Fui convidado pela comunidade de Uruás para uma palestra sobre o projeto Pontal. Compareci. Houve mais de cem ouvintes. Todos muito atentos para a história que lhes contei. Falei sobre democracia. Uma definição boa para democracia é governo do povo e para o povo. Os partidos políticos, os embates políticos democráticos têm um objetivo que é melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Em tempos atrás, aquela comunidade sonhou e continua sonhando com áreas irrigadas. Isso gerou uma luta em favor da irrigação naquela região. Surgiu o projeto Pontal: Pontal Norte e Pontal Sul. Concluído o projeto, cerca de 8.000 hectares seriam irrigados. As manchas irrigáveis encontram-se mais na região de Uruás.
Há dez anos, esta ideia se concretizou num projeto concluído e executado. Foi executado o projeto Pontal Sul. Hoje, fui questionado naquela comunidade sobre por que não acontece a irrigação ali. O projeto nasceu no mesmo berço do Nilo Coelho e do Maria Tereza, áreas para familiares, áreas para empresários.
A chamada unidade familiar teria que contemplar, desde que preferencialmente, aqueles possuidores de terra. Eles venderam a terra por preços irrisórios para a Codevasf na expectativa de que para eles retornassem terras irrigadas. Esse foi o desenho do Pontal.
No andar da carruagem, mudaram todo o modelo de irrigação. Não contemplaria mais unidade familiar nem unidade empresarial, nem era mais projeto-irmão do Nilo Coelho, do Maria Tereza e do Salitre. Era uma inovação chamada Parceria Público-Privada (PPP). Essa inovação passou dez anos e está provado que foi uma ideia errada, porque não deslancha.
Então, eu chamei a atenção da comunidade, pois ela tem que lutar pelo projeto original, com unidades familiares (colonos) e empresariais. O projeto do Pontal Sul está pronto. O Governo tem que colocá-lo em andamento, em produção.
Está previsto também um canal de desvio para o Vira-Beiju. É uma obra cujo orçamento há tempos representaria um milhão de reais. Não é muito dinheiro. Sugeria um lago grande de piscicultura, lazer e um manancial de onde partiriam várias adutoras para a circunvizinhança. Isso chama-se uma conquista de vida com dignidade. O modelo novo tira o canal de desvio. Conclamei àquela comunidade para lutarmos fortemente pelo Pontal primitivo, que não tem PPP, que tem o desvio, que tem o lote familiar, que tem o lote empresarial.
Foi essa a mensagem que eu deixei no Uruás. O Uruás há muitos anos vive na adversidade própria do Semiárido e, nos últimos dez anos, não só vive vive na adversidade como na frustração de não ter aquilo que eles conquistaram, pois eles pediram, democraticamente, o projeto e o projeto foi feito, executado e há dez anos, eles vivem somente na esperança de que um dia esse projeto seja realidade.
A minha palavra para eles foi que fortalecessem a esperança de ter o Pontal antigo, que varressem a ideia de PPP. Com o PPP, nós estaríamos sendo área de experimento de coisas que não vão acontecer nunca. Devemos lutar determinadamente pelas nossas conquistas iniciais, fazer o Governo ver que PPP não é aceitável.
E eu, então, fiz um exercício democrático. Pedi que levantassem a mão quem queria o PPP, ninguém levantou a mão. Pedi que levantassem a mão quem queria o projeto antigo e todos ergueram suas mãos. Não há o que se discutir. Para todos esses procedimentos, é preciso ouvir as comunidades. Na Suíça, um projeto não é votado se uma comunidade antes não aprova. Esse PPP foi reprovado o tempo todo. Como é que tem gente insistindo em PPP, insistindo em não fazer o canal de derivação do Vira-
Beiju? Vamos intensificar as nossas lutas, vamos ter consciência da nossa responsabilidade perante os que querem prosperar. Aquela comunidade vive na carência e poderia viver na fartura. Vamos lutar pela fartura!
Osvaldo Coelho (DEM)
Foi Deputado Federal por oito legislaturas