Por Emaísa Lima
Considerado como o ‘Pai da Comunicação’, no Vale do São Francisco, o radialista, o defensor da cultura popular e dos vaqueiros, Carlos Augusto (74), faleceu na tarde da última quinta-feira (2), após sofrer uma parada cardíaca.
Vale o destaque de que ele já se apresentava debilitado, sofria de insuficiência renal e diabetes, e por diversas vezes foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e a sua última internação ocorreu na segunda-feira (30), em um hospital particular da cidade de Juazeiro.
O radialista, por ser muito conhecido em toda região, foi velado, por sua família, amigos, colegas de profissão e admiradores, na Câmara de Vereadores Plínio Amorim e sepultado na última sexta-feira (3), no Cemitério Campo das Flores, no centro da cidade.
Cerimônia Fúnebre
Foi com muita emoção que aconteceu o último adeus a Carlos Augusto, na tarde da última sexta-feira (3), já que os familiares, amigos e admiradores acompanharam a cerimônia que começou na Câmara de Vereadores e seguiu até o Cemitério Campo das Flores, zona central da cidade.
O cortejo foi acompanhado de perto por pessoas que seguiam a pé, de carro, moto e por muitos vaqueiros. Já os amigos que trabalharam e conviveram com o radialista, lembraram da importância do comunicador para a cultura do sertão.
Toda a cerimônia fúnebre do radialista fora acompanhada por várias autoridades políticas, todas da região, personalidades das cidades, admiradores, colegas de profissão.
Homenagens
O radialista, conhecido por todos, pela sua personalidade forte, alegria, jeito cativante, firme e decidido e pela doçura no olhar, levou consigo, durante todos os seus 40 anos de profissão, uma legião de admiradores, os quais deixaram as seguintes mensagens, em suas redes sociais:
“Recebo com tristeza a notícia da morte do radialista Carlos Augusto. Que Deus lhe dê o descanso eterno.” (Prefeito de Petrolina, Julio Lossio)
“Foi com profundo pesar que recebi a notícia do falecimento do amigo Carlos Augusto. Sem dúvida, Petrolina e o sertão perderam uma grande referência da área de comunicação e radialismo. Que Deus esteja ao lado da família, e os conforte neste momento de dor.” (deputado estadual Odacy Amorim, do PT-PE)
“Saudades de um grande amigo que nos deixou! Carlos Augusto pai da comunicação no Vale do São Francisco, adeus amigo, descanse em paz.” (Ger. de Programação e repórter do Programa Canal Aberto na empresa Rádio A Voz do São Francisco – Emissora Rural AM 730, Adenes Neves)
“Penso que essa imagem é a melhor definição do que realmente é essencial na vida: celebrar os bons momentos e valorizar o semelhante, pois nunca sabemos até quando o teremos entre nós. Carlos Augusto cumpriu a sua missão com brilho, dedicação e talento. Criou uma marca, fez escola e amigos e amou a sua terra como poucos. Que sua alma descanse em paz!!” (Jornalista José Menezes)
“O Vale perde um grande comunicador. Homem forte e determinado, que deixou sua marca no rádio sanfranciscano. Que sua família tenha força e perseverança na sua ausência” (Diretor-fundador do Diário da Região, Paganini Nobre Mota)
CARLOS AUGUSTO
*Fonte: Durvalina Coelho
Seu nome de batismo é Carlos Augusto Amariz Gomes. O pai, José Mariano Gomes, era funcionário público. Da estirpe de vaqueiros e do sangue espanhol da mãe, Joana Amariz Gomes herdou o gosto pelas coisas do sertão. É casado com Francisca Mousinho Gomes, que deu a ele quatro filhos: Marcelo Augusto, Rodrigo Luis, Maíra e Carla. Netos, por enquanto.
Carlos Augusto iniciou a vida de comunicador no Serviço de Auto Falantes Brasil Publicidade, de Manoel Alves Sibaldo, o “Menininho”, em Petrolina, isso lá pelos anos de 1962. Nunca mais largou o microfone.
Depois, ao lado do padre Mansueto de Lavor, a convite do bispo Dom Antonio Campelo de Aragão, fundou a Emissora Rural, “A Voz do São Francisco”. Alvorada Alegre, Forró no Balundeiro e Forró na Cuia Grande, foram alguns dos programas que apresentou na Emissora Rural.
Não demorou muito, topou outro desafio: implantar a Rádio Grande Rio, do Grupo Coelho. Na nova emissora, lançou o Forró do Povo, que logo virou um sucesso.
Fiel ao ditado “cobra que pode vive do seu veneno”, foi à luta e comprou seu espaço na emissora. Apesar de ser obrigado a pular da cama cedinho, para ir trabalhar na rádio, confessa que jamais se acostumou com isso: “Gosto de dormir até tarde”, afirma. Não é raro ele ser acordado cedinho, pelas duas ou três da manhã, por um telefonema de um ouvinte, pedindo para comunicar um nascimento, ou, mesmo, um falecimento, durante o programa. Atende a todos. “A vida e a morte são as maiores comunicações do rádio”, ensina.
Longe dos microfones, um de seus orgulhos é o título de tetracampeão da cidade, conquistado pelo América Futebol Clube, quando era presidente. Entre os anos 1989 a 1992, foi vice-prefeito de Petrolina, na gestão de Guilherme Coelho.
Amigo de Luiz Gonzaga, até hoje se emociona ao recordar um fato que considera inusitado, durante homenagem de Petrolina ao imortal “Rei do Baião”. Milhares de pessoas estavam nas ruas. Para lembrar a música “Asa Branca”, foi feita uma revoada de pombos. Emocionadas, as pessoas ergueram as mãos para o alto. Uma das pombinhas, em vez de voar para a liberdade, inventou de pousar justo na mão de Carlos Augusto. “Só de pensar, fico arrepiado”, confessa. Seriam ‘coisas’ do Luiz? Carlos não nega, também não descarta.
Em 1967, revitalizou a Festa do Vaqueiro, de Petrolina, que todos os anos reúne centenas de vaqueiros. No início da década de 1970, para chamar a atenção contra a matança indiscriminada que estava dizimando o jegue, animal símbolo do sertão, lançou em seu programa na Rádio Rural a ideia de se realizar uma corrida de jegues.
Obstinado, Carlos foi em frente e em 1972 realizou a 1ª Jecana, uma incrível “Gincana de Jegues”. Quando a imprensa do Recife, do Rio e de São Paulo elogiou a iniciativa, os críticos silenciaram.
Todos os anos, a Jecana atrai milhares de pessoas, da cidade e regiões vizinhas, para participar da festa. São três dias de uma divertida mistura de futebol, corrida de jegues e burros, desfile de animais a fantasia, comida sertaneja e muito, muito forró até a madrugada. A festa faz parte do calendário turístico da cidade.