Se você passar pelo Porto da Barra hoje, já vai notar uma diferença. No meio de sombreiros coloridos e cadeiras de todas os formatos, já dá para identificar um novo padrão: branco e azul.
Os kits de praia dos barraqueiros de Salvador começaram a ser entregues pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) na manhã de ontem.
Os equipamentos da Barra foram os primeiros. Por lá, dez barraqueiros já receberam os equipamentos, de acordo com a Semop. Desses, nove estão localizados no Porto e um no Farol da Barra. Mas eles não devem ser os únicos.
A partir do dia 15, novos equipamentos devem chegar na Barra, já que, até agora, apenas kits patrocinados pela cervejaria Schin foram entregues – os kits das outras duas patrocinadoras, Skol e Itaipava, atrasaram.
Mudança
Inicialmente, a Barra receberia apenas dez das 200 tendas móveis que serão distribuídas pela orla de Salvador – quatro no Porto e seis no Farol. Esse limite de 200 tendas foi estabelecido pela Justiça.
No entanto, segundo a secretária municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf, tanto o Porto quanto a área do Farol devem abrigar cerca de 30 kits “menores”. “A praia do Porto é muito estreita, mas, ainda assim, tínhamos 74 ambulantes licenciados e 15 informais. Tentamos adequar isso de uma forma que não afetasse tanto os barraqueiros, privilegiando os mais antigos”, explicou.
Assim, a Barra deixou de estar na conta das 200 tendas móveis e os 30 contemplados do bairro serão registrados como ambulantes. “A Barra nunca teve barracas, mas ambulantes. Como essa também é a realidade de outras praias do Subúrbio, esses kits (menores) também devem ser entregues em locais como Tubarão e São Tomé de Paripe”, diz Rosemma. As tendas móveis ficarão entre Ondina e Ipitanga.
Cada kit recebido pelos ambulantes da Barra inclui 20 cadeiras, dez sombreiros, dez banquetas, dez lixeiras de 10 a 15 litros, uma lixeira de 100 litros, uma caixa térmica e um ombrelone.
Em comparação, os kits das tendas têm até 40 cadeiras de alumínio, 20 sombreiros, 20 mesas, 20 lixeiras de 10 a 15 litros, duas de 100 litros e duas caixas térmicas.
Almir Francisco já está com seu kit no Porto da Barra e já sabe que não pode cobrar aluguel da clientela
Queixas
Apesar de terem aprovado o material, os barraqueiros queriam mais cadeiras. “Nós trabalhamos com 60, 70 por dia”, disse o barraqueiro Almir Francisco, 48, do Point do Gelado. Além disso, ele não ficou muito satisfeito ao saber que não pode cobrar pelo aluguel dos equipamentos.
Francisco cobra R$ 6 pelo sombreiro. Já as cadeiras ficam por R$ 4. “Não cobro para ficar rico, mas para sobreviver. Preciso pagar o depósito para guardar as coisas, pagar funcionário. Como vamos fazer isso, vendendo só cerveja?”.
Francisco não chegou a cobrar ontem, mas alguns colegas sim. Na Barraca do Carlinhos, o proprietário Carlos Roberto, 49, pediu R$ 4 por cadeira. Lá, até o ombrelone foi alugado – por R$ 10. “Nós temos que cobrar, porque isso não tem lógica. Eu prefiro nem continuar na praia, do que ficar aqui, trabalhando de graça”.
Assim como outros banhistas, a auxiliar de enfermagem Carmen da Silva, 55, disse que não sabia que não precisava pagar pelos equipamentos. “Nós só ficamos sabendo depois de sentarmos. Nem acho errado cobrar, mas se a prefeitura está dando de graça, eles não deviam fazer isso, né?”. Mas, segundo a barraqueira Ana Rodrigues, que também alugou as cadeiras, ninguém avisou que a cobrança era proibida. “Fiz sem saber. Eles não deram orientação”.
Só que, para Rosemma Maluf, a prefeitura não tinha obrigação de avisar. “É uma lei do Código do Consumidor. Quem trabalha com o consumidor tem que saber”. E, ainda segundo a secretária, os barraqueiros podem até achar ruim se algum banhista sentar nas cadeiras e não consumir. Mas só podem achar ruim, mesmo. Convidá-los a sair, nem pensar.
“É como ir para um restaurante, sentar e não comer nada. O garçom vai ficar chateado, mas não vai expulsar o cliente. São riscos da atividade empresarial. Da mesma forma, pode vir um cliente e comer por dez”, ponderou.
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