A médica Virgínia Helena Soares de Souza, acusada de acelerar mortes de pacientes de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico, em Curitiba, disse em entrevista exclusiva ao Fantástico que acredita que a população brasileira a vê como um “demônio”. Ela negou as acusações e disse que consultava a equipe médica antes de decidir como agir nos casos de pacientes terminais. “Inocente ou culpado, depende de você agir errado e com má fé. Eu exerci a medicina”, disse a médica.
Virgínia Soares de Souza foi presa em 19 de fevereiro deste ano. Ela, três médicos e duas enfermeiras foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio e formação de quadrilha. Outros dois ex-funcionários do hospital também são réus. Eles respondem apenas por formação de quadrilha. O processo tem como base uma investigação do Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa). Segundo a acusação, os pacientes foram mortos por asfixia, com uso do medicamento Pavulon e diminuição de oxigênio no respirador artificial. A polícia e o Ministério Público investigam também mais de 300 mortes consideradas suspeitas na mesma UTI, entre 2006 e 2013.
“Eu nunca abreviei a vida de ninguém. Eu só exerci exatamente a medicina como ela tem que ser. Dentro da ética, com respeito ao local em que eu estava, com respeito aos médicos que trabalhavam comigo”, disse Virgínia.
Sete mortes fazem parte deste processo. Uma delas é a de Ivo Spitzner. Ele morreu em janeiro de 2012, aos 67 anos. De acordo com a acusação, ele foi internado com problemas de circulação no pé e precisou ser operado. Durante a cirurgia, o quadro clínico piorou e Ivo foi encaminhado para a UTI.
Já na unidade, o paciente teve uma parada cardíaca. O procedimento de reanimação durou cem minutos. No prontuário, há a informação de que, no dia da morte, o nível do respirador usado por Ivo foi reduzido ao mínimo. Em seguida, o paciente recebeu três medicamentos. Um deles foi o Pavulon, que paralisa os músculos, inclusive os da respiração. Ivo Spitzner morreu uma hora depois.