Quem disse que para ser um bom psicanalista tem que se ter uma linguagem “impostada, rebuscada” e repleta de citações de escritores da área? O que temos que ter basicamente são três coisas: Interesse; conhecimento do assunto e dois ouvidos e dois olhos bem abertos. Além de uma boca fechada o máximo de tempo possível.
Há uma ânsia compulsiva por “falar” em cada paciente que nos procura e essa ânsia, precisa ser observada sob todos os aspectos possíveis, pois nem sempre se manifestará através da linguagem oral. Há inúmeras multilinguagens e/ou sub-linguagens pelas quais a alma aflita e prisioneira das neuroses que a sufocam, se comunica, sem que nem mesmo o paciente se dê conta disso. Somos seus espelhos através dos quais eles se vêem como jamais se viram antes. O processo pode ser demorado, longo mesmo, contestador, doloroso e sofrido. Mas, ao final se revelará compensador ao contemplarmos um ser humano capaz de não apenas se conhecer, mas também se aceitar, assumir suas limitações e aprender que depende exclusivamente de si lidar com seus desafios emocionais limitadores interiores e se refazer enquanto pessoa. Ver um ex-paciente que decidiu SER, viver, aprender, crescer…
Cumpre ao profissional aprender a “ouvir” não só com os ouvidos, mas também por meio de uma observação ampla e perspicaz, o que de fato perpassa a alma do paciente. E ler, ler muito sobre o que for observado no paciente, se possível participar de grupos de discussão sem jamais quebrar o protocolo ético de preservar a confidencialidade da relação com seu paciente, até chegar a um caminho possível de resgate do ser de dentro das auto-prisões da alma, quais cárceres emocionais arcaicos persistentes ainda vivos e presentes na idade adulta.
Freud nos indicou o caminho, o “por aonde ir, mas o modo de caminhar, transitar neste caminho, será sempre único e exclusivo para cada profissional. E desde que este não se perca no caminho, tomando algum atalho “místico- filosófico-achista”, que contradiga a base primária da teoria psicanalítica e da práxis analítica, as demais adequações a cada caso serão legitimadas se ao final se obtiver o êxito no tratamento. Afirmo isso poque apesar de minha base de formação ser originalmente ortodoxa (SPOB), admito que uma visão heterodoxa é bem mais aplicável e resulta em melhor aproveitamento na maioria dos casos.
Autor: Teobaldo Pedro de Jesus.