‘Milícia’, diz empresário que pagava até R$ 10 mil por mês a PMs no AC

O empresário Jarbas Soster, sócio de um posto de combustíveis de Rio Branco, acusa um grupo de policiais militares de negociar e cobrar quantias em dinheiro para fazer a ronda e garantir a segurança do estabelecimento. Ele conta que há quatro anos se vê obrigado a pagar, mensalmente, uma quantia próxima a R$ 10 mil. Há pouco mais de um mês, a empresa resolveu parar o pagamento. A coordenação do serviço, segundo Soster, era de responsabilidade do sargento Willington de Morais. A nós, o policial confirmou que prestava o serviço, mas nega ter existido qualquer tipo de ameaça.

No início, de acordo com Soster, os policiais chegaram ao posto com informações, supostamente adquiridas no serviço de inteligência da Polícia Militar, de que existiam assaltos planejados ao local. Diante disso, eles sugeriam uma atenção maior ao local, caso a empresa oferecesse gratificações em dinheiro.

“Eles foram oferecendo uma espécie de serviço paralelo. Sob essa iminente possibilidade de um assalto ou qualquer tentativa contra algum funcionário, a gente acabou sendo enquadrado por essa quadrilha, que tinha como objetivo extrair dinheiro da empresa. Era um terrorismo que eles patrocinavam e acabamos aceitando, porque nas redondezas têm um índice elevado de furtos e assaltos”, conta.

O dinheiro, diz o empresário, era retirado diretamente com os frentistas. Soster conta que dois policiais, que formavam a ronda, passavam praticamente todos os dias para fazer as retiradas. Cada um recebia mais de R$ 140, diariamente. Além disso, uma outra quantia no valor de R$ 1 mil era paga, a cada mês.

Eles traziam mulheres nas dependências do restaurante ao lado, algumas vezes vinham de uniforme e com viatura da polícia”
Jarbas Soster

“Eles vinham durante a noite, em momentos não convencionais. Iam no caixa do posto, e pegavam o dinheiro com o frentista. Não era uma relação de trabalho, era uma constrição permanente, de que a presença deles tinha que existir, porque senão, a empresa sofreria diversos arrombamentos. É uma milícia que se instalou e ficou sugando a empresa”, explica.

A identidade dos policiais militares envolvidos é incerta. Soster afirma que não eram os mesmos policiais que frequentavam o posto diariamente. No entanto, a organização do esquema, segundo ele, era de responsabilidade de uma única pessoa, o sargento Willington de Morais.

“Era um grupo de policiais que tinha um, que atualmente é sargento, que recrutava os outros. Ele comandava essa turma. Era uma milícia mesmo. Temos recibos assinados, porque os frentistas não podiam tirar dinheiro do caixa sem uma comprovação no dia seguinte. Eles estão identificados em alguns recibos e tem assinatura do sargento Willington”, revela.

Soster explica que o medo foi o motivo da empresa ter passado tanto tempo pagando os serviços de ronda policial. O temor foi tanto que, há dois anos, o posto, que era para funcionar durante 24 horas, é fechado das 23h às 5h. “Chegamos a um ponto que passamos a fechar o posto, já faz dois anos, a partir das 23h por conta de que era um risco continuado. Por uma questão de segurança”.

2 Recibo de pagamento por 'serviços de segurança' mostra assinatura de sargento da Polícia Militar do Acre (Foto: G1)
Recibo de pagamento por “serviços de segurança” mostra assinatura de sargento da Polícia Militar, Willington de Morais (Foto: G1)

O fim das negociações só ocorreu há 40 dias. O empresário diz que, apesar do pagamento, os furtos e arrombamentos ocorriam, mesmo que esporadicamente. Além disso, Soster denuncia que os policiais, algumas vezes fardados e com viatura, levavam mulheres para as dependências do posto.

“Resolvemos abrir agora, porque estamos cansados. E mesmo durante o tempo que eles ofereciam esse dito serviço, ocorreram vários arrombamentos e furtos nas dependências da empresa. Durante a noite, a gente tinha informação dos frentistas, que eles traziam mulheres nas dependências do restaurante ao lado, algumas vezes vinham de uniforme e com viatura da polícia”, denuncia.

Um boletim de ocorrência foi lavrado junto à Polícia Civil no dia 19 deste mês. De acordo com o advogado do empresário, Cristopher Mariano, nunca foi vontade da empresa contratar policiais em serviço para fazer a segurança do local. No entanto, diante das ameaças, foi obrigada a ceder.

“A empresa não queria pagar um servidor público, mas ela se viu extorquida. Ela sabe que não se pode contratar um policial armado para ficar aqui. Já registramos a ocorrência, levamos as testemunhas, e pedimos que outros empresários que passam pela mesma situação denunciem. Segurança pública é dever do Estado. E policiais não podem utilizar da função para ameaçar”, diz.

Empresário conta que, devido ao medo, posto de combustíveis 24h é fechado durante a madrugada  (Foto: G1)
Empresário conta que, devido ao medo, posto de combustíveis 24h é fechado durante a madrugada (Foto: G1)

‘Era um bico, eu recebia por fora’, diz sargento da PM
Procurado pelo G1, o sargento Willington de Morais confirmou que, juntamente com outros policiais, prestava serviço ao posto de combustíveis, se tratando de um “bico”. No entanto, ele afirmou que o trabalho não era feito durante o horário de trabalho na polícia. Ele também confirmou todos os valores em dinheiro recebidos.

“Uma equipe de segurança fazia um ‘bico’ e o dono do posto pagava. Eu ganhava a mais só para montar a escala. Ele me pagava R$ 1 mil por mês e a diária dos ‘meninos’ estava em R$ 142. Era um extra que a gente tirava sem agredir a escala da PM e nunca foi usada viatura”, diz.

Morais diz também que esse tipo de serviço extra é comum na PM e muitos policiais atuaram na segurança do local. No entanto, garante que, diferente do que denuncia o proprietário do posto Jarbas Soster, o trabalho nunca foi feito mediante ameaças. “Muitos passaram por lá. É um bico separado, desde que não prejudique o serviço. Por isso, tinha essa escala, para acontecer na folga. A questão das ameaças é uma acusação grave e eles têm que provar isso em juízo”, acrescenta.

O sargento acredita que o motivo da denúncia é a ação trabalhista que os policiais estão movendo na Justiça contra a administração do posto, desde o término do serviço prestado, em novembro deste ano. “A questão dele é por causa dessa ação trabalhista. Existia um vínculo de trabalho, uma escala. Ele mandou todo mundo ir embora, sem nada, sem acordo. Já está correndo um processo judicial. Inclusive, as audiências já são agora em janeiro”, afirma.

Morais explica ainda que a presença da polícia inibia a possibilidade de crimes no local. “O trabalho que a gente tem feito lá, na questão da segurança, é que as pessoas que chegavam para tentar alguma coisa no posto sabiam que tinham policiais trabalhando e não iam. E nenhum policial queria trabalhar lá, porque fica numa ilha de alto índice de periculosidade”.

Trabalho extra não é permitido, diz Comando da PM
O comandante da PM-AC, coronel José Anastácio, disse que o comando tomou conhecimento do caso por meio da reportagem e que uma investigação será iniciada. “O comando tomou conhecimento agora e eu vou mandar para a Corregedoria para apurar”, garantiu.

Anastácio afirma também que o serviço na polícia requer exclusividade. Por isso, não é permitido que o policial atue de forma independente em nenhum local. “O nosso serviço é dedicação exclusiva, só que esse ‘bico’ existe em alguns lugares. Por mais que a gente tenha combatido, e que tenha disponibilidade de serviço extra remunerado na polícia, alguns policiais ainda insistem em fazer. E, à medida que são denunciados, são tomadas as providências pela corporação”, afirma.

O secretário de Estado de Segurança Pública, Reni Graebner, informou que a denúncia deve ser feita junto à PM, por se tratar de uma infração administrativa. “A orientação é procurar a Corregedoria da PM, porque é uma infração administrativa em primeiro lugar. Tem que apurar isso”, acrescentou.

Fonte: Portal G1

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