Em entrevista à Tribuna da Bahia, o superintendente do Sebrae Bahia, Jorge Khoury, falou sobre as perspectivas da entidade para o mercado de pequenos negócios nos próximos meses. Segundo ele, os estudos do Sistema Sebrae apontam para o crescimento de economias ligadas à sustentabilidade, inovação e novas práticas de gestão, os chamados Setores Portadores de Futuro (SPF). Jorge Khoury ressaltou que esses setores incluem áreas como economia da saúde e bem-estar, destinos turísticos inteligentes, economia circular, transição energética, descarbonização, entre outras.
Além das previsões otimistas, Khoury destacou o compromisso do Sebrae Bahia com o fortalecimento do empreendedorismo social e sustentável. Desde a adesão à Rede Brasil do Pacto Global da ONU em 2020, o Sebrae Bahia vem promovendo ações voltadas para a sustentabilidade e o impacto social. Entre as iniciativas mencionadas, está o SebraeEcos, em parceria com a Prefeitura de Salvador, que fomenta a sustentabilidade nos pequenos negócios da capital baiana, e o Sebraelab, que oferece capacitações para negócios de impacto.
No entanto, segundo Khoury, os desafios enfrentados pelos empreendedores baianos são muitos, desde a alta carga tributária até a dificuldade de acesso ao crédito. Ele mencionou o programa Sebrae na Sua Empresa, que já atendeu mais de 40 mil empreendimentos na Bahia em 2024, oferecendo diagnósticos e suporte para melhorar a gestão.
Tribuna – Quais são as principais iniciativas atuais do Sebrae Bahia para apoiar os empreendedores?
Jorge Khoury – O Sebrae dispõe de atendimento presencial e digital, com soluções on-line e até mesmo por aplicativo de mensagens. A nossa instituição sempre esteve ao lado dos micro e pequenos negócios, levando as ferramentas necessárias para os empreendedores, onde quer que eles estivessem. Estamos também reforçando a qualificação da nossa rede de atendimento. Desde o ano passado, reinauguramos novas sedes em algumas regionais, como Santo Antônio de Jesus, Jacobina e teremos a inauguração da nova sede de Feira de Santana na segunda, 19 de agosto. E nossa atuação segue por diversas frentes. Sobretudo nesse período de pós-pandemia, o crédito tem sido uma ferramenta importante para dar mais fôlego aos pequenos negócios. Neste ano, em parceria com o Sebrae, o Governo Federal lançou o programa Acredita Brasil, que deve viabilizar R$ 30 bilhões em crédito para micro e pequenas empresas nos próximos três anos. Importante ressaltar que o Sebrae não fornece linhas de crédito, mas atua como garantidor das operações junto às instituições financeiras por meio do Fampe [Fundo de Aval para Micro e Pequenas Empresas]. Com essa medida, a entidade entrará como avalista de até 80% do valor total do empréstimo a ser concedido pelas instituições bancárias. Só entre janeiro e maio de 2024, o Fampe viabilizou R$ 1 bilhão em empréstimos, volume que representa um crescimento de 140% em relação ao mesmo período de 2023. Importante também reforçar que o Sebrae é a casa do conhecimento e, nesse sentido, buscamos levar os temas mais relevantes do mundo dos negócios para nossos eventos, capacitações e consultorias especializadas. Esses temas abrangem áreas como marketing digital, inteligência artificial, técnicas de venda, gestão financeira, gestão de pessoal, contabilidade, entre outros que estão disponíveis para quem empreende na cidade ou no campo.
Tribuna – Os pequenos empreendimentos já conseguiram se recuperar dos prejuízos causados pela pandemia?
Jorge Khoury – A pandemia deixou marcas profundas que ainda levarão algum tempo para ser assimiladas. Em 2023, o Sebrae realizou um levantamento para buscar compreender a dimensão desse impacto. Identificamos, por exemplo, que a pandemia afetou, significativamente, todos os empreendedores, mas alguns segmentos foram mais impactados. Os empreendedores negros já têm um rendimento médio 32% inferior ao verificado aos brancos. Nesse recorte, identificamos que as mulheres negras foram as mais afetadas. O número de empreendedores homens brancos em atividade caiu 4%, no segundo trimestre de 2020, em comparação com o primeiro trimestre daquele ano. Entre os homens negros, essa queda foi de 13%. E entre as mulheres negras em atividade, a queda chegou a 16%. Esse é um desafio especial para a Bahia, sobretudo por conta do nosso perfil demográfico. Por isso, temos investido em muitas ações e projetos também focados no afroempreendedorismo. Do outro lado, precisamos destacar também que há uma retomada da confiança dos empreendedores. Uma sondagem do Sebrae feita em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas aponta que o Índice de Confiança dos Micro e Pequenos Empresários (IC-MPE) subiu 1,1 ponto no primeiro trimestre de 2024 em relação ao trimestre anterior. Um outro estudo do Sebrae mostra que 67% dos MEI e 65% das micro e pequenas empresas acreditam que este ano será mais positivo em relação a 2023. O cenário macroeconômico traz também um horizonte mais esperançoso. Os sinais de recuperação da economia brasileira trazem benefícios diretos aos donos de pequenos negócios e um desses indicativos está na redução do IGP-M. Em julho, o índice registrou variação de 0,61%, mostrando uma desaceleração em relação ao mês anterior, quando apresentou taxa de 0,81%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre). Importante destacar que, mesmo em meio a momentos adversos, as micro e pequenas empresas continuam como as principais geradoras de emprego da Bahia e do Brasil. Em nosso estado, só no primeiro semestre de 2024, esses empreendimentos acumularam um saldo de 54.435 postos de trabalho. Em termos comparativos, em todo o ano de 2022, quando ainda tínhamos fortes impactos da pandemia, os pequenos negócios somaram mais de 95 mil empregos gerados na Bahia. Ao todo, quase 80% dos postos de trabalho formal criados são oriundos de micro e pequenas empresas, o que demonstra a importância desses empreendimentos para a recuperação da economia nesse período pós-pandemia. É claro que temos ainda muito trabalho pela frente e muitos desafios a serem superados, mas podemos dizer que estamos enxergando perspectivas mais positivas para os pequenos negócios.
Tribuna – Quais são hoje as principais tendências de mercado?
Jorge Khoury – É importante observar os novos hábitos de consumo da população. Por exemplo, a presença digital tornou-se um ponto vital para os negócios. A loja física precisa estar conjugada com o digital, para levar ao consumidor a experiência oferecida pela empresa com praticidade e agilidade. Sem dúvida, temos que falar de questões relacionadas ao consumo digital não mais como uma tendência, mas sim como uma realidade e como uma questão de sobrevivência para os pequenos negócios. A inovação continua na pauta do dia também. Empresas que investem em inovação terão vantagem competitiva. E é importante observar a tendência que tem foco na sustentabilidade e no empreendedorismo social, levando em conta ainda a valorização da diversidade e a inclusão.
Tribuna – Como o Sebrae Bahia está ajudando as pequenas empresas a se adaptarem às mudanças no mercado e na economia?
Jorge Khoury – Contamos com uma ampla rede de atendimento, disponível em inúmeros canais, sempre pronta para acolher as demandas dos empreendedores e levar as melhores soluções e ferramentas para que os pequenos negócios possam se fortalecer. Nossa instituição também gera conhecimento e inteligência de mercado, com estudos e pesquisas disponíveis no Data Sebrae, plataforma que apresenta dados e informações atualizadas sobre o universo das micro e pequenas empresas. Temos ainda um calendário de eventos que contemplam temáticas diversas, promovendo, inclusive, intersecções de conhecimento, abarcando todos os setores da economia. Atuamos também com uma visão de longo prazo. O Sistema Sebrae está consolidando o seu Planejamento Estratégico 2035, que foi discutido na primeira edição da Semana do Futuro.
Tribuna – Quais são os maiores desafios enfrentados pelos empreendedores baianos hoje em dia e como o Sebrae está trabalhando para enfrentá-los?
Jorge Khoury – Os desafios são muitos. Mesmo com os diversos avanços, ainda enfrentamos uma alta carga tributária, excesso de burocracia, dificuldade para obtenção de crédito e acesso a novas tecnologias, gestão financeira, entre tantos outros. Mas, para cada um desses desafios, o Sebrae está preparado para apoiar os pequenos negócios de forma efetiva. Um dos nossos programas, o Sebrae na Sua Empresa, já atendeu mais de 40 mil empreendimentos na Bahia só em 2024. O programa, como o próprio nome sugere, disponibiliza visitas às empresas e desenvolvem diagnósticos para identificar melhorias na gestão dos negócios. Já passamos por 270 cidades em nosso estado. Através dos diagnósticos aplicados, podemos observar que a maioria das empresas precisa trabalhar principalmente as áreas de pessoas e planejamento. Mas é preciso também reforçar que internamente os temas de acesso crédito e finanças são desafios históricos para os empreendedores. Há ainda a necessidade do investimento em inovação e, considerando as urgências do mundo contemporâneo, é fundamental que os negócios abracem uma agenda da sustentabilidade, atentando para os pilares do ESG, contribuindo para enfrentar os desafios climáticos, que reverberam nas questões social e ambiental.
Tribuna – O avanço da Inteligência Artificial já chegou à pequena empresa na Bahia?
Jorge Khoury – Sim. E é preciso uma rápida adaptação dos negócios para que percebam como essas ferramentas podem automatizar processos e serem aliados dos negócios. É importante entender que essa tecnologia pode agregar ao dia a dia da gestão do negócio, por exemplo, com a automação dos processos, redução dos custos operacionais, tomada de decisão mais estratégica, aumento da produtividade e inteligência competitiva. Isso pode impactar no aumento da lucratividade, melhoria da gestão e uma adequação às práticas operacionais. Por isso, esse tema já está sendo abordado em diversos eventos, para que possamos realizar um trabalho de sensibilização e amadurecimento do nosso público com relação à inteligência artificial.
Tribuna – Como o Sebrae Bahia está lidando com o aumento do interesse por startups e negócios digitais?
Jorge Khoury – O Sebrae atua com o público de startups de diversas formas, uma delas por meio de convênios técnico-financeiros assinados junto ao Governo do Estado, por meio da Secti, em atividade desde 2016. Entre outras ações, essa parceria prevê a realização de capacitações e apoio para as startups incubadas no Parque Tecnológico da Bahia. O foco é o desenvolvimento de atividades direcionadas ao ecossistema local de startups, como a realização do evento Bahia Tech Experience (BTX). Em 2023, o BTX sagrou-se como o maior encontro de inovação e tecnologia do estado. Foram mais de 4 mil visitantes durante três dias no Parque Tecnológico, com uma programação que contou com duelos de pitches, aquário de podcasts, rodadas de matchmaking, ambiente gamer, 100 startups expositoras e palestrantes dos Estados Unidos e de países europeus. O objetivo principal é impulsionar a inovação e a tecnologia na Bahia com a oferta de conteúdo relevante, conexões globais e acesso a soluções desenvolvidas no estado a partir do nosso ecossistema de Startups.
Tribuna – Quais são os planos futuros para expandir seus serviços e apoiar ainda mais os empreendedores da região?
Jorge Khoury – O Plano Anual do Sebrae Bahia pretende intensificar e estimular que as micro e pequenas empresas estejam incluídas nas chamadas Economias Portadoras de Futuro. Trata-se de sistemas econômicos resilientes e adaptáveis para prosperar em meio a desafios e incertezas globais. Portanto, adotam a diversificação da base econômica, práticas sustentáveis como “transição verde”, inovação com pesquisa, desenvolvimento, inclusão social, entre outras iniciativas. Além disso, há uma atenção diferenciada para os empreendimentos protagonizados pela população identificada como sub-representada, seja pela sua localização em espaços periféricos, seja pelas questões de gênero, orientação sexual, etnias, raças, por meio do Programa Sebrae Plural.
Tribuna – Como o Sebrae Bahia está trabalhando para fortalecer o empreendedorismo social e sustentável?
Jorge Khoury – Em 2020, tivemos confirmada a nossa adesão à Rede Brasil do Pacto Global da Organização das Nações Unidas, o que nos inseriu na pauta mundial da sustentabilidade, ao sermos considerados membros signatários. Dessa forma, passamos a fazer parte da maior iniciativa de sustentabilidade empresarial do mundo. Implantamos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na estratégia do Sebrae Bahia em 2021 e, atuando de dentro para fora, reverberamos nossas ações, direcionando-as também para o nosso público-alvo. Em parceria com a prefeitura de Salvador, implantamos o SebraeEcos, um marco disruptivo para o fomento da sustentabilidade nas atividades dos pequenos negócios da capital baiana. Nesse espaço, localizado no Parque da Cidade, em Salvador, os empreendedores têm acesso a soluções relacionadas a sustentabilidade e à temática ESG, por meio de consultorias, cursos e diversos conteúdos. Contamos ainda com o Sebraelab, também localizado no Parque da Cidade, que oferece mentorias, consultorias e capacitações voltadas para negócios de impacto e que desejam inovar com foco nos ODS para que possamos cultivar a cultura da sustentabilidade e inovação. No aspecto social, vale lembrar que atuamos com o fomento ao empreendedorismo feminino, por meio do programa Sebrae Delas. São diversas ações realizadas, entre as quais podemos destacar a Feira das Pretas, voltada especificamente para as empreendedoras negras, que, historicamente, possuem menor renda, como destacamos na pesquisa.
Tribuna – Há parcerias para melhorar seu impacto na comunidade empreendedora?
Jorge Khoury – Com certeza. Costumo sempre destacar que o Sebrae tem uma ampla gama de serviços, ferramentas e soluções que contribuem e muito para a gestão dos pequenos negócios. No entanto, faço questão de ressaltar que juntos podemos chegar muito mais longe. Portanto, as parcerias são fundamentais para que nossa atuação seja ampliada e possa contribuir com a missão de disseminar a cultura empreendedora e a sustentabilidade dos pequenos negócios. Contamos com parceria nos poderes públicos, nas três esferas do governo, com instituições e outras organizações, inclusive não governamentais, que desenvolvem programas de estímulo ao empreendedorismo e políticas públicas que promovam um tratamento diferenciado para candidatos a empreendedores, microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte. Vale reforçar ainda as inúmeras parcerias com instituições representativas do setor produtivo, a exemplo da Fecomércio-BA, FAEB, FIEB, entre outros grandes atores.
Tribuna – Quais são as previsões do Sebrae Bahia para os próximos meses em relação ao desempenho do mercado para os pequenos negócios na Bahia e no Brasil?
Jorge Khoury – Como destacamos anteriormente, estudos do Sistema Sebrae apostam no conceito de Economias Portadoras de Futuro. São sistemas econômicos ligados a novos modelos de negócios que integram sustentabilidade, inovação e a incorporação de práticas de gestão de vanguarda, priorizando os chamados Setores Portadores de Futuro (SPF), incluindo: economia da saúde e bem-estar; destinos turísticos inteligentes – que favoreça uma experiência sustentável de impacto ao turista; a economia “sem restrição” – que engloba os empreendimentos originados nas favelas/comunidades urbanas e tecnologias sociais; a economia circular, transição energética e a descarbonização; economia azul; indústria digital; tecnologias digitais e inteligência artificial; bioeconomia – sistemas biológicos e recursos naturais aliados à utilização de novas tecnologias com o propósito de criar produtos e serviços mais sustentáveis; e o agronegócio sustentável de performance. Observamos, assim, a evidência do fomento à sustentabilidade na luta contra as mudanças climáticas associado à variável digital. É fato que as novas tecnologias têm um papel fundamental nesse processo, mas o fator humano se manterá essencial para seu desenvolvimento e para as decisões sobre a melhor forma de uso. Portanto, temos um horizonte de muitas oportunidades pela frente e nós, do Sebrae, seguiremos ao lado das micro e pequenas empresas, fornecendo todas as ferramentas e soluções necessárias para que possam continuar como protagonistas do desenvolvimento econômico e social da Bahia e do Brasil.
Tribuna da Bahia