Eu era casado com Cecília Macdowell, e – num período em que havia decidido largar tudo que não me dava entusiasmo – fomos morar em Londres. Vivíamos no segundo andar de um pequeno apartamento em Palace Street, e tínhamos muita dificuldade em fazer amigos.
Toda noite, porém, um casal jovem, saindo do pub ao lado, passava diante de nossa janela e acenava, gritando, para que descêssemos.
Eu ficava preocupadíssimo com os vizinhos; jamais descia, fingindo que não era comigo. Mas o casal repetia sempre a gritaria, mesmo quando ninguém estava na janela.
Certa noite desci e reclamei do barulho. Na mesma hora, o riso dos dois transformou-se em tristeza; pediram desculpas, e foram embora.
Então, naquela noite me dei conta que, embora buscasse amigos, estava mais preocupado com “o que os vizinhos vão dizer”.
Resolvi que na próxima vez eu os convidaria para subir e beber algo conosco. Fiquei uma semana inteira na janela, na hora que costumavam passar, mas não apareceram. Passei a frequentar o pub, na esperança de vê-los, mas o dono não os conhecia.
Coloquei um cartaz na janela, escrito “chamem novamente”. Tudo que consegui foi que um bando de bêbados, certa noite, começou a gritar todos os palavrões possíveis, e a vizinha – com quem eu tanto me preocupara – terminasse reclamando com o proprietário.
Nunca mais os vi. E desde então prometi a mim mesmo que, se encontrar estranhos dispostos a conversar, estarei sempre disponível.