Mário descarta erro em esforço por R10, mas admite: “Palavra é frustração”
Dignidade, simplicidade, carinho, grandiosidade. Estas foram algumas das palavras usadas pelo vice de futebol Mário Bittencourt ao se referir a Ronaldinho na entrevista coletiva em que comentou sua saída do Fluminense, fechada na noite da última segunda-feira. R10 deixou o Flu após menos de três meses, nove partidas disputadas e nenhum gol marcado. Mas nesta terça, o dirigente usou palavras que indicaram o contrário, deixando a impressão de uma passagem marcante pelas Laranjeiras. Bittencourt exaltou o comportamento do jogador fora de campo, enalteceu o bom ambiente encontrado por ele nas Laranjeiras e chegou a dizer que o camisa 10 vai deixar saudade nos funcionários.
Mário Bittencourt reconheceu que Ronaldinho esteve longe de corresponder, com a bola nos pés, à expectativa criada desde a sua contratação. Mas direcionou o discurso para o lado emocional, elogiando a atitude do jogador de procurar o clube para manifestar a insatisfação com seu próprio desempenho e, assim, solicitar a rescisão de contrato. O dirigente, mesmo sem especificar, também garantiu que a contratação alavancou números no Tricolor e não representou prejuízo financeiro.
– A palavra é frustração. Quando ele chegou, esperávamos que fizesse aqui o que fez em outros lugares. Quando você contrata um atleta, pensa que ele pode dar o melhor. Quantas vezes vimos jogadores considerados com carreira em declínio fazerem grandes atuações? O próprio Ronaldo no Atlético-MG foi um exemplo. Não fez boa temporada no México, mas apostamos que voltando ao Rio ele poderia render – disse.
Embora tenha lamentado o insucesso de Ronaldinho Gaúcho com a camisa do Flu, Mário Bittencourt não considerou o esforço e o investimento feito na contratação do meia como um erro.
– O Fluminense não errou. O Fluminense aproveitou uma oportunidade. Ontem (segunda-feira), de maneira grandiosa, (Ronaldinho Gaúcho) foi muito claro ao dizer que não estava dando ao Fluminense a reciprocidade que o clube merecia. Fizemos tudo para que ele pudesse melhorar o futebol dele, manter a forma dele – afirmou o dirigente.
Mário reafirmou que a rescisão aconteceu de forma amigável e que foi costurada em uma reunião “honesta” nesta segunda-feira. O vice de futebol aproveitou ainda para elogiar a atitude do meia em reconhecer que não atravessava um bom momento.
– Ele estava se sentindo em uma situação ruim, não conseguiu dar ao Fluminense todo o carinho que o clube estava dando a ele. O clube e a torcida. Ele perguntou qual era a nossa opinião, se nós achávamos que ele não estava bem. Fomos sinceros. O momento não estava bom. De maneira digna, de grande caráter, ele disse: no momento, prefiro colocar minha cabeça no lugar. Foi amigável. Com esse combinado, com esse aperto de mãos, que Ronaldo e Fluminense permanecerão com uma relação de afeto. Estamos deixando as portas abertas, saída muito honesta dos dois lados – completou Mário.
O vice-presidente de futebol também descartou uma possível falta de comprometimento de Ronaldinho Gaúcho – que chamou atenção por treinamentos curtos e saída ligeiras. O dirigente afirmou ainda que R10 representou um grande retorno financeiro em números de marketing.
– Não acho que faltaram entrega e dedicação. Ele é um jogador reconhecido no mundo inteiro. Teve uma atitude grande e digna de dizer que ele não estava sendo o atleta que ele poderia ser. O retorno financeiro normalmente vem dos jovens. No caso do Ronaldo, o retorno foi enorme. A chegada dele transformou muitos números do clube, números internos nossos que foram alavancados – completou.
Confira as principais declarações de Mário Bittencourt na entrevista coletiva desta terça-feira
Houve arrependimento na contratação?
Com relação à forma da rescisão, nós informamos ontem para vocês. O Ronaldo se manifestou. Foi comum acordo. Não teve arrependimento. Conseguimos trazer o Ronaldo em um momento em que outros clubes o queriam. Ontem, chegamos num denominador comum. Laços que ele construiu no Fluminense nesse período vão continuar.
Como ele informou ao clube que não queria continuar?
Ontem, ele foi muito claro e objetivo. Grandioso ao dizer que não estava dando ao Fluminense a reciprocidade que o Fluminense merecia. Nós demos todo o apoio a ele aqui nos momentos mais difíceis, para melhorar a forma física dele. O Ronaldo é um jogador que foi eleito o melhor jogador do futebol mundial.
O que ele falou exatamente?
Ele pediu para nós uma reunião para falar do momento dele. O Ronaldo, de maneira muito digna, disse que não estava conseguindo render aquilo que ele gostaria de render e dar ao Fluminense. Ele estava se sentindo em uma situação ruim, não conseguiu dar ao Fluminense todo o carinho que o clube estava dando a ele. O clube e a torcida. Ele perguntou qual era a nossa opinião, se nós achávamos que ele não estava bem. Fomos sinceros. O momento não estava bom. De maneira digna, de grande caráter, ele disse: no momento, prefiro colocar minha cabeça no lugar. Foi amigável. Com esse combinado, com esse aperto de mãos, que Ronaldo e Fluminense permanecerão com uma relação de afeto. Estamos deixando as portas abertas, saída muito honesta dos dois lados.
Retorno ao Fluminense
Costumo dizer que atletas podem dar retorno técnico, financeiro e de visibilidade. Alguns dão retorno somente técnico e de visibilidade, normalmente os que estão em fim de contrato. O retorno financeiro normalmente vem dos jovens. No caso do Ronaldo, o retorno foi enorme. A chegada dele transformou muitos números do clube, números internos nossos que foram alavancados. O Ronaldo foi uma oportunidade que nos deu retorno de visibilidade. Técnico, vocês obviamente sabem que não deu. Por isso fizemos uma rescisão amistosa.
Ele já se despediu dos jogadores?
Para ser sincero, eu não estive com os jogadores. Cheguei, e o treino já havia começado. Eu não vou viajar hoje, só amanhã. O Ronaldo obviamente vai vir aqui. Não veio hoje, até pela maneira que ele é. Ele entende que uma presença dele aqui hoje poderia desviar os olhares, a concentração. Temos um jogo importante. Era muito querido o Ronaldo no clube. Ele com certeza vai vir aqui. Ele é simples no dia a dia. Por isso, a saída ontem foi muito tranquila e muita dignidade.
Chegada de Ronaldinho coincidindo com o momento ruim do Fluminense
Muitas vezes, nós analisamos as coisas sem analisar os números. O time passou por uma queda vertiginosa na competição, mas nos dois ou três primeiros jogos após a chegada dele, ele não jogou, e o Fluminense perdeu. Ganhamos do Grêmio com ele em campo. Do Figueirense também. Acho que seria injusto da parte de todos associar a queda de rendimento à chegada do Ronaldinho. O time caiu de rendimento devido à vários fatores. É injusto jogar nas costas do Ronaldo. Acho que o Ronaldo não foi o motivo da queda de rendimento.
Faltou entrega do Ronaldinho?
Eu não acho que estava faltando entrega, nem dedicação. Eu acho que ele não passa por um bom momento, do ponto de vista técnico e físico. Ele sabe o que ele representa para o futebol mundial. Ele teve uma atitude grande, digna, de no momento não estar conseguindo ser o atleta que queria ser. Se ele continuasse, as pessoas diriam que ele estaria aqui sem se doar. Se o mantivéssemos de uma maneira que gerasse alguma atitude intempestiva, seríamos irresponsáveis.
Foi decepcionante?
Acho que a palavra que fica do ponto de vista do torcedor é de frustração. E a nossa também. Queríamos ter visto o Ronaldo fazendo em campo aquilo que ele fez em outros lugares. O futebol é muito assim. Quantas vezes vimos jogadores em fim de carreira que tiveram belíssimas atuações. O Ronaldo chegou ao Atlético e foi campeão da Libertadores. Depois, não fez uma temporada tão boa no México, mas nós apostamos que ele pudesse render, voltando ao Brasil, ao Rio de Janeiro… Ele foi muito correto conosco desde o início. Ele e todo o staff dele. E nós também fomos muito corretos. Por isso, terminou dessa forma. Com um abraço, carinho enorme. Pode ter certeza que nós vamos manter a relação com ele para coisas no futuro.
Acha que ele vai se aposentar?
Se mostrou um ser humano espetacular conosco. Eu jamais vou julgá-lo, de achar que ele vai encerrar a carreira. Isso deve ser perguntado a ele. Acho que ele está com a cabeça dele no lugar e vai usar esse fim de ano para pensar o que pode fazer da vida dele. Deve ser muito difícil para qualquer um chegar o dia que decide que deve parar. Deve ser uma decisão muito difícil. Quem sou eu para pensar o que o Ronaldo está pensando.
Mais da conversa com o Ronaldinho
Explicou que não estava conseguindo dar o retorno que o Fluminense merecia. Ele nem mesmo sabe os motivos. Foi uma conversa franca, sincera, e da nossa parte se ele quisesse continuar nós daríamos toda a estrutura e o apoio que ele precisasse. Ele precisava reorganizar as ideias dele. Os motivos são dele.
Relação com R10
O bacana desse término foi que não teve nenhum tipo de turbulência na relação. Nunca exigiu nenhum tipo de regalia, sempre viajou com a gente no mesmo avião, no mesmo ônibus. Cumpriu todas as obrigações, concentração. Mas ele não está se sentindo bem. Eu e Fernando (Simone, diretor-executivo de futebol) tivemos a humildade de perguntar para ele no que poderíamos ter falhado. Ele falou que em nada. Ele disse que, se continuasse, poderia atrapalhar o Fluminense. Foi curto? Foi, não tenho dúvida.
Saída do R10 vai interferir na atuação do time contra o Grêmio?
Futebol a gente analisa infelizmente sempre depois do resultado. Passando amanhã, muita gente vai dizer que impactou positivamente. Posso dizer que o Ronaldo é um ser humano querido por todos no vestiário, com boa relação com todos. Como a decisão partiu mais dele do que nossa, os atletas vão entender que é um momento dele, não nosso. Vai causar uma saudade das pessoas que conviviam com ele aqui. Mas não acho que vai interferir no desempenho no campo.
Entenda: A curta vida de R10 no Flu
Após dois meses de negociação, Ronaldinho Gaúcho chegou em julho ao Flu e permaneceu por apenas 80 dias. Neste período, R10 participou de nove jogos, ficou fora de seis e não marcou nenhum gol. O salário do craque girava em torno de R$ 400 mil, mais adicionais por diversas cláusulas.
Ronaldinho passava por um momento conturbado no clube. Sem o apoio da torcida após atuações fracas nos primeiros jogos, o meia amargou três partidas consecutivas no banco de reservas – contra o Palmeiras nem chegou a entrar. Curiosamente, no último sábado, havia tido a primeira oportunidade na equipe titular com o técnico Eduardo Baptista. Porém, dois dias depois, pediu dispensa do treinamento e, logo em seguida, do Fluminense.
Fonte: Globo Esportes