Autor da denúncia do mensalão, o ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza afirmou ao G1 nesta terça-feira (11) que a abertura de um novo inquérito para investigar a eventual participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema dependeria da apresentação de provas que apontassem a veracidade do depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público Federal.
Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, em depoimento dado à Procuradoria-Geral da República em setembro deste ano, Valério disse que Lula deu aval para empréstimos dos bancos Rural e BMG que financiaram o esquema de pagamentos a parlamentares em troca da aprovação de projetos de interesse do governo no Congresso.
“A informação que eu tive é que esse depoimento é baseado no ‘eu acho’, ‘ eu vi’, ‘me disseram’. Não sei o que o Ministério Público Federal tem a fazer, mas pelo que vi não tem nem o que fazer porque não tem documentos, não tem a data. Só tem a fala, sem indicação de como confirmar isso, pelo que sondei”, afirmou Antonio Fernando de Souza.
Esse julgamento acabou. Nesse julgamento, não pode usar nenhuma coisa nova.”
Antonio Fernando de Souza, ex-procurador-geral da República
O ex-procurador-geral foi o autor da denúncia que gerou o processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, ele não incluiu Lula entre os réus 38 réus. Em entrevista ao G1, em setembro, Antonio Fernando de Souza afirmou que denunciar o ex-presidente seria um “ato político”, porque, segundo ele, não havia provas contra o petista.
“Se eu desejava fazer uma denúncia consistente e não uma denúncia de natureza política, não um ato político, evidentemente que só poderia fazer imputações a pessoas citadas naquele episódio. Não havia indício contra o ex-presidente Lula”, afirmou.
Nesta terça, o ex-procurador-geral destacou que há sete anos, quando o Ministério Público abriu inquérito para apurar o esquema, Marcos Valério não fez referência a Lula.
“O certo é que há sete anos atrás ele disse exatamente o contrário. Ele não fez nenhuma referência além do José Dirceu [ex-ministro da Casa Civil]. Não fez nenhuma referência a esses fatos que o jornal está publicando”, afirmou Antonio Fernando.
O ex-procurador-geral destacou ainda que o novo depoimento de Valério não poderá ter efeitos no atual julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. “Esse julgamento acabou. Nesse julgamento não pode usar nenhuma coisa nova”, afirmou.
Indagado se considera que o novo depoimento de Marcos Valério poderia ter como objetivo prejudicar ou retardar o julgamento do mensalão, Antonio Fernando afirmou: “Pode ser, porque se você chega e diz uma porção de coisas e não prova…”
Durante os quatro meses de julgamento, o Supremo concluiu que o mensalão foi um esquema articulado de uso de recursos públicos e privados para pagamento a parlamentares em troca da aprovação no Congresso de projetos de interesse do governo Lula.
Foram condenados 25 dos 37 réus. Segundo a denúncia da Procuradoria Geral da República, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a mais de dez anos de prisão, foi o “chefe” do esquema, o que ele nega.