Por Alinne Torres e Caio Alves
Sensação de desconforto, inquietude, mal-estar. Essas são algumas declarações feitas pelos moradores da cidade de Juazeiro à reportagem do Diário da Região, quando o assunto é a infestação do inseto Culex, conhecido também como muriçoca e pernilongo.
O surto de muriçocas no município, que já foi tema de manifestações e debates, continua tirando a tranquilidade dos habitantes, como é o caso da moradora do bairro Novo Encontro, Laila Santos. “Quando chega às 17h tenho que ficar trancada dentro de casa. Sair na rua, conversar nas calçadas, ninguém aguenta. Eu tenho uma filha pequena e para ela dormir com um mínimo de conforto tranco todas as portas, ligo o ventilador, coloco o mosqueteiro e aplico um inseticida. É uma situação muito angustiante”, afirma.
O mesmo problema é relatado pela moradora do bairro Alto do Alencar, Osneide Pereira. “À noite não temos paz. Não temos condições de dormir bem se não tivermos com o mosqueteiro ou o ventilador. Minha filha tem alergia à muriçoca e por isso constantemente a levo ao médico. A saída é ficarmos dentro de casa e mesmo assim não é uma boa solução”, salienta.
A explicação para o número crescente de muriçocas, segundo o superintendente de Regularização, Humanização e Promoção da Saúde da Secretaria de Saúde do município, Mário Machado, está relacionada à localização da cidade que é cortada por canais e está à margem do Rio São Francisco. “O mosquito precisa da água para se reproduzir. Eles podem ser facilmente encontrados em locais com água parada e onde matéria orgânica e lixo possam ser encontrados, como em canais de esgoto e rios poluídos ou até mesmo em poças de água, pneus, ralos, entre outros”, afirma.
A proliferação de muriçocas chega a ser de ordem ambiental e não de saúde pública, de acordo com o superintendente. “É preciso ter um grande projeto para canalizar todos os canais que cortam a cidade, para que a água fique corrente e assim possamos reduzir o índice de muriçocas”, explica Machado.
Para inibir os transtornos provocados pelo inseto, Machado ressalta que o governo municipal tem realizado ações preventivas, mas expõe que durante a estação do verão os esforços estão voltados para combater o mosquito Aedes Aegypti que provoca a dengue. “O próprio larvicida que vai matar o mosquito da dengue também vai matar o Culex, que é da família da muriçoca”, comenta.
O superintendente acrescenta ainda que o carro fumacê, já conhecido entre os moradores, não está sendo utilizado no combate à muriçoca, já que existe a probabilidade do produto empregado ocasionar uma mutação no inseto causador da dengue e fazer com que o mosquito fique imune à substância usada, o que pode gerar uma epidemia da doença na cidade.
O Diário da Região também entrevistou o professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Benoit Jean Bernard Jahyny, que deu algumas dicas de como os moradores podem aliviar os problemas causados pelas muriçocas. De acordo com o especialista utilizar inseticida, repelentes e não ligar a luz com a janela aberta no período que está anoitecendo são algumas medidas que amenizam os transtornos.
Porém, o especialista reforça que a praga só será eliminada quando o habitat das muriçocas for eliminado. “As muriçocas se originam a partir de água. Onde tiver água empoçada, vai ter muriçoca. Então, a melhor medida é eliminar os locais com fonte d’água como canais, lagos poluídos, locais com acúmulo de lixo que tenham algo que deposite água, etc”, frisa Jahyny.