Quem viaja pelas estradas entre cidades atingidas pela pior seca das últimas décadas no Nordeste se espanta com a sequência interminável de carcaças de bovinos a apodrecer ao lado das pistas.
A morte de cabeças de gado, aos milhares, os arbustos cinzentos e o solo de pedra e cactos, são para os viajantes, o impacto mais visível e chocante da estiagem de quase dois anos que afeta milhões de sertanejos.
Um exemplo da mortandade está na Rodovia Asa Branca. Presenciei isto quando fui a Exu, Serra do Araripe. Lá chegando foi unânime a conversa e a tristeza de todos que percorreram outras Brs para chegar até a terra do Rei do Baião. Desilusão e sofrimento de todos que dizíamos que Luiz Gonzaga/Zé Dantas ao puxar a sanfona em Vozes da Seca continuam atuais no protesto:
“Seu doutor os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulistas nessa seca do sertão
Mas doutor uma esmola a um homem que é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão…
Pois doutor dos vinte estados temos oito sem chover
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem comer
Dê serviços a nosso povo, encha os rios de barragens
Dê comida a preço bom, não esqueça a açudagem”…
São diversos cálculos – todos alarmantes – de quantos bovinos já morreram e vão morrer, pois antes de fevereiro de 2013 a seca não deverá acabar, segundo previsões meteorológicas.
Embora a visão impressione, as carcaças expostas nas estradas são uma parte menor da tragédia que assola o sertão nordestino. Não há água para beber. Vi dezenas de cisternas, aquelas de plásticos também na beira das estradas. “Cisternas Sonrisal”, que serviram de promessas no período eleitoral.
Com qualidade duvidosa derreteram no calor sertanejo e na dureza de um Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Este brinca com a esperança do ser humano. Para este não existe perdão: Não se brinca com a esperança do Povo.
O ministro mata o Povo de Vergonha. Assim cantou Luiz Gonzaga.
*Ney Vital-Jornalista