O Norte brasileiro é a região com menores índices de sensação de segurança do país, onde mais de 50% das pessoas não se sentem seguras em sua cidade e quase 30% se dizem inseguras em seu próprio domicílio, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais 2012, divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo aponta que índices do Nordeste e Sudeste também estão abaixo da média nacional.
O IBGE utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2009) referentes ao tema Vitimização e Justiça para mostrar um retrato da população brasileira em 2012. Segundo a Pnad, mais de 20% das pessoas não se sentiam seguras em seus domicílios.
Sensação de segurança é maior em áreas rurais em relação aos centros urbanos em todas as regiões.
No país, 67,1% das pessoas sentiam-se seguram em seus bairros e 78,6% em seus domicílios. Segundo o estudo, “a sensação de segurança parece aumentar à medida que nos aproximamos das pessoas e ruas conhecidas, próximas aos domicílios”.
A sensação de segurança é maior nas áreas rurais do que nas urbanas, em todos os casos. Nas áreas rurais, diz o IBGE, o percentual de sensação de segurança no domicílio e no bairro é alto. “Talvez pela maioria dos domicílios nessas áreas serem do tipo casa, habitados por famílias conhecidas e, muitas vezes, membros de uma mesma família estendida”, segundo o instituto.
A Região Sul ultrapassou os 80% da população que se sente segura no próprio domicílio e é também a que mostrou os maiores resultados para os bairros (72,6%) e cidades (60,5%). O Piauí apresentou o maior percentual de sensação de segurança para os domicílios (85,4%) e os bairros (80,5%). Tocantins é onde as pessoas se sentem mais seguras em suas cidades (71,8%).
Pará lidera insegurança
Na Região Norte, a sensação de segurança nas cidades está abaixo de 50%. Nordeste e Sudeste também apresentaram resultados inferiores à média nacional, de 52,8%. O Pará registrou os percentuais mais baixos nas três categorias: domicílios (64,8%), bairros (49%) e cidades (36,9%).
Priscila, 32 anos, que mora em Belém, diz que não dorme direito desde que sofreu um assalto no último sábado. “Estava tirando o carro da garagem quando percebi que o bagageiro estava aberto. Já na rua, parei o carro e fui fechar o bagageiro. Nesse momento, chegaram dois homens armados, de moto, e anunciaram o assalto”, relata. “Puxaram o meu cordão, pegaram minha bolsa, meu celular e meu relógio novinho, que eu tinha ganhado há três dias de presente do meu marido.”
Quando saio de casa a sensação que eu tenho é que todo mundo que se aproxima de mim vai me assaltar, já fico com o coração acelerado”
Priscila, 32 anos, moradora de Belém
Ela diz que havia sofrido outro assalto em agosto. “Eu, minha mãe e o namorado dela estávamos indo para um casamento e antes paramos em uma farmácia na Avenida Nazaré, esquina com Generalíssimo Deodoro. Três homens armados nos abordaram levaram nossos celulares e o carro. Chamamos a polícia, e meia hora depois o carro foi encontrado na ponte do Barreiro, mas os aparelhos nunca foram encontrados.”
“Quando saio de casa a sensação que eu tenho é que todo mundo que se aproxima de mim vai me assaltar, já fico com o coração acelerado. Estou pensando em procurar auxílio de um psicólogo”, afirma ela.
Para o pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará, Ayala Colares, a sensação de violência sentida pelos moradores de Belém é provocada pelo tráfico de drogas.
“Hoje, Belém exerce papel central no narcotráfico”, avalia. “De que forma o tráfico torna a cidade violenta? Através de acertos de contas. Os pequenos furtos também são praticados por pessoas viciadas em drogas, que querem manter o vício. Em nível nacional, se percebe que o tráfico é a origem da violência”, completa.
Segundo dados de 2009 do Ministério da Justiça, as maiores taxas de homicídio estavam em Alagoas e Espírito Santo, mas o Pará tinha um dos maiores índices de latrocínios, perdendo apenas para o Amapá.
Ainda de acordo com a Pnad, a sensação de segurança é muito maior entre a população que se diz parda do que daquela que se diz negra. A maior diferença está na Região Norte, onde 71,6% da população parda diz se sentir segura em sua cidade, contra 4,9% da negra. No Sudeste, esses percentuais são, respectivamente, de 34,6% e 8%; e no Sul, de 17,6% e 3,5%.
“A sociedade ainda não possui sensação de tranquilidade suficiente para ser chamada de segura, comprometendo então a liberdade de locomoção, integridade, entre outros aspectos”, conclui o estudo.