Policiais federais da Delegacia de Defesa Institucional (Delinst) prenderam na última sexta-feira (3) a última pessoa condenada na Operação Bisturi, deflagrada em dezembro de 2003. A operação desarticulou uma quadrilha de traficantes de pessoas, que eram aliciadas em Pernambuco para passarem por cirurgia de retirada de órgãos humanos (rins) na África do Sul. Eldênia de Souza Cavalcanti, de 63 anos, estava em casa no momento da prisão, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, e não apresentou resistência à voz de prisão. Na época das condenações, a suspeita auxiliava seu marido, Ivan Bonifácio da Silva, um oficial reformado da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE). Na ausência dele, acompanhava os futuros vendedores de rins aos laboratórios para realizarem os exames, providenciava os passaportes junto à Polícia Federal e chegava a ir com os aliciados até o embarque no aeroporto. Eldênia foi presa em 2003, condenada por comprar ou vender órgãos ou partes do corpo humano continuadamente e formação de quadrilha, mas recorreu à sentença e ficou aguardando em liberdade. A acusada foi levada para a Penitenciária Feminina de Abreu e Lima, onde ficará à disposição da Justiça Federal.
ENTENDA O CASO – A operação Bisturi começou em março de 2003 e teve uma duração de nove meses. Os integrantes da quadrilha aliciavam pessoas em situação financeira difícil e levavam elas para realizar operações na África do Sul. Neste país, aplicavam um golpe no sistema de saúde, que indenizava cada paciente de cirurgias em um valor de US$ 150 mil.
No entanto, as pessoas que se submetiam a tais transplantes precisavam assinar um termo em que diziam que o paciente que receberia a doação era seu parente. Com o valor indenizatório em mãos, o grupo entregava uma parte pequena para o transplantado e dividia o restante entre os integrantes da quadrilha. Na capital pernambucana, o esquema era comandado por Ivan Bonifácio e sua esposa Eldênia.
Também foram presos José Silvio Bordoux, condenado a sete anos e quatro meses de reclusão, um capitão médico da Polícia Militar que utilizava seu consultório para emitir as solicitações de exames. Gedalya Tuber era responsável por trazer o dinheiro para cooptar as pessoas para realização das cirurgias e foi condenado a 11 anos e nove meses de reclusão. Depois de receber um aval da Vara de Execuções Penais de PE para realizar uma viagem em janeiro de 2009, não retornou e encontra-se foragido.
No total, foram presas e condenadas 12 pessoas no Brasil, duas em Israel e 20 na África do Sul. Ao menos 47 pessoas foram aliciadas. A Polícia Federal estima que, aproximadamente, $ 4 milhões de dólares foram desviados pela quadrilha nas intervenções cirúrgicas.