O tradicional ovo de Páscoa entrou em decadência, pelo menos no que diz respeito às vendas em supermercados, onde estão presentes as líderes do segmento no País (Lacta, Nestlé e Garoto). A fatia dos ovos nas vendas do varejo alimentar no período que antecede à data vem caindo ano a ano, segundo a Nielsen. Em 2013, os ovos de Páscoa responderam por 16% do movimento da Páscoa em supermercados, contra 20% do ano anterior.
Enquanto isso, o consumidor busca opções mais baratas, como as caixas de bombom, que já são 40% das vendas de Páscoa nos supermercados. A tendência pode ser parcialmente explicada pelos preços. Entre 2012 e 2013, o valor médio do quilo do chocolate para ovo de Páscoa no varejo subiu 12,8%, para R$ 97, aponta a Nielsen. A empresa mostra que, em 2013, as vendas em volume de ovos de Páscoa tiveram queda de 10% em relação a 2012. Por causa dos preços mais altos, houve uma pequena alta, de 0,9%, em valores.
Segundo a consultoria Gouvêa de Souza – GS&MD, a tendência de alta de preços do produto deverá continuar neste ano, já que os custos das fabricantes atrelados ao dólar – como a manteiga de cacau e as embalagens – subiram entre 10% e 15%, segundo informações dos próprios fabricantes.
A Lacta, linha da multinacional Mondelez, que é líder em ovos de Páscoa nos supermercados, deverá elevar o preço do produto em cerca de 10% em relação a 2013, de acordo com o gerente de marketing da Mondelez Brasil, Maykon Vieira. Ele explica, porém, que o custo de fabricação e logística dos ovos é mais elevado e, por isso, difícil de ser comparado ao de bombons e tabletes. “A produção do ovo de Páscoa é mais artesanal e o transporte precisa ser refrigerado”, compara.
No caminho das grandes fabricantes há também a reticência do próprio varejo em estocar uma grande quantidade de ovos de Páscoa. “Para o supermercadista, o ovo vira um problema no dia seguinte à Páscoa, pois é um produto que encalha”, diz o sócio-diretor da GS&MD, Sergio Molinari. Embora os fabricantes prefiram “empurrar” os ovos, que têm um preço unitário muito superior, o especialista diz que, no raciocínio do comércio, é melhor investir nas caixas de bombom, que têm boa saída o ano todo.
Do ponto de vista do consumidor, diz Stephanie Biglia, analista de mercado da Nielsen, a caixa de bombom tende a ficar ainda mais atraente durante a Páscoa, quando o produto geralmente entra em promoção. “O produto é muito importante para Páscoa. As caixas de variedade concentram 40% das vendas no período”, explica a analista. Apesar do preço mais baixo, as fabricantes têm receio de perder participação de mercado – o que explica a disputa de preços.
Neste ano, porém, há ao menos um fator positivo que pode impulsionar as vendas de Páscoa: o fato de o feriado cair após 15 de abril. Segundo o executivo da Mondelez, o consumidor chegará à data menos “carregado” com gastos de início de ano. “Muita gente recebe adiantamento de salário no dia 15, o que deve ter um efeito positivo nas vendas.”
Chocolaterias. Enquanto as grandes fabricantes se esforçam para vender produtos de maior valor agregado, as chocolaterias ganham espaço. Levantamento da GS&MD com empresas do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) mostrou que o setor espera crescer, em média, 4,7% este ano. Nas redes de franquias, a expansão esperada é de 20%.
Para Molinari, da GS&MD, parte do consumo de ovo de Páscoa migrou dos supermercados para as chocolaterias. “Como essas redes vêm crescendo muito e estão nos shoppings, tornaram-se opções mais convenientes do que os supermercados”, diz o especialista. “O cliente pode fazer as contas e concluir que vale mais a pena comprar uma caixa de trufas bem embalada do que um ovo de Páscoa comum.”
É por isso que a previsão das chocolaterias para este ano é agressiva. O fundador da Cacau Show, Alexandre Costa, prevê abrir mais 90 lojas a tempo de aproveitar a principal data para seu negócio, para um total de 1.560 unidades.
A empresa prevê faturar R$ 570 milhões nesta Páscoa, com alta de 24% em relação ao ano passado. Entre as novidades vão figurar até parcerias com a fabricante de cristais Swarovski. Um ovo trará como brinde um pingente da marca. A parceria com a empresa deverá ser estendida para o Dia das Mães e o Dia dos Namorados.
Já o grupo CRM – que tem 330 lojas Kopenhagen e 470 da Brasil Cacau – terá novidades como uma linha com adição de bebidas alcoólicas como uísque Chivas, vinho do porto e licor Amarula, mas não quer pesar demais a mão no preço. A ideia é que o cliente não desanime e procure opções de presente mais baratas. “No ano passado, o mercado sentiu muito pois o preço do ovo de Páscoa estava muito mais caro que o do chocolate tradicional. Houve um boicote à Páscoa”, diz a vice-presidente executiva do CRM, Renata Moraes.
Estadão