O embaixador brasileiro Roberto Azevêdo, eleito novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), reconheceu as dificuldades que terá para conciliar os interesses dos 158 países integrantes do organismo. Azevêdo disse que vai se desvincular do papel de representante dos interesses brasileiros e assumir a agenda da organização, que é liberalizar o comércio mundial e combater o protecionismo. É o que mostra a entrevista exclusiva do embaixador Azevêdo à Globo News, concedida à nossa correspondente em Genebra, Bianca Rothier.
PAPEL DA OMC
“A OMC trabalha com assuntos que têm impacto no dia a dia do cidadão sem que ele mesmo perceba: o preço do estádio de futebol, o quanto ele paga. o preço do alimento que ele compra no mercado, o preço da passagem aérea. Essas coisas são afetadas de uma maneira ou de outra pelo que é feito na OMC. O problema é que a OMC lida com temas que se aplicam a 158 países. É difícil avançar de uma maneira muito célere”.
“As negociações que nós temos hoje sobre a mesa refletem um mundo de 30 anos atrás. É preciso atualizar isso tudo, porque as regras não estão acompanhando a velocidade do mundo. O que isso significa? Que fica mais custoso, mais caro para os negócios, para os empreendedores, para as fábricas produzirem produtos. Porque cada mercado vai desenvolvendo os seus próprios padrões e encarece a produção. Então afeta a vida do cidadão”.
RISCOS PARA A OMC
“A irrelevância da OMC é difícil de se vislumbrar no curtíssimo prazo, porque é uma organização que funciona ainda, tem o mecanismo de solução de controvérsias, quando os países entram em desacordo em função de práticas ou medidas que cada um adotou. Isso em si é uma coisa muito importante. A organização ajuda a solucionar essas diferenças por meio dos litígios que nós participamos com tanta frequência, o Brasil”.
“É difícil você imaginar a irrelevância da OMC no curto prazo. Mas à medida que as regras não evoluem, que o mundo vai caminhando e as regras vão ficando paralisadas, a tendência é de que essas negociações migrem para outro lugar. Aí a organização vai ficando para trás, deixando de ser o foco das atenções”.
BILATERALISMO X MULTILATERALISMO
“O multilateralismo e o bilateralismo ou regionalismo sempre caminharam juntos. Não é novidade que se estejam negociando acordos bilaterais. Esses acordos em geral são muito mais ambiciosos. É mais fácil você negociar uma coisa muito ambiciosa entre três, quatro, cinco países do que entre 158 países. As duas coisas sempre caminharam juntas. Mais ambiciosas no bilateral, e menos ambiciosas no multilateral. Mas à medida que o bilateral e o regional vão avançando e o multilateral fica congelado, começa a haver uma desconexão muito grande entre o que está sendo negociado na fronteira dos negócios e o que está sendo negociado na base. E isso pode criar aumento de custos e dificuldade para os negócios”.
PROTECIONISMO E O BRASIL
“É um trabalho muito comum, na medida em que você é diretor-geral de uma organização multilateral você avança com a agenda da organização. A OMC é uma agenda de liberalização comercial, por meio da qual se criam riquezas, regras, disciplinas, previsibilidades, que permitem também o desenvolvimento social nos países de uma maneira geral.
“As pessoas pensam: você vai estar lá, vai haver algum tipo de incompatibilidade. Nenhuma. A partir desse momento será o próximo embaixador do Brasil que vai sentar nessa cadeira que vai ter que defender a agenda do Brasil, que vai ter que fazer com que os interesses do Brasil sejam defendidos na organização. Eu estarei como um mediador e facilitador de consenso”.(G1)