No final dos anos 40, a cidade de Salvador se ressentia da falta de um estádio a altura do futebol que rapidamente se desenvolvia com o crescimento de clubes como Bahia, Vitória, Galícia, Botafogo, Guarany e Ypiranga, entre outros.
Projetado para ser utilizado na Copa de 1950, só em 28 de janeiro de 1951, o governador Octávio Mangabeira entregou aos baianos o estádio que levaria seu nome na fachada, mas que o povo consagrou como Fonte Nova. Botafogo e Guarany, times baianos, fizeram o jogo inaugural, que terminou com a vitória botafoguense por 1 x 0. O gol histórico foi marcado pelo atacante Antonio.
Nos anos 70, durante o torneio de inauguração do segundo anel de arquibancadas – atualmente são três –, o estouro de um refletor quase provoca uma tragédia monumental ao instalar o pânico entre os mais de 90 mil torcedores, provocando pisoteamento e mortes que nunca foram contabilizadas.
Em 29 de agosto de 2010, a antiga Fonte Nova foi para o chão, implodida. Interditado desde 2007, quando o desabamento de parte da arquibancada matou sete pessoas durante a partida entre Bahia e Vila Nova-GO, pela série C do campeonato brasileiro, o estádio foi reconstruído. Foram necessários três anos, durante os quais foram gastos R$ 689 milhões na parceria público privado (PPP) entre o governo estadual e as construtoras OAS e Odebrecht.
Para atender ao padrão FIFA, sua capacidade encolheu para 55 mil lugares, distante do recorde imbatível alcançado na semifinal do campeonato brasileiro da série A, entre Bahia e Fluminense do Rio de Janeiro, em 1988, quando passaram pelas bilheterias 110 438 pagantes, o maior público da história do futebol baiano.
O gramado foi reduzido de 110 x 75 para 105 x 68 metros, medidas exigidas em competições internacionais. O estacionamento, com vagas numeradas, atende 842 lugares. Decisão que provoca controvérsias e questionamentos, dentro da nova realidade do futebol como negócio – soccer is business –, uma empresa adquiriu os direitos de colocar seu nome – naming rigth, em inglês – no novo equipamento, sendo rebatizado para Itaipava Arena Fonte Nova, excluindo o nome de batismo original. A reação da corrente tradicionalista foi instantânea, mas inócua e o Governo se apressou para anunciar que no complexo esportivo que será construído no entorno do estádio o nome de Octávio Mangabeira será preservado.
Impressões
No mínimo, a Nova Arena Fonte Nova é um colosso espetacular que atende às necessidades dos mais exigentes. É, com certeza, digna dos reis do futebol, mas distante do plebeu que, por razões financeiras, terá o seu acesso aos jogos dificultado. Urgentemente, os cartolas que dirigem o futebol precisam resolver a seguinte equação: se o futebol é o esporte mais popular do mundo, por que o homem comum não pode assisti-lo?
Bem diferente da Fonte Nova do início de 1984 quando a delegação do Clube Social Barro Vermelho, de Juazeiro-BA, fez história ao jogar amistosamente contra o E. C. Vitória. Eu, que fazia parte daquele grupo, não pude deixar de fazer a comparação e me emocionar. Exceto pela localização, tudo é diferente. O conforto dos vestiários, a zona mista para contato da imprensa com jogadores, a posição dos confortáveis bancos, a cobertura de material flexível, o gramado tratado a laser, a extinção dos cantos cegos provocados pelas antigas colunas de sustentação, os novos banheiros e lanchonetes, as cadeiras numeradas individualmente e os luxuosos camarotes com telões de LED, bebidas e variados quitutes, coloca a Bahia no mapa dos grandes equipamentos esportivos mundiais.
No meio da visita, uma cena hilária: o esforço para fazer os olhos enxergarem todas as novidades custou-me caro: tropecei espetacularmente desabando no piso da nova arena, para delírio dos companheiros. Que mico! Mas tudo bem foi só um susto e o passeio continuou ciceroneado pelo gentil Ricardo, voluntário da Secopa.
Por minha cabeça, ainda trafegava a incômoda e frustrante possibilidade de, como o ambulante de caldo de cana, ficar expurgado do sonho de assistir a um jogo da Copa, já que até o momento em que escrevo esse texto, não tenhamos recebido a permissão para o credenciamento.
Assim, ainda não saibamos se vamos estar do lado de dentro quando Nigéria e Uruguai, na quinta-feira, e Itália e Brasil, no sábado, entrarem em campo. A título de consolação, o retorno àquele espaço me fez voltar no tempo e reviver alegrias adormecidas.
De forma figurada, posso dizer que nesta terça-feira, 18 de junho, começou para mim o verdadeiro projeto ‘Chuteiras Fora de Foco’, com a visita à nova Arena Fonte Nova. Se vamos ou não ter acesso aos jogos, não sei. Por isso, por enquanto só posso dizer que “o importante é que emoções eu vivi”.
Números
Custo da obra: R$ 689 milhões
Capacidade: 48 747 lugares mais 5 mil provisórios
Estacionamento: 842 vagas
Construtores: PPP com a OAS e Odebrecht, cuja concessão tem prazo de 35 anos.
Projeto arquitetônico: Setepla Tecnometal e Schulitz+Partner
Tempo da construção: 3 anos
Gramado: 105 x 68 m
Recordes: em 1988, Bahia 2 x 1 Fluminense-RJ, levaram ao estádio 110 438; 21 de dezembro de 2003 show de Ivete Sangalo com 80 mil pessoas.
Três partidas da Copa das Confederações serão realizadas: Nigéria x Uruguai, Itália x Brasil e a disputa pelo terceiro lugar da copa.
Por Carlos Humberto
Artigo sobre a Fonte Nova – Carlos Humberto – Projeto Chuteiras Fora de Foco
[F] Alieny Silva