Há quatro décadas e meia, milhares de pessoas rumam ao Agreste de Pernambuco, durante a Semana Santa, para assistir ao espetáculo “Paixão de Cristo”, encenada na cidade cenográfica de Nova Jerusalém, no Brejo da Madre de Deus, distante 180 Km do Recife. Gente de todas as religiões e cantos do mundo experimenta uma viagem no tempo ao pisar no chão árido rodeado de paisagens rochosas e cenários bíblicos, que contam a história dos últimos momentos de Jesus Cristo. A 45° temporada começou na sexta-feira (30), recheada de novidades, e segue até o dia 7 de abril.
Patrimônio material e imaterial de Pernambuco, o maior espetáculo ao ar livre do mundo se espalha por um terreno de 100 mil metros quadrados, cercado por muralhas, onde estão nove palcos-teatro. O local tenta retratar a Galiléia, na Judéia, dos tempos de Cristo. Quinhentos e cinquenta atores e figurantes relembram o Sermão da Montanha, os debates no Templo de Jerusalém, a ceia no Cenáculo, a prisão de Cristo no Horto, o bacanal no Palácio de Herodes, a sentença no Fórum Romano, a Via Sacra, o Calvário e, por fim, o Sepulcro, a câmara mortuária de onde o filho de Deus saiu para ressuscitar.
Entre os cenários, o público se locomove a pé, mas ninguém reclama. Na verdade, a sensação é de acompanhar os passos de Jesus. Este ano, a peça deve atrair 15 mil pessoas por dia – ao todo, cerca de três milhões já viram a montagem. E para que ela funcione como planejado pelo idealizador Plínio Pacheco, no final dos anos 1960, 400 profissionais formam equipes de som, luz, maquiagem, penteados, contra-regra, figurino, hospedagem, alimentação, atendimento médico, segurança, administração, produção e coordenação.
Novidades
Após dez temporadas, a peça volta a ter um Jesus pernambucano, vivido pelo ator Zé Barbosa. Ano passado, o protagonista foi o ator Thiago Lacerda. “O bacana é que quem é daqui já tem a cultura desse espetáculo na veia, pois ouve falar dele desde pequeno, mas isso não faz com que o nosso trabalho seja melhor. O importante é se dedicar ao papel”, disse o artista. Complementam o elenco Caco Ciocler (Judas), Mohammed Harfouch (Herodes), Ellen Rocche (Herodíades), Larissa Maciel (Maria), Wilma Gomes (Madalena) e Ricardo Neves (Pilatos).
O produtor executivo e coordenador geral da Paixão de Cristo, Robinson Pacheco, aponta mudanças significativas na cidade-teatro. Uma nova entrada foi construída bem ao lado das bilheterias – não é mais necessário o deslocamento pela estrada lateral. Ao entrar, o público vai encontrar uma alameda, toda pavimentada, e circular em meio aos jardins pela Via dos Profetas, ladeada por legionários romanos e homens da Galiléia. O caminho leva ao palco da primeira cena da peça. “Esse novo espaço vai proporcionar às pessoas uma espécie de viagem ao túnel do tempo, além de dar mais visibilidade à Pousada da Paixão. Fizemos uma pesquisa e só 1% dos visitantes conheciam o local”, disse.
O sistema de iluminação cênica e de som também trazem novidades. Foram investidos R$ 300 mil na contratação do light designer Vagner Freire, radicado em São Paulo e conhecido por trabalhar com iluminação de grandes encenações. “Ainda não vi como está, pois fico muito ansioso durante os ensaios”, brincou Robinson Pacheco. E mesas de som sem fio foram instaladas para que cada palco-teatro se interligue com mais eficiência a um computador central, dando mais veracidade às falas interpretadas pelos atores.
Outra renovação ocorreu no guarda-roupa, formado por 800 peças e seus respectivos adereços. “Nós repaginamos as roupas, que agora estão mais escuras, para contrastarem melhor com os cenários”, disse Marina Pacheco, 20 anos, que agora assume o figurino no lugar da tia Xuruca Pacheco. Por fim, novos efeitos especiais foram introduzidos, como a queda de blocos rochosos e a árvore na qual Judas se enforcou durante um terremoto na morte de Cristo, além caracterizações nas cenas com demônios e os momentos de flagelação e da coroação com espinhos. Todos essas mudanças custaram cerca de R$ 5 milhões e prometem dar mais realidade às cenas.
Para portadores de necessidades especiais, a Sociedade Teatral de Fazenda Nova fez uma parceira com o Centro de Estudos Inclusivos da UFPE e agência Publikimagem para oferecer ao público com deficiência visual o sistema de audiodescrição. A novidade este ano é que também ocorrerá a descrição de todo o espetáculo por meio da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), favorencendo quem tem alguma deficiência auditiva.
Como ir
Quem sai do Recife de carro ou de ônibus tem duas opções: BR-232 e PE-90. Para quem vem de outros estados, há as BRs 316, 116, 304, 101, 235, 110 e 104. Os ingressos estão à venda no estande da Paixão de Cristo, localizado no 1° andar do Shopping Center Recife, próximo aos cinemas. Nas bilheterias da cidade-teatro e no escritório de Nova Jerusaláem, pelo telefone (81) 3732.1129, fax (81) 3732 1180, e-mail, além da venda online. O preço varia de R$ 30 a 90, dependendo do dia. Os portões abrem ao público às 16h. O espetáculo começa às 18h e dura, aproximadamente, duas horas.