Enquanto o Brasil ocupa o oitavo lugar com o maior número de adultos analfabetos, crianças mostram a importância de se manter o bom hábito
Por Jacqueline Santos
Gustavo Henrique Cavalcante tem 12 anos e é um garoto comum, joga videogame, pratica esportes, brinca com os amigos na rua, vai à escola e lê muito. Mesmo antes de ser alfabetizado Gustavo já mantinha uma relação muito próxima com os livros e hoje ele tem em sua lista de livros lidos cerca de 245 obras. Sua irmã, Râmia Maria Cavalcante, de 10 anos, segue os mesmos passos e já leu 80 livros.
Filhos do agrônomo José Uilson Chaves e da professora Raquel Cavalcante, Gustavo e Râmia foram incentivados desde muito cedo à leitura. De acordo com o pai uma preocupação da família em criar esse hábito nos filhos. O apoio veio de toda a família, principalmente quando os presentes passaram a ser livros.
“Nós começamos a ler livros para eles mesmo antes de serem alfabetizados. Muita vezes, eles pegavam os livros e iam criando uma história a partir das figuras. Nós começamos a pedir que eles lessem livros para nós e aí foram criando esse hábito. Nós fazíamos um acordo, eles liam durante a semana e aos fins de semana fazíamos outras atividades, quando a gente chegava do trabalho eles nos contavam sobre o que tinham lido”, explicou o agrônomo.
Mas nem todas as crianças são assim. De acordo com o estudo “Retratos da Leitura no Brasil”, realizado em 2012 pelo Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê em média quatro livros por ano e apenas metade da população pode ser considerada leitora. A pesquisa, que foi realizada entre junho e julho de 2011 e entrevistou mais de cinco mil pessoas em 315 municípios, constatou ainda que os estudantes leem apenas 1,2 livros por iniciativa própria, divididos entre literatura (0,47), Bíblia (0,15), livros religiosos (0,11) e outros gêneros (0,47).
O Brasil ocupa o oitavo lugar com o maior número de adultos analfabetos, foi o que mostrou um relatório divulgado no fim de janeiro de 2014 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Ao todo, o estudo avaliou a situação de 150 países. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou, através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2012, divulgada em setembro de 2013, que o índice de analfabetismo de brasileiros de 15 anos ou mais é de 8,7%, o que corresponde a 13,2 milhões de analfabetos no país.
Dados como esses mostram quão falha e, muitas vezes, ausente, é a educação infantil no Brasil. Em um país que possui índices como esses, fazer com que as crianças tomem gosto pela leitura é uma tarefa realmente difícil de cumprir, mas os pais podem ajudar nessa batalha. De acordo com a pedagoga Maria das Chagas a leitura ajuda no desenvolvimento cognitivo e afetivo, além de aumentar o conhecimento de mundo da criança. “A criança que lê tem a sua ideia de mundo e consegue desenvolver a sua capacidade crítica e opinativa a respeito da sua vivência. Sem leitura todas as pessoas desenvolvem uma certa limitação na oralidade e escrita”, explicou.
A pedagoga ressalta ainda que o incentivo dos pais é o melhor caminho para que uma criança se torne leitora. “Se o pai mostra que o livro é importante e se ele lê junto com o seu filho ele oferece o exemplo, porque não adianta só mandar ler. É necessário que os pais acompanhem, estejam juntos no hábito da leitura”, completou.
De acordo com a pedagoga os livros específicos para o público infantil são de grande importância, mas quando se está iniciando qualquer material vai gerar interesse e curiosidade da criança. Posteriormente as próprias crianças vão escolher os seus livros e desenvolver o seu gosto literário. “No início, as crianças gostam de ler até rótulos, cartazes e revistas dos pais”, ressaltou.
Para Gustavo e Râmia o incentivo dos pais foi muito importante para desenvolver um gosto que agora é alimentado por eles próprios. Para Gustavo os melhores livros são os de aventura e ação, já Râmia prefere livros que tratam do cotidiano das pessoas e que narram histórias mais tranquilas. Porém os jovens leitores percebem que qualquer tipo de leitura os trazem uma melhor capacidade intelectual. “O nosso hábito de ler faz com que a gente interaja mais dentro e fora da escola, assimilamos melhor o conteúdo das aulas, nos expressamos melhor e escrevemos melhor também”, explica Râmia.
Entre uma leitura e outra os irmãos refletem sobre o que farão no futuro, e entre dúvidas e desejos, Gustavo confessa que está em dúvida entre a medicina, a engenharia e o direito, já Râmia afirma que será médica. Ambos também consideram a ideia de escrever um livro, coisa que Gustavo já começou a rabiscar aos quatro anos de idade.