Após se reunir por cerca de quatro horas e meia com o vice-presidente da República Michel Temer, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles defendeu nesta segunda-feira (2) que o país realize concessões na área de infraestrutura e tenha controle sobre a dívida pública para retomar o crescimento econômico.
Meirelles é o preferido de Temer para assumir o Ministério da Fazenda, caso o Senado afaste a presidente Dilma Rousseff do cargo. Neste cenário, o vice assumiria o Palácio do Planalto no lugar da petista por até 180 dias.
“A questão fiscal é fundamental neste processo [de retomada do crescimento], não tenho dúvidas, assim como a questão das concessões, que visam a viabilizar exatamente investimentos diretos em infraestrutura, o que, no primeiro momento, criará demanda e emprego e, no segundo momento, gerará diminuição dos custos do país”, disse Meirelles ao deixar o Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-presidência.
“Um aspecto-chave é exatamente a trajetória de crescimento da dívida pública […] Ainda dá tempo e esta é a hora de se tomar medidas que começam pela trajetória, para que ela possa ser alterada fazendo, portanto, com a taxa de risco do país comece a cair e, como consequência, as taxas de juros possam sofrer redução e tudo caminhe em outro rumo”, acrescentou o ex-presidente do BC, deixando claro que ainda não houve convite formal por parte de Temer para que assuma a Fazenda.
Bolsa Família e Imposto de Renda
Na entrevista à imprensa após se reunir com Temer, Meirelles também foi questionado sobre o anúncio neste domingo (1º), Dia do Trabalho, pela presidente Dilma Rousseff, de que o governo vai conceder reajuste médio de 9% aos beneficiários do programa Bolsa Família e vai propor correção de 5% na tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física.
Sem dizer diretamente se concorda ou não com a medida anunciada por Dilma, que já havia sido criticada por aliados do vice Michel Temer, Henrique Meirelles afirmou que “isto vai ter que ser devidamente medido e equacionado”.
“O país tem condições de honrar seus compromissos. A questão toda é o custo. É o que será necessário ser feito para que, de um lado, a trajetória de crescimento da dívida pública tenha sinais claros de reversão e, como consequência, possa haver a reversão do índice de confiança, o que levará a um aumento dos investimentos, ou seja, criação de emprego, maior consumo e os bancos voltando a emprestar”, avaliou.
O encontro com Temer
Embora o encontro com o vice-presidente, o terceiro em dez dias, tenha durado cerca de quatro horas e meia, Meirelles afirmou que os dois tiveram somente conversas “preliminares” sobre o atual cenário econômica e que nada foi discutido “objetivamente”, porque, segundo ele, é “prematuro” apresentar medidas antes de o Senado deliberar sobre o impeachment de Dilma.
“Falamos sobre a situação econômica do país. Apresentei meu diagnóstico sobre as razões pelas quais o Brasil está nessa trajetória de queda da atividade econômica. Estamos no segundo ano de uma contração muito forte, com aumento do desemprego e, então, é importante termos uma visão muito clara do que é necessário para reverter este processo”, declarou.
Para o ex-presidente do BC, os investidores precisam retomar a confiança na economia do país, porque, dessa forma os agentes econômicos voltarão a investir, fazendo com que haja a contratação de pessoas, o que deve gerar maior consumo por parte da população, algo chamado por Meirelles de “ciclo virtuoso de crescimento”.
G1