AS COISAS QUE EU VI, OUVI E VIVI.
Lá no cantinho de D. Clara, em Carnaíba do Sertão, onde costumamos passar dias frios, mas muito mais dias quentes, às vezes acontece de tudo. O que vou contar aqui é uma coisa irritante (sacanagem mesmo), mas engraçada. Na frente da casa há um espaço para se botar carros (tipo garagem), onde temos algumas árvores, que produzem sombra. Pois não é que ali botando o carro, sempre, vinha um casal de cabeça vermelha e fazia um ninho bem no galho, que dá sombra para o carro. Logo após o nascimento dos filhotes (dois), os pais “descobriram” pelo retrovisor que havia outro, ameaçando seus rebentos. Daí em diante, foi um desassossego. Desciam do ninho e bicavam o retrovisor com força, cagando as portas do carro. E haja bosta de passarinho. Irritado, quis comprar uma baladeira, mas fui contido pela esposa. E o que fazer? Iniciei botando sacos plásticos. Não deu certo, pois eles quando não rasgavam, sujavam os sacos. Tive uma ideia que amenizou: sacola de flanela creme, da cor do carro. Descobriram, nos vidros da porta (com película) que havia inimigo. Haja bicar os vidros das portas. Só vim ter sossego quando soltei uns três/quatro fogos. Isso já depois dos filhos terem batido asas e voado.
Lembrei-me da “Sacanagem de Bem – te – Vi” de Luiz Mendes Filho: … “Comecei a distinguir, entre as vozes correntes, o canto de um bem-te-vi jovem que cantava ao léu com voz bem jovem, sem que nenhum outro pássaro da espécie, jovem ou adulto, lhe respondesse nada.
Talvez por não obter resposta ou, quem sabe, para dar asa ao seu espírito brincalhão, começou o gaiato do bem-te-vi a desobedecer a trilogia do canto, passando assim a cantar: bem-te-vi, bem-te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, indefinidamente, até onde dava a respiração.
… Meu amigo, meu leitor, você não imagina o que aconteceu.
Na manhã seguinte (e eu estava na varanda), mal o bem-te-vi jovem abriu o eco a sacaneou cantando bem-te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, te-vi, surgiu, vindo da árvore vizinha, um bem-te-vi sênior, corpulento, plumagem escura, parecia que vinha a mando do Secretário de Polícia e Segurança Pública dos bem-te-vis e, partindo para cima do bem-te-vi desobediente, bicou o desafortunado transgressor até fazê-lo deixar a árvore, em vôo visivelmente cambaleante, e ao peso de múltiplas e lesivas bicoradas, até onde eu os perdi de vista, restando a mim e a lacuna sonora, pois o bem-te-vi sacana nunca mais me massacrou os ouvidos”.
Entendeu ele, entendi eu, que às vezes sacanagem de passarinho parece um pouco com sacanagem de gente grande…
MAGOM – Contabilista, Administrador de Empresa e membro do Lions.