Foi uma visita arrebatadora.
O Papa endereçou mensagens pontuais a diferentes segmentos da sociedade ao longo de toda a Jornada Mundial da Juventude.
Instigou os jovens a irem para as ruas e “fazerem confusão”, em defesa dos espaços que precisam ser ocupados por eles na sociedade.
“Sejam revolucionários. Tenham a coragem de seguir contra a corrente. De serem felizes”.
No dia dos avós, abençoou os mais velhos e criticou a exclusão a que são submetidos.
Na favela de Varginha, lembrou da generosidade de quem é pobre quando se põe “mais água no feijão”.
Em Copacabana, fez uso de outra expressão idiomática tupiniquim ao recomendar que se “bote fé, bote esperança e bote amor!”.
No Theatro Municipal, defendeu a reabilitação da política, considerada por ele uma das formas mais altas de caridade, e o diálogo permanente entre as partes conflitantes: “Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo”.
No Sumaré, criticou o “clericalismo” e convidou o corpo da Igreja a sair da zona de conforto em favor dos necessitados e ir para as ruas.
Em resumo: o Papa disse a que veio e marcou novas e importantes posições em seu recém-inaugurado pontificado.
Revelou-se um pastor antenado com as demandas de seu tempo.
Mas para um Papa chamado “Francisco”, inspirado no poverello de Assis – o padroeiro da Ecologia – esta teria sido uma ótima oportunidade de mencionar em algum momento da Jornada a maior crise ambiental da História da Humanidade.
Não apenas por este ser um assunto de interesse da maioria dos jovens, mas principalmente pelo fato de que esta crise afeta diretamente os mais pobres.
São os pobres, miseráveis e excluídos os que mais sentirão os efeitos da escassez de água doce e limpa, da desertificação do solo, das mudanças climáticas e seus efeitos devastadores (eventos extremos, elevação do nível do mar, mudança do ciclo das chuvas, etc).
De forma indireta, o Papa defendeu questões caras ao ambientalismo quando condenou o consumismo, a cultura do descartável e do perecível, escolheu carros mais simples como meio de transporte, recebeu índios no palco do Theatro Municipal e, num gesto de simpatia, até trocou o solidéu por um cocar.
Mas, para o primeiro Papa Francisco da História da Igreja, é enorme a expectativa de que a sustentabilidade passe a estar presente de forma direta no discurso, fecundando a palavra que orienta e esclarece multidões.
Único país do mundo com nome de árvore, potência megabiodiversa, o Brasil seria o lugar ideal para que em algumas palavras, Francisco relembrasse o quanto a espécie humana depende visceralmente de um meio ambiente saudável e resiliente.
O sistema condenado pelo Papa é aquele que discrimina os mais jovens, os mais velhos e os índios, e exclui os que não têm dinheiro. Trata-se do mesmo sistema que dilapida os recursos naturais como se não houvesse amanhã, arruinando o nosso futuro comum.
Uma coisa está relacionada à outra.
Francisco tem um pontificado inteiro pela frente para a operação-desmonte desse sistema. Que aquele que lhe empresta o nome o abençoe e proteja.
por André Trigueiro