história de vida de luta e de conquista. Mesmo doente, ela foi uma criança feliz até o final. Eles deixam inspiração, amor e a vontade de lutar ainda mais pelos que sofrem das mesmas doenças. A verdade é que ela abriu os olhos do nosso país para tantos outros casos. Então ela será eternamente lembrada”, afirma.
Vianna também se manifestou em seu perfil no Facebook sobre a morte de Sofia. “Apesar de não ter vontade de trabalhar hoje, sei que vou continuar esta eterna luta pelo próximo paciente, sempre tentando devolver ou estender a vida nem que seja por um instante”, escreveu.
Comoção
A morte da bebê Sofia causou comoção nas redes sociais. Após uma nota de falecimento publicada na página da campanha “Ajude a Sofia”, milhares de pessoas comentaram o caso e enviaram mensagens de apoio à família.
Até as 9h45, a publicação no Facebook teve mais de 92 mil curtidas e 14 mil compartilhamentos. Entre os mais de 27 mil comentários, inúmeros internautas chamam a menina de “anjo”. “Meus sentimentos, o Brasil inteiro hoje está em luto, que o Senhor Deus possa confortar vocês. O céu hoje recebe mais um anjo. Linda Sofia, nossa guerreira que lutou até o fim vá em paz”, comentou uma internauta. O nome da menina é também um dos assuntos mais comentados do Twitter e do Instagram.
Sofia passou pelo transplante de cinco órgãos, teve uma parada cardíaca. Ela estava internada desde julho, por conta de um vírus contraído após o transplante multivisceral realizado em maio. No fim de semana o quadro da menina piorou bastante e a mãe postou em uma rede social que apenas um milagre salvaria sua vida. Patrícia de Lacerda pediu neste domingo (13) em uma rede social para seus seguidores “intensificarem as orações” pela melhora da pequena.
(Foto: Reprodução/ Facebook)
De acordo com post da mãe, os médicos que atendiam a menina perguntaram se a família queria que os aparelhos utilizados para manter a bebê viva fossem desligados, mas a resposta foi negativa.
Entenda o caso
Devido à complexidade da síndrome de Berdon, os médicos estimaram, no dia do nascimento de Sofia, que ela não passaria de um ano de vida. Porém, a menina contrariou as expectativas da medicina e comemorou seu primeiro aniversário no dia 24 de dezembro de 2014.
Desde que nasceu, no hospital da Universidade de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, Sofia nunca esteve na casa dos pais, que moram em Votorantim (SP). Ela passou pelo Hospital Samaritano, em Sorocaba (SP) e pelo Hospital das Clínicas de São Paulo.
Neste período, passou por três cirurgias, mas ainda necessitava de atendimento especializado para a síndrome rara e para o transplante multivisceral, que não era realizado no Brasil e tinha custo estimado de R$ 2 milhões.
A mãe começou então uma campanha na internet, chamada “Ajude a Sofia”, para arrecar fundos e levar a menina aos EUA. Ao todo, a família arrecadou R$ 1,8 milhão. Mas os pais continuaram brigando na Justiça para que o governo brasileiro pagasse o valor da cirurgia.
Após diversas questões judiciais, o desembargador do Tribunal Regional Federal (TRF) determinou, em julho do ano passado, a transferência da menina para o Jackson Memorial Hospital, em Miami, especializado em transplante multivisceral.
Com relação ao dinheiro arrecadado, a intenção dos pais era de doar para outras crianças que, como a Sofia, precisavam de um tratamento caro. Mas quando a família chegou aos EUA, ficou sabendo que o governo brasileiro pagou apenas a cirurgia, um pacote de homecare e alguns medicamentos. “A partir daí passamos a precisar utilizar o dinheiro da campanha para as demais despesas do tratamento. A conta é monitorada pela Justiça”, afirma Patrícia.
Fonte: Portal G1