O Vale do São Francisco, um dos maiores polos de fruticultura do país, tem sofrido forte ameaça com o aumento da população de mosca-das-frutas. O atual nível de infestação é considerado bastante preocupante e, se não for contido, pode provocar um sério abalo na produção de frutas como manga, uva, goiaba e acerola e, consequentemente, na economia da região.
Os produtores, que são os principais interessados na eliminação da praga, são também os mais importantes agentes para evitar que ela se prolifere. E para que eles tenham as informações necessárias sobre as ações e cuidados que devem ter, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), juntamente com outros órgãos e instituições, está promovendo uma série de dias de campo sobre o tema, realizados entre as cidades de Petrolina (PE), Juazeiro (BA) e Casa Nova (BA).
Em cada encontro com os agricultores e técnicos são levadas informações sobre a biologia e o comportamento das pragas, para que se encontre as melhores alternativas de como agir. O técnico agrícola Alexsandro Bruno Alves, gerente de uma fazenda de uva no Núcleo 9 do Projeto de Irrigação Nilo Coelho, destaca a importância dessa iniciativa: “Para seguir na guerra, você tem que realmente conhecer o inimigo em todos os seus passos”.
A pesquisadora Beatriz Aguiar Jordão Paranhos, da Embrapa Semiárido, explica que no Vale a temperatura média anual, em torno dos 26ºC, é propícia para a proliferação desses insetos, que vivem em uma variação de 25º a até 35ºC. Além disso, como a região produz uma grande variedade de frutas que são atacadas pela mosca, e elas frutificam durante todas as épocas do ano, a praga nunca interrompe seu ciclo, pois sempre encontra hospedeiros para colocar seus ovos.
Por essa razão – alerta ela – é tão importante conscientizar os produtores das mais variadas frutas, para que todos estejam envolvidos nessas ações. “A única solução para controlar a mosca aqui no Vale é todo mundo fazer monitoramento e cada um cuidar do seu pomar. Se um não cuidar vai prejudicar o outro”, afirma.
Técnicas – O monitoramento é a primeira atitude a ser tomada, e é feito através de armadilhas, facilmente encontradas no mercado local ou que podem ser adaptadas pelos próprios produtores. Elas atraem os insetos adultos, permitindo a detecção da presença de moscas no pomar. Quando a quantidade média de moscas por armadilha e por dia (índice MAD) for superior a 0,25, é hora de começar a adotar mais seriamente as medidas de controle.
A mais importante delas é o controle cultural, que consiste em não deixar frutos caídos no solo, pois isso permite a continuidade do ciclo de vida da mosca. O ideal é que essa medida seja adotada continuamente, independente do nível de infestação da área. Conforme as orientações do técnico da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), Josué de Brito, os frutos abandonados devem ser recolhidos e descartados em valas profundas, ou triturados para serem usados em compostagem ou na alimentação animal.
Essas últimas opções, segundo ele, são mais interessantes já que, além de eliminar as larvas da mosca no processo de trituração, sua utilização também dá retorno para o produtor. Existem ainda outras boas alternativas, como a criação de galinha de angola na área logo após a colheita, pois elas retiram do solo as pupas das moscas.
Além disso, os produtores contam também com a possibilidade de aplicação de inseticidas, como os formulados com o princípio ativo espinosade, que possuem registro provisório para a maior parte das fruteiras cultivadas na região, ou com o etofenproxi, registrado para a cultura da mangueira.
Existem ainda outras opções de controle, mas de acesso mais restrito, como a Técnica do Inseto Estéril (TIE), que consiste na liberação em campo de insetos criados em escala industrial e esterilizados, que copulam com as fêmeas selvagens mas estas não geram descendentes. Ou ainda o controle com diferentes organismos biológicos, como entomopatógenos e parasitoides, que devem ser multiplicados e liberados em campo semanalmente.
Perdas – Beatriz Paranhos alerta que o prejuízo mais direto da infestação da mosca é na própria fruta, pois as larvas se alimentam da polpa e provocam o seu apodrecimento, ficando inviável tanto para a comercialização in natura quando para a agroindústria. No entanto, há ainda o prejuízo indireto com as barreiras quarentenárias, que envolve a perda de mercado externo. O uso inadequado de inseticidas também pode limitar a exportação, ou por estar acima do limite máximo de resíduos permitido ou pelo uso de moléculas não permitidas em outros países.
Para o engenheiro agrônomo Ebis Dias Santos, da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (ADAGRO), essa questão é de fundamental importância pois, como afirma, a maior praga da agricultura é a falta de compradores. “Hoje até os mercados mais exigentes como Estados Unidos e Japão aceitam nossos produtos, o que conquistamos a custo de muito trabalho tanto dos produtores quanto da pesquisa, e nós não podemos correr o risco de perder”, defende.
Os dias de campo sobre moscas-das-frutas realizados pela Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), 17 no total, contam com a parceria da VALEXPORT, Câmara da Fruticultura, ADAGRO, Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB), Moscamed Brasil, Dow Agroscience, Ihara, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). As duas últimas edições acontecem no dia 29 de agosto no Projeto Maria Tereza, em Petrolina (PE) e no dia 30 de agosto em Casa Nova (BA).