No dia do seu aniversário de 471 anos de Salvador, comemorado neste domingo, 29, uma cidade tradicionalmente festeira e rueira, vai comemorar a data de uma forma diferente, sem a vibração natural dos seus moradores. A pandemia do coronavírus já havia feito o prefeito ACM Neto anunciar no dia 13 passado, a sua decisão oficial. “Não há sentido fazer uma festa relacionada a alegria. A minha decisão é suspender os festejos e realizar em outra data, quando a agenda do País for outra”, disparou.
Atual administrador Apostólico da Arquidiocese de Salvador, Dom Murilo Krieger escreveu para a Tribuna: “A celebração do aniversário da cidade de Salvador, em 2020, será em forma de oração: Nosso Senhor e Salvador, vem em socorro daqueles por quem derramaste o teu sangue! Cura-nos! Protege-nos! Salva-nos!”.
MAESTRIA
Alinhavando palavras, com maestria, o secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco enviou a seguinte mensagem. “Ao completar 471 anos, Salvador, a cidade que ganhou o gosto do mundo, teria muito o que celebrar. As áreas de Cultura e do Turismo não ficam atrás. Nos últimos anos, muitos são os motivos de orgulho que os soteropolitanos têm. Este, no entanto, não é o momento de comemorar. A cidade que já enfrentou muitas lutas e tentativas de invasões, está agora unida para vencer mais uma batalha. A celebração ficará para depois, mas o orgulho dos soteropolitanos é diário”.
Presidente da Associação Brasileira de Hotéis, na Bahia (ABIH), Luciano Lopes disse que “o aniversário da cidade de Salvador necessita ser comemorado enaltecendo a melhora na cidade nos últimos 8 anos. Uma cidade mais limpa, organizada e com grandes avanços na mobilidade. Soma-se a isso ao posto de uma das cidades mais procuradas pelos turistas e que deverá fazer um grande trabalho de manutenção e retenção destes turistas após esta epidemia”, sinalizou.
Como presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet) -Seccional Bahia-, Benneh Amorin, assim se posicionou: “A passagem dos 471 anos de fundação, desta linda cidade fundada por Thomé de Souza, será melancólica e triste. Mas, nos resta a esperança, que vencida essa guerra contra essa terrível pandemia, possamos em 2021 fazer uma comemoração maravilhosa, que permita soteropolitanos, baianos e turistas se confraternizarem e celebrarem a alegria e o amor”.
SECULAR
Professora de História, Laís Monica Reis Ferreira, discorreu por outra vertente clássica. A visão da secular da cidade do Salvador. “É, sem dúvida, uma cidade de fortes contrastes. Mesmo sendo natural desta cidade, sempre me emociono com a deslumbrante Baía de Todos-Santos e com o Centro Histórico e seu casario antigo e colorido. Salvador, de belezas naturais acolhedora e plena de alegria, história e tradições tem, ainda, áreas com falta de saneamento básico, emprego, segurança, lazer, ou seja, tem um lado da cidade, onde a cidadania real ainda está distante”. E completou: “Meu desejo, é que esta cidade, tão singular, supere com determinação e criatividade suas profundas desigualdades e se torne, cada vez mais bela e acolhedora por inteiro”.
Jornalista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mariana Vieira Viveiros, supervisora de divulgação do órgão federal, assim destrinchou os dados da cidade: “Como é essa casa soteropolitana? São mais de um milhão de domicílios, onde vivem 2,857 milhões de pessoas. O que dá uma média de pouco menos de 3 moradores por residência. Tem um total de 123 mil pessoas (4,3% da população de Salvador) que vive em domicílios com adensamento excessivo, ou seja, com 4 pessoas ou mais por dormitório. Quase 7 em cada 10 domicílios soteropolitanos (66%) são casas, onde vivem 1,941 milhão de pessoas (68% da população). Cerca de 71,6% desse total, ou 746 mil são imóveis próprios. Ainda assim, 1 em cada 5 moradores da capital baiana paga aluguel (19,8% da população ou 565 mil pessoas)”. E completou: “Praticamente metade das residências soteropolitanas são chefiadas por mulheres. Elas são apontadas como responsáveis por 516 mil domicílios na capital baiana, ou seja, 49,6% do total”.
FESTIVAL
Não houvesse essa pandemia, que hoje tira o sossego dos baianos, a cidade estaria ‘fervendo’ com o Festival da Cidade. O prefeito ACM Neto justificou o cancelamento dos festejos de celebração do aniversário de 471 anos de Salvador com muito remorso. “Esse ano de 2020, o evento chegaria a 8ª edição. Não há previsão de uma nova data para o evento de comemoração, e mesmo estando tranquilo, mas para evitar histeria, resolvi suspender o evento”.
O evento a qual se reporta é o Festival da Cidade que acontece há sete anos seguidos para celebrar o aniversário da Primeira Capital do Brasil. E conta com uma programação gratuita com música, shows e apresentações culturais. Mas, assim como toda história tem os seus ‘lapsos de memória’, o que os baianos de cada canto do Estado e, em particular, os soteropolitanos, ainda sonham é de que no próximo dia 29 de março de 2021, a festa de aniversário dos 472 anos tenha no mínimo: um grande bolo; muitos refrigerantes; e palmas, logo após o canto tradicional de “Parabéns Pra Você!”
Tribuna da Bahia