‘Nunca vai cicatrizar’, diz mãe, 1 ano após morte de Eduardo no Alemão

Quando Elizabeth Alves de Moura Francisco, de 41 anos, morreu no dia 1 de abril de 2015 após ser atingida por uma bala perdida dentro de casa, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, Therezinha Maria de Jesus, também moradora do morro, ficou chocada. Os tiroteios, frequentes na comunidade durante aquele período, faziam mais uma vítima.

“Meu Deus, que tristeza. Quem será o próximo”? Nunca imaginaria que seria o meu filho, no dia seguinte”, relembra ela, emocionada. Eduardo de Jesus Ferreira morreu atingido por um tiro de fuzil na cabeça, por volta das 16h45 do dia 2 de abril, durante uma operação policial.

Um ano após a tragédia, a mãe de Eduardo se divide entre a força para lutar por justiça e a dor da perda do filho. Em 2016, Therezinha viajou com a Anistia Internacional para a Suiça, Espanha, Inglaterra e Holanda para falar sobre a violência nas favelas brasileiras.

“Me entristece, porque nunca imaginaria sair do país, principalmente por causa da morte do meu filho. Como Deus me escolheu para lutar por justiça pelo meu filho, eu fui. Eu vou ser a voz do Eduardo. Mas é uma ferida que nunca vai cicatrizar”, avalia.

Therezinha relembrou o dia da morte de Eduardo e voltou a afirmar que não houve confronto entre traficantes e policiais no momento em que o filho foi atingido, ao contrário do que dizem os policiais militares envolvidos e a Polícia Civil, responsável pelas investigações. “Não havia nenhum tiroteio naquela hora, não ouvi nada. Lembro é dos policiais falando pra mim e para minha filha, quando ela tentou tirar a máscara de um deles: ‘A gente vai voltar’. Não me sinto segura no Rio, por isso fui para o Piauí”, relata Therezinha.

Investigação
A Polícia Civil, no inquérito conduzido pela Divisão de Homicídios, não indiciou nenhum dos dois policiais que admitiram ter atirado com fuzis pouco antes de Eduardo ser atingido. Em depoimento, um deles alegou que havia um confronto com criminosos no momento em que o menino foi baleado.

A irmã de Eduardo, Patrícia Ferreira de Jesus, no entanto, garantiu à Polícia Civil que não ouviu tiros disparados por criminosos antes de o irmão ser atingido. Estojos de munição calibre .40 foram coletados pela DH próximo ao local do crime.

Segundo o relatório de conclusão da investigação, escrito pelo então delegado Alexandre Herdy, atualmente na Draco, o laudo de confronto de balística indica que o estojo calibre .762, pego no local do crime pelo pai de Eduardo, “foi degflagrado pela arma de fogo de número de série Aha 04145, utilizado pelo policial militar Rafael de Freitas Monteiro Rodrigues”.

Em outro trecho do texto, no entanto, Herdy afirma que os atos de investigação “não foram suficientes para se determinar, com precisão, quem foi o atuor específico do único disparo de arma de fogo que vitimou Eduardo”. Na conclusão, o delegado destacou que os policiais militares mais próximos do menino, ambos da UPP do Alemão, “efetuaram, no total, três disparos de arma de fogo contra marginais armados, vindo, por erro na execução, a atingirem o menor Eduardo de Jesus Ferreira..”.

Denúncia e audiência
Em novembro de 2015, o promotor Homero das Neves Freitas Filho contestou a conclusão da Polícia Civil sobre o caso, e denunciou o PM Rafael de Freitas Monteiro Rodrigues por homicídio com dolo eventual.

Segundo o promotor, “o policial militar atirou a esmo, sem que tivesse ocorrido comprovadamente qualquer agressão atual ou iminente”, disparando tiros de fuzil calibre .762, “assumindo o risco de produzir resultado morte”.

“Só vou sossegar o meu coração quando eu vir esse policial julgado, condenado e preso. Sem isso, não posso cuidar da minha vida própria, de nada ao meu redor. Só posso lutar por justiça”, ressaltou Therezinha.

A denúncia foi aceita pela 4ª Vara Criminal no final do mês. Após uma audiência preliminar, a primeira audiência foi marcada para o dia 4 de julho de 2016, às 15h. Entre as testemunhas arroladas pela defesa do PM, estão o chefe da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, e o delegado que comandou as investigações do caso, Alexandre Herdy. Outros seis policiais que estiveram na operação que resultou na morte do menino também serão chamados.

Procurada, a defesa do PM Rafael não atendeu às ligações do G1. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora, em nota, afirmou que o policial segue à disposição da corporação.

Um protesto em homenagem a Eduardo está marcado para as 9h deste sábado (2), com uma caminhada até o local onde o menino de 10 anos morreu. Às 14h, será exibido no cinema do Alemão, na Nova Brasília, o documentário ” O outro lado do cartão postal”, que relata a visão dos moradores sobre as mortes de Elizabeth e Eduardo e a violência na região.

Morte de Elizabeth
Um dia antes da morte de Eduardo, uma tragédia semelhante atingiu a família de Elizabeth Alves de Moura Francisco, de 41 anos. Ela morreu dentro de casa, no Complexo do Alemão, vítima de uma bala disparada durante confronto entre traficantes e policiais durante uma operação na comunidade.

Parentes disseram que os PMs agiram de forma descuidada após a confirmação de que Elizabeth teria sido atingida.

“O sentimento que fica é de negligência, trabalho mal feito. Um vizinho viu uma reportagem onde o policial não olhava nem para onde tava dando tiro, ele colocava a cara e dava tiro. Segundo testemunhas da 45ª DP, ele viu alguém subindo pra cima da laje e minha casa fica a um metro e meio para baixo da rua. A verdade é que ele nem viu. Não foi uma autoridade, minha esposa estava deitada no chão e o meu filho falou que o policial desceu e disse assim ‘corre ai gente, arruma um carro particular para levar ela para o hospital’. A pessoa não tava preparada”, disse o marido de Elizabeth, Carlos Roberto Francisco, de 59 anos, na época.

Um grupo de investigação segue trabalhando no caso de Elizabeth na Divisão de Homicídios da Capital, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste.

Depoimentos do Policial
Dois policiais da UPP do Alemão, Marcus Vinicius Nogueira Bevitori e Rafael de Freitas Monteiro Rodrigues, eram os policiais mais próximos de Eduardo no momento dos disparos. Rafael afirma que, por volta das 16h30, foi chamado para ir junto com o Batalhão de Choque para um local um pouco mais acima do largo do Ping-Pong, onde Eduardo morava e acabou morrendo naquele dia.

Enquanto estava na localidade com o policial Marcus Vinicius Nogueira Belvitori, Rafael teria avistado um criminoso a cerca de 40 metros de distância, junto com outro que posuía uma pistola e uma sacola de plástico.

Ele descreve os dois: um com uma camiseta verde limão, bermuda escura e cor de pele morena escura, e o outro negro, com bermuda escura e magro. Rafael afirma que disparou dois tiros em direção a um dos suspeitos, e Belvitori o teria puxado logo depois, achando que o colega teria sido baleado.

Belvitori teria atirado na direção dos suspeitos, e ambos ouviram oito tiros, que segundo Rafael teriam sido disparados pelos suspeitos. Em seguida, segundo eles, eles teriam ouvido uma mulher gritando que haviam matado o irmão dela.

Do G1

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