Depois que quatro motoristas por aplicativo foram encontrado mortos com sinais de tortura no bairro de Santo Inácio, a categoria tem se organizado para pedir segurança. Nessa segunda-feira, eles realizaram duas manifestações. Uma no Centro Administrativo da Bahia, em frente à Secretaria de Segurança Pública (SSP), e outra na Avenida Tancredo Neves, em frente à sede da 99, plataforma responsável pelas corridas que foram aceitas pelos motoristas mortos.
A principal reivindicação da categoria, segundo o presidente do Sindicato dos Motoristas por Aplicativo e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter-BA), Átila Santana, é que a política de segurança para os passageiros seja a mesma determinada para os motoristas. “Eles sabem da vida dos motoristas desde o dia que nasceu até o presente momento. Nós não sabemos nada dos usuários. Queremos fotos. O prefeito ACM Neto vetou o item que mostrava a foto do passageiro. Queremos mais segurança. Eles [empresas] recebem quatro chamadas para um local de alta periculosidade e não desconfiam de nada? O derramamento desse sangue poderia ter sido evitado”, afirmou.
A chacina que levou a óbito quatro motoristas ocorreu na última sexta-feira (13). Segundo Átila, o número de mortes poderia ter sido maior, visto que há relatos de que o mandante do crime “dei a ordem de que se matassem 10 motoristas acabaria com a frustração dele”, que teria “ficado chateado porque motoristas não estavam aceitando corridas naquela localidade”. “Tivemos um guerreiro que reagiu e ajudou outro a sobreviver. E sabe o que esse sobrevivente ouviu da 99POP? Que ele não tem direito a nada porque não morreu. Não deram sequer um psicólogo. O sindicato que está amparando ele”, contou Átila.
O ocorrido deixou toda a categoria estarrecida, segundo a motorista Luciana Vieira. “Todo mundo está completamente deprimido. Sem animo para trabalhar. Nós precisamos, mais do que nunca, de segurança. É só o que pedimos, segurança. Em relação ao motorista é cobrado várias situações para comprovar que nós somos nós perante ao cliente, e nós não temos absolutamente nada do cliente, a não ser o nome dele”, lamentou.
Diretor do Simactter-BA, Vinícus Passos atua na área há dois anos e define as mortes como “um crime que abalou o Brasil e o mundo”, que “não pode passar em pune”. “Vamos solicitar a implantação da delegacia especializada em crimes para motoristas de aplicativos e motoristas no geral. Taxistas, mototaxistas, vans. É uma exigência nossa. A gente não aguenta mais. A gente quer que as operadoras de aplicativos mostrem os destinos, precisa que deem a gente a foto do usuário que está entrando, porque a gente se sente inseguro com isso. A gente não sabe que está entrando nos nossos carros”, afirmou.
Além da delegacia especializada, a categoria também não abre mão do fim da taxa de cancelamento. “A maioria dos crimes cometidos pela categoria poderia ter sido evitado pelas empresas. Se o motorista tiver citado, ele não consegue acessar a plataforma. Já qualquer pessoa faz o cadastro sem nenhum vigor. Motorista por aplicativo faz até reconhecimento facial. A maior prova que Uber e 99 trabalha como patrões é que se o trabalhador cancelar um determinado número de viagens, ele é punido das plataformas. O que é isso, senão coagir. Os trabalhadores são coagidos pela taxa de cancelamento. Já não tem segurança e ainda são coagidos. O que é isso, se não é um patrão dar ordem aos funcionários, se não é vínculo empregatício”, questionou Átila Santana.
De acordo com o presidente do Simactter-BA, no projeto de lei que está sendo articulado juntamente com o deputado federal Cláudio Cajado (PP), que vista conseguir benefícios para a categoria, como isenção de impostos, serão incluídas também medidas que visam dar maior segurança aos profissionais que atual no transporte por aplicativos.
Governador e prefeito comentam
Governador da Bahia, Rui Costa (PT) comentou o ocorrido. “Um dos criminosos envolvidos já foi pego. Infelizmente, resistiu à prisão e acabou vindo a óbito. Os outros três já estão identificados, e a polícia está buscando prendê-los. Espero que nas próximas horas, dias, possamos prendê-los e entregá-los a julgamento na Justiça”, disse.
E garantiu melhorar a atuação da Polícia Militar no estado: “Muitas vezes você não consegue evitar o crime, mas a eficiência do estado tem que ser na identificação e prisão dos criminosos”. Rui Costa informou ainda que está trabalhando em uma licitação para aumentar o número de câmaras de reconhecimento facial e de leitoras de placas, que têm ajudado na atuação policial. “Algo que tem nos ajudado muito a elucidar os crimes, que é a vigilância eletrônica. Vamos ter uma ampliação grande ao longo de 2020”, explicou.
Depois de sancionar com 18 vetos a lei que regulamentou em Salvador o transporte por aplicativos, entre eles o que obrigava a identificação dos passageiros, o prefeito ACM Neto justificou sua decisão, em meio a protestos da categoria na cidade. “Não é da alçada do Município. É uma questão federal. Esse ponto da lei fere a legislação federal, que é a identificação dos passageiros. Se quiserem fazer esse debate, tem que fazer o debate no Congresso”, disse.
Tribuna da Bahia