Ex-governador da Bahia Jaques Wagner
A dupla gestão de Jaques Wagner no governo baiano imprimiu como uma de suas marcas no cenário político o que os adversários chamavam, com alguma frequência, de aumento do desprestígio do Estado frente ao governo federal. A Bahia, que, ao longo da história, chegou a indicar pelo menos três ministros em média nos governos centrais, passou a se contentar com um ou mesmo nenhum representante no primeiro escalão em Brasília durante os últimos oito anos. Enquanto governador, Wagner se defendia dizendo que preferia não fazer um, dois ou três ministros.
Achava mais apropriado, pelo contrário, se relacionar com todos eles, podendo recorrer a quem quisesse quando a necessidade se impunha. Quem conhece como a política funciona, principalmente sob o modelo do presidencialismo de coalizão, sabe que o argumento do então governador não passava de uma figura de retórica muito bem empregada, reveladora, aliás, sem dúvida alguma, de uma de suas mais consagradas habilidades. O discurso competentemente utilizado, entretanto, nunca conseguiu encobrir os fatos, que, com o tempo, foram ficando cada vez mais claros.
Na prática, a ausência de pressão do governo baiano sobre os primeiros mandatários petistas em Brasília – tanto Lula, no passado, quanto Dilma Rouseff, nos últimos quatro anos – foram criando um caldo de cultura nefasto no plano da política brasiliense segundo o qual a Bahia não seria merecedora de espaços importantes no cenário político-administrativo nacional. O exemplo mais recente do pouco caso com que o Estado vem sendo tratado, a despeito de ser o quarto em população e das votações decisivas que deu aos presidentes petistas, é o da perda do controle da Codevasf.
A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, que estava há pelo menos cinco anos sob o comando de um baiano, Elmo Vaz, indicado do próprio Wagner, acaba de passar às mãos do vizinho Piauí, um Estado muito menor e menos representativo politicamente que a Bahia, por intermédio do PP de Ciro Nogueira. Não foi por falta de aviso que a perda ocorreu. Há pelo menos um mês intensificaram-se as especulações, primeiro, de que Vaz corria perigo e, depois, que a Bahia poderia perder a Companhia sem que se tivesse notícia de qualquer movimento de resistência.
Se, invocando a condição de ex-governador que conseguiu eleger Rui Costa seu sucessor e garantir uma votação expressiva a Dilma na última campanha no Estado, Wagner manifestou-se em Brasília, foi a portas fechadas e sem que ninguém tomasse conhecimento de seu protesto. Conhecendo seu estilo, no entanto, é mais plausível deduzir que, pensando no momento difícil porque passa a “amiga” Dilma, o ministro da Defesa tenha abdicado de criar-lhe qualquer constrangimento, mesmo em prejuízo do Estado. Eis aí um modelo que Rui Costa, tão diferente de Wagner sob tantos aspectos, não pode nem pensar em repetir.
* Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia
Raul Monteiro*
Fonte: Política Livre