
É, sem dúvida, assustador, acompanharmos, este ano, a evolução das vazões do rio São Francisco, medidas nas principais estações do seu curso, desde a nascente até o seu trecho baixo.
Se a observação se fixar no que está ocorrendo com o lago de Sobradinho, a preocupação ainda é maior, dado que o nível tende a atingir o índice mais baixo desde a implantação da represa.
Tal perspectiva está confirmada pela Agência Nacional de Águas – ANA, no seu portal, no dia 29 de Setembro, ao informar o aumento de vazão na descarga da barragem de Três Marias (MG), de 300 para 500 metros cúbicos por segundo, sem o que o volume útil em Sobradinho chegaria a 0,23% no fim de novembro, o que representaria a interrupção do fluxo de água para abaixo da barragem, com enormes e óbvios prejuízos decorrentes.
Por outro lado, não nos sentimos animados com relação à perspectiva de ações governamentais efetivas para melhorar as condições do rio, seja em sua calha principal como também nas áreas mais sofridas no semiárido sanfranciscano, mormente na margem direita do trecho médio na Bahia.
Maior exemplo disso é que, enquanto aos trancos e barrancos, o governo tem continuado os altos desembolsos nos dois eixos da transposição para o Nordeste Setentrional, sem que se saiba com firmeza quando tais obras realmente trarão frutos para as populações residentes naquela porção do semiárido, obras estruturantes na Bahia se arrastam há décadas e outras fundamentais para a bacia estão ainda somente em nível de estudos ou de projetos.
Pior ainda, se vê a intenção do governo federal, com a conivência equivocada do governo estadual, de se tirar mais água da bacia para outras áreas do estado que têm condição de encontrar soluções locais ou microrregionais para as suas dificuldades hídricas, a custos muito menos dispendiosos, sem precisar sangrar mais ainda o Velho Chico.
A bacia do rio São Francisco ocupa uma área correspondente ao que seria a quarta unidade da federação brasileira em extensão territorial e tem uma população inferior somente a cinco estados da federação. Tais números demonstram o significado dessa bacia e do próprio Velho Chico, considerado individualmente com seus 2.850km de extensão.
Uma observação mais profunda aponta que os esforços governamentais para a revitalização da bacia têm sido muito tênues e muitos se caracterizam como ações apenas cosméticas. E a bacia tem demonstrado ao Brasil e ao mundo o seu enorme potencial de ser um celeiro supridor de frutas da melhor qualidade ao tempo que gera emprego e renda para os que nela habitam. Com certeza, a resposta dos governos, perante o que o rio símbolo maior da brasilidade representa para o país, está muito aquém do que ele e todos os barranqueiros merecem.
Estou perplexo é com a falta de mobilização das autoridades constituídas, políticos com mandato, da base do governo, da região, especialmente da Bahia (já que 2/3 da bacia do rio São Francisco se encontra em território baiano).
Discurso só não resolve nada.
Este governo, fragilizado como está, atenderia a qualquer pleito que se exigisse em benefício do São Francisco em troca de apoio, mas, pelo que vemos, o nosso Rio não tem sido prioridade nas negociações de nenhum dos “representantes” da região.
No passado, o Deputado Federal pela Bahia Manoel Novais pressionou o Governo para que 1% do orçamento da União fosse aplicado no Vale do São Francisco, e foi atendido. Naquela época, a “doença” era só um “resfriado”, e foi criada para gerenciar os recursos a Comissão do Vale do São Francisco-CVSF. Em seguida, a Superintendência do Vale do São Francisco-SUVALE, depois a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco-CODEVASF, e hoje a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba-CODEVASF. O “resfriado”, hoje, é uma “pneumonia” e o Vale do São Francisco está na “UTI” e sem orçamento algum assegurado.
Só nos resta agora pedir a Deus complacência com o Velho Chico, com o aval de São Francisco – o santo, que no último domingo (04 de Outubro) teve as comemorações do seu Dia e, por consequência, do Dia do rio, que carrega este nome por ter sido descoberto no dia do santo, mas sem nenhuma comemoração.
Pensei em divulgar este artigo no dia do nosso rio (04 de Outubro), mas aguardei a data chegar na esperança de que as autoridades constituídas, os políticos de mandato, da base do governo, pudessem anunciar um grande Programa de obras de REVITALIZAÇÃO. Infelizmente nada aconteceu.
Aproveitando as palavras da linda e sempre tocante oração de São Francisco de Assis, que o rio consagrado com o seu nome continue trazendo UNIÃO, ESPERANÇA, ALEGRIA, E LUZ, para a nossa região.
*JORGE KHOURY – Secretário Municipal do Salvador, Secretário de Estado, Deputado Federal, Prefeito de Juazeiro. Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco-CBHSF e da Associação Brasileira de Irrigação e Drenagem-ABID, dentre outras funções.




