“Eu estou segura, mas continuo magoada. Meu coração está sangrando. Dói muito essa situação”, disse Karina Barros. Ela é mãe do adolescente de 16 anos que foi agredido por um policial militar no subúrbio de Salvador.
Karina falou com a equipe da TV Bahia na manhã desta quarta-feira (5), dia em que ela se encontrou com o coronel geral da Polícia Militar, Anselmo Brandão. Inicialmente, o encontro foi a portas fechadas e depois a imprensa teve acesso à sala.
Por volta das 8h30, o adolescente, a mãe e outras duas testemunhas, que estavam no momento da ação policial, saíram do subúrbio da capital baiana para o Largos dos Aflitos, onde fica o quartel da PM, local do encontro.
No caminho para o quartel, o jovem revelou que está ansioso e com dificuldades para dormir. O exame de corpo de delito do adolescente está previsto para tarde desta quarta-feira.
“Tomei remédio para dormir”, disse.
A mãe do adolescente, Karina Barros, reforçou o comentário do filho e disse que foi difícil dormir. Falou ainda que espera resolução do caso.
“Essa noite foi difícil para gente. Ele não dormiu, eu também não dormi. Não descansamos direito, não tem como descansar. Espero justiça. Como mãe, eu espero que haja justiça”, destacou.
Em depoimento, o soldado Laércio Sacramento, suspeito de agredir o adolescente disse desconhecer o fato. Entretanto, durante o encontro, o coronel Anselmo Brandão pediu desculpas e disse que as imagens mostram que o policial cometeu um ato infracional.
“Quando ele faz a agressão é da pessoa, não o policial porque a gente não dá essa orientação. Eu só sei que ele disse que estava fazendo uma abordagem, o teor do depoimento, não posso me antecipar”, disse.
Após o encontro, na saída do quartel, Karina disse que ficou satisfeita com o encontro, mas as lembranças das imagens do filho sendo agredido ainda machucam.
Duas testemunhas das agressões ainda não puderam prestar depoimento na Corregedoria da Polícia Militar. Então, as testemunhas foram marcadas para a próxima segunda-feira (10), na Corregedoria, localizada no bairro da Pituba, em Salvador.
Testemunha relata ameaças
O Coletivo de Entidades Negras pediu proteção para a testemunha que flagrou e fez o vídeo das agressões ao adolescente de 16 anos.
De acordo com o coordenador do Coletivo de Entidades Negras, Yuri Silva, o jovem que fez a filmagem foi ameaçado e não está mais na casa onde morava. Disse também que vizinhos do jovem disseram que era melhor ele não retornar para casa pois o lugar estava perigoso.
Em entrevista à TV Bahia, o autor das imagens relembrou o caso. “Eu tinha chegado da festa de Iemanjá, tinha passado na casa de um amigo, foi quando vi que estava acontecendo a abordagem. Ele [o policial] já tinha agredido outro rapaz, então peguei o celular para gravar a ação. Foi o momento que o rapaz falou que era trabalhador”, disse o jovem que prefere não se identificar.
O rapaz disse que depois de fazer o vídeo pensou em apagá-lo, mas como o adolescente pediu as imagens para ele, então resolveu repassar para a vítima.
“Tive medo da represália. O rapaz percebeu que eu fiz a gravação e me pediu dizendo: ‘Mande pra mim que eu vou mandar pra minha mãe, da outra vez que eu cheguei em casa com o olho roxo eu disse que tinha sido um PM e minha mãe não acreditou’. Eu ia até apagar. Eu achei que ele ia mandar só pra mãe dele e quando vi já tinha repercutido”, contou.
Por Victor Silveira e Maiana Belo, TV Bahia