O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirmou na tarde desta sexta-feira (26) que “não há a menor hipótese de uma sabotagem” na série de apagões verificadas no país. Segundo dados do governo, foram quatro ocorrências em pouco mais de um mês.
“Não há a menor hipótese de uma sabotagem. A hipótese seria viável se você provocasse dano do equipamento, vandalismo. O equipamento teve problema de proteção, e esse equipamento falhou. Então, não tem menor probabilidade”, afirmou o diretor em coletiva de imprensa após reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).
O comitê fez uma reunião extraordinária após o apagão que afetou os nove estados do Nordeste. Segundo o ONS, houve um incêndio em um equipamento entre duas subestações de energia de Colinas (TO) e Imperatriz (MA). No dia 22 de setembro houve falta de energia em seis estados da região Nordeste. No dia 3 de outubro, houve apagão nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. No dia seguinte, cerca de 70% do Distrito Federal ficou sem luz.
O governo sabe que houve um curto-circuito, mas ainda trabalha para identificar o que provocou a falha no sistema de proteção, que possibilitou que o apagão se alastrasse.
Durante a coletiva, o ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, voltou a dizer que a situação é inesperada, mas que é preciso aguardar relatório técnico antes de falar das possibilidades para a ocorrência do apagão.
Segundo ele, um grupo de técnicos do ministério, do ONS e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) foi enviado a Colinas para averiguar o problema. Houve um curto-circuito na linha de transmissão Colinas-Imperatriz.
Mais cedo, ele já tinha dito que os apagões em série “não são normais”. Perguntado se o ministério descartava a hipótese de sabotagem no sistema elétrico, Zimmermann foi evasivo:
“É preciso primeiro esperar relatório que vem da equipe e que o ONS termine [apuração prévia]. Centenas de profissionais estão trabalhando nisso. Por enquanto, não haveria sentido [falar em sabotagem]. Então, a partir do momento que tem avaliações, poderia falar. A única coisa que se pode dizer é que são adventos difíceis de ocorrer e que no sistema interligado nunca tivemos situação como essa.”
Em outro momento, o ministro disse que o governo trabalha para “aprofundar todas as alternativas”. “A partir do momento que tem evento probabilisticamente raro você trabalha para aprofundar todas as alternativas, mas isso de forma serena. Por isso que hoje, preocupado com essa ocorrência que é diferente, de probabilidade baixíssima, provavelmente zero, mandar equipe para aprofundar, com fiscalização da Aneel, justamente para ter avaliação rapidamente e evitar quaisquer avaliações diferentes”, disse.
Segundo o ministro, na próxima semana o ONS deve apresentar um relatório técnico sobre o episódio. A apuração mais aprofundada, fruto da verificação feita pelos técnicos do governo no local do incidente, não tem prazo para ser concluído.
O ministro interino, Márcio Zimmermann, está no cargo em razão de afastamento para tratamento de saúde do titular Edison Lobão. Zimmermann afirmou ter falado ao telefone com Lobão, e disse que o ministro manifestou preocupação com a situação. O interino garantiu ainda que a presidente Dilma Rousseff acompanha os desdobramentos dos apagões e as medidas para evitar novos problemas.
O ministro interino disse ainda que será feito um “pente-fino” em todo o sistema elétrico, para verificar se a manutenção está adequada para previnir novos apagões. Segundo ele, a verificação começou após a primeira falha e agora será ampliada.
“Quando tivemos, em outro evento, falha da proteção primária, se elaborou protocolo de manutenção. Esse protocolo é inédito em termos de Brasil e estamos começando então nas principais instalações esse tal pente-fino que estávamos programando. Vamos estender isso para todas as empresas transmissoras para justamente termos uma avaliação correta dos procedimentos que as empresas estão adotando e dos demais órgãos do setor elétrico.”
Márcio Zimmermann garantiu ainda que o país está atuando para resolver o problema e que o fornecimento de energia elétrica funcionará adequadamente na Copa do Mundo de 2014.
“Nós estamos com sistema perfeitamente no padrão internacional, que somos um dos melhores sistemas do mundo. Se tivemos uma sequência de eventos agora, estamos atuando para que isso seja logo resolvido. Em 2010, foi criado um grupo da Copa do Mundo para monitorar o nosso sistema. […] Tenho certeza que o Brasil vai ter uma excelente oportunidade de mostrar sua qualidade.”
‘Anormais’
Mais cedo, Márcio Zimmermann disse que os apagões em série registrados “não são normais” e que isso representou uma “diminuição” na confiabilidade do sistema elétrico brasileiro. O governo sempre defendeu a robustez do sistema interligado do país.
“Eventos como esse não são normais e a coincidência então é que é mais anormal ainda. É isso que está sendo avaliado. Estamos com equipe de técnicos que vão lá, da ONS, Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Estão se deslocando equipes do CMSE [Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico]”, afirmou Zimmermann ao chegar no ministério na manhã desta sexta.
Ele admitiu que a confiabilidade do sistema elétrico interligado está abalada. “O sistema elétrico brasileiro é um dos maiores sistemas de transmissão do mundo. Ele sempre trabalha com um nível de confiabilidade bom. E nós tivemos no último mês, nesses eventos, uma diminuição dessa confiabilidade que ainda não se tem as razões, sempre se inicia com equipamento falhando e a proteção primária não atuando e aí levando para a proteção secundária alternada e provocando eventos de grandes proporções. Isso que está sendo avaliado.”