Na Rua Alagoinhas, bairro do Rio Vermelho, a casa de número 33, de muro branco com azulejos cravados na parede, chama a atenção. Se não pelo colorido da escadaria, também azulejada, pelo menos pela fama do lugar. Ali, viveram por 47 anos Jorge Amado e Zélia Gattai.
Sem moradores desde 2003, quando Zélia se mudou – dois anos após a morte de Jorge e cinco antes do próprio falecimento –, a Casa do Rio Vermelho, como é chamada, será transformada em um memorial aberto à visitação.
As intervenções começam depois do Carnaval e a meta é abrir o espaço até a Copa do Mundo. O projeto é o primeiro de 11 equipamentos turísticos que farão parte de um pacote que a prefeitura planeja entregar até o final de 2015.
Quando o memorial for inaugurado, o visitante terá acesso ao imóvel de mais de mil metros quadrados, vai entrar em contato com os objetos pessoais do casal, o mobiliário e estará dentro de um cenário onde foram criadas obras- primas da literatura como Dona Flor e seus Dois Maridos e Tieta do Agreste.
Acervo
O imóvel, comprado em 1964, guarda lembranças de outras obras de Jorge Amado, a começar pela sua compra. Foi o dinheiro arrecadado com a venda dos direitos do livro Gabriela, Cravo e Canela que possibilitou a compra da casa.
Em A Casa do Rio Vermelho (1999), Zélia Gattai conta: “Jorge vendera à MGM os direitos autorais de seu romance Gabriela, Cravo e Canela. Não recebera o dinheirão que se poderia imaginar, mas lhe pagaram o suficiente para adquirir uma casa da Bahia. ‘Comprarei essa casa com o dinheiro do imperialismo americano’, dizia rindo”.
“A casa toda é uma obra de arte. As portas são de Carybé. Meu avô gostava muito de concretar as coisas na parede, então (o visitante) vai encontrar azulejos pintados por Picasso. A gente tem um acervo de festas populares, meu avô gostava disso”, contou um dos netos de Jorge e Zélia, João Jorge Amado Filho, o Jonga.
O espaço guarda ainda lebranças físicas do casal. Ali, debaixo de uma mangueira do jardim, foram enterradas as cinzas de Jorge e Zélia.
Ambientação
Segundo Jonga, a casa está fechada e vazia desde 2003. “As coisas que eram da casa, a gente catalogou e arquivou, guardou. Agora, a gente está abrindo as caixas para dar uma limpada e vai voltar tudo pra lá”, diz.
A ideia da família, e também da prefeitura, através da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Cultura (Sedes), é deixar o local o mais fiel possível à época em que o casal viveu no imóvel.
De acordo com o titular da Sedes, Guilherme Bellintani, as poucas intervenções serão arquitetônicas, com o objetivo de garantir mobilidade dentro da casa. “Não há transformação da casa. No sentido do conteúdo, vão ser 20 espaços temáticos que vão tratar da vida, da relação deles com a Bahia, religiosidade, amigos”, explica o secretário.
Cada um dos espaços temáticos contará com uma variação de ferramentas para aproximar o visitante da história de Jorge e Zélia. A maior parte delas é de instrumento tecnológico, como vídeos e equipamentos em touchscreen, incentivando a interatividade.
A presidente da Fundação Casa de Jorge Amado, Myriam Fraga, contou que uma série de projetos já haviam sido apresentados à família, alguns quando Zélia Gattai ainda era viva. Agora, o trabalho da fundação será subsidiar o projeto do memorial com fotos e conteúdo. “Não é uma exposição, mas uma ambientação condizente com o clima que ele (Jorge) dava à casa com Zélia”, observa.
A transformação da casa em memorial está orçada em R$ 6 milhões. Destes, R$ 3 milhões já estão assegurados em verba dos cofres da prefeitura, segundo Guilherme Bellintani. O restante deve ser captado junto à iniciativa privada através da Lei Rouanet. “Nós já fechamos verbalmente com uma empresa, mas não foi protocolado ainda”, garante o secretário.
Apesar disso, Bellintani assegurou que o andamento do projeto não depende da Lei Rouanet. “Os R$ 3 milhões já são suficientes para o projeto ficar totalmente de pé. Se não vier a iniciativa privada, a gente vai diminuir um pouco a intensidade”, declarou.
A ideia é que o memorial seja autossustentável. Lá, funcionará uma loja de souvenir, um café e será cobrada entrada, em uma espécie de tíquete único que dará acesso aos 11 equipamentos na cidade, que estarão funcionando, segundo a prefeitura, até o final de 2015. A expectativa é receber até 10 mil visitantes por mês e 50 mil na alta estação.
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