O Boletim Focus desta segunda-feira (23) mostra que os analistas revisaram para baixo pela segunda semana consecutiva suas projeções para a produção industrial, cuja mediana caiu de 3,31% para 2,94% entre a leitura da semana passada e a atual.
Para o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira, as estimativas dos economistas consultados pelo Banco Central para a indústria ainda têm espaço para redução.
“Há muitos fatores prejudicando o dinamismo da indústria, sendo os principais para 2012 o enfraquecimento do mercado doméstico e do mercado internacional”, afirma Silveira, que recentemente alterou de 1,5% para 1% sua projeção para o avanço da produção este ano.
Segundo o economista, sem medidas adicionais do governo para estimular a economia e mais cortes na taxa básica de juros, a Selic, o crescimento da indústria em 2012 pode ser igual ao de 2011, próximo de zero.
Silveira espera que o BC continue reduzindo os juros, que, em sua opinião, devem atingir 9% no fim do ano, e também conta com incentivos adicionais do governo para a indústria produzir mais, após a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para itens da linha branca e a reversão parcial das medidas macroprudenciais, ambas implementadas no fim do ano passado.
Outro ponto que pode ajudar a indústria em 2012, na opinião do sócio-diretor da RC, é a taxa de câmbio, que deve ficar menos valorizada do que em 2011. Se, no ano passado, o dólar valeu em média R$ 1,67, para este ano Silveira projeta uma taxa de R$ 1,84. “Isso vai fazer a diferença na hora de exportar para segmentos que têm um pouco mais de competitividade, como o agronegócio. Será uma melhora, mas muito discreta”, sustenta.
As exportações não podem ter uma expansão mais robusta porque a China deve seguir em desaceleração este ano, a Europa não deve se recuperar do tombo de 2011 e os Estados Unidos não apresentarão crescimento expressivo, aponta o economista.
Do lado interno, a demanda também não deve crescer com força devido ao aumento do endividamento das famílias e à perda de fôlego do emprego e da massa salarial –que ainda crescerão, mas menos do que no ano passado.
“O mundo inteiro vai estar desmoronando”, diz Silveira, que conta com alguma recuperação da indústria somente no segundo trimestre do ano, quando já estará agindo sobre a economia o efeito da queda dos juros.
“A recuperação será um pouco mais nítida no segundo semestre, mas não será grande porque é bom lembrar que o mercado internacional continuará em crise”, pondera.