O ano de 2024 foi confirmado como o mais quente já registrado, com temperatura média global de 15,10 °C ou 1,6 °C acima do período pré-industrial. De acordo com o observatório europeu Copernicus, responsável pela divulgação dos dados, 2024 foi o primeiro ano a romper a barreira de 1,5 °C de aquecimento, estabelecida no Acordo de Paris.
Conforme o observatório, o aumento da temperatura global está diretamente ligado à crescente concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, um resultado direto das atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis, com uma participação menor de fenômenos naturais, como o El Niño.
“Estamos enfrentando um novo desafio climático para o qual não estamos preparados”, afirmou Carlo Buontempo, diretor do Copernicus, durante a entrevista coletiva para apresentação dos resultados. Segundo ele, trata-se de “um desafio monumental”, ao ressaltar a importância do uso dos dados para que a sociedade se prepare para enfrentar com segurança os eventos extremos resultantes da mudança climática.
Aquecimento
A temperatura média global registrada em 2024 foi de 15,10 °C. O índice apurado representa um aumento de 0,12 °C em relação a 2023 – que, até então, era o ano mais quente.
Isso significa 1,6 °C acima da temperatura média estimada para o período entre 1850 e 1900, o chamado nível pré-industrial, que serve de parâmetro para o acompanhamento do aquecimento global.
Porém, para o observatório, os dados não surpreendem. O órgão já havia previsto, no relatório de outubro de 2023, um novo recorde. Em novembro, estimava-se que o limite de 1,5° C fosse rompido. Um mês depois, os cientistas disseram que era “virtualmente certo” que 2024 seria o mais quente já registrado.
“Essas altas temperaturas globais, juntamente com os níveis recordes globais de vapor de água na atmosfera em 2024, significaram ondas de calor sem precedentes e chuvas intensas, causando miséria a milhões de pessoas”, afirma Samantha Burgess, líder estratégica para o clima no Copernicus.
Emissão de carbono
De acordo com o observatório, espera-se que as emissões de carbono em 2024 tenham estabelecido um novo recorde, o que significa que ainda não há sinal da transição para longe dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás) prometida pelos países participantes da Conferência Climática da ONU em Dubai, em dezembro de 2023. O mundo está a caminho de um aquecimento global catastrófico de 2,7° C até o fim do século.
O órgão aponta que a próxima grande oportunidade para ação vem em fevereiro, quando os países têm que enviar novas promessas de corte de emissões para a ONU. A probabilidade de se manter abaixo do limite de 1,5 °C, mesmo a longo prazo, parece cada vez mais remota. As emissões de combustíveis fósseis devem cair 45% até 2030 para ter uma chance de limitar o aquecimento a 1,5 °C.
As temperaturas foram impulsionadas no primeiro semestre de 2024 pelo fenômeno climático natural El Niño, mas permaneceram muito altas no segundo semestre do ano, mesmo quando o El Niño se dissipou. Alguns cientistas temem que um fator inesperado tenha surgido, causando uma aceleração preocupante do aquecimento global, embora uma variação natural incomum de ano para ano também possa ser a razão.
Uma queda na poluição causada pelo transporte marítimo e nas nuvens baixas, que refletem a luz solar, contribuiu para um aquecimento extra, mas os cientistas ainda buscam uma explicação completa para as temperaturas extremas em 2024.
Acordo de Paris
Apesar de exceder a barreira estabelecida no Acordo de Paris, o aquecimento não representa um rompimento total com esse tratado. Para isso, é necessário que a temperatura média global ultrapasse 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais de forma prolongada.
Conforme estabelecido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado pela ONU, o tratado considera anomalias de temperatura de longo prazo, calculadas com base em médias apuradas durante pelo menos 20 anos.
O Acordo de Paris é um tratado internacional adotado em 2015 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), na capital francesa. Ele tem como principal objetivo combater as mudanças climáticas, limitando o aumento da temperatura média global a 2 °C acima dos níveis pré-industriais, com esforços para restringi-lo a 1,5 °C.
Metrópolis