Em artigo publicado no jornal Corre da Bahia desta terça-feira (28), Fábio Vilas-Boas, Secretário Estadual da Saúde da Bahia, afirmou que ainda não é hora da testagem em massa ser aplicadas. Segundo o secretário, seriam necessárias grandes quantidades de testes e equipamentos de proteção individual, impossibilidades indisponíveis no momento.
No texto, Vilas-Boas diz ainda que adquirir e transmitir infecções dentro de locais de testagem ainda seria um risco, e que as pessoas também podem ter resultados negativos no estágio inicial da infecção o que obrigaria a retestagens periódicas. “Como as pessoas que se infectam pelo novo coronavírus só desenvolvem anticorpos em média após 7 dias de início dos sintomas, esse tipo de teste não é o ideal para investigar pessoas na fase inicial da doença, quando os sintomas se apresentam”, diz um trecho do artigo.
O secretário diz ainda que a higiene das mãos, o distanciamento social e principalmente, o uso de máscaras, continuam sendo indispensáveis para o achatamento da curva de crescimento.
Leia na íntegra
A rapidez da transmissão da Covid-19, combinada com a (suposta) baixa taxa de imunidade adquirida, significa que a maioria das pessoas tem um risco considerável de contrair ou espalhar o vírus, de modo que a testagem em massa teria um objetivo legítimo de saúde pública. Mais importante, vincular os testes ao afrouxamento das restrições a tornaria um componente integrante de uma estratégia para restaurar as liberdades civis.
Considere, por exemplo, uma política na qual as pessoas que procuram retornar ao trabalho, escola ou atividades sociais sejam submetidas a testes para detecção de infecção (RT-PCR) e anticorpos. Testes positivos para infecção desencadeariam o auto-isolamento. Testes negativos atestariam a liberdade de movimento por um período definido – digamos, 2 ou 3 semanas – após o qual testes negativos adicionais renovariam a certificação. Se os anticorpos gerados pela Covid-19 forem capazes de gerar proteção a longo prazo contra a reinfecção e a transmissão – o que é plausível, mas ainda não estabelecido – um teste sorológico IgG positivo justificaria a certificação a longo prazo.
No entanto, as limitações nesta abordagem são claras. Seriam necessárias grandes quantidades de testes e equipamentos de proteção individual, nenhum dos quais existe atualmente. Adquirir e transmitir infecções dentro de locais de testagem ainda seria um risco; as pessoas também podem ter resultados negativos no estágio inicial da infecção o que obrigaria a retestagens periódicas.
Uma política de extensão de privilégios para pessoas com imunidade adquirida (liberar para o trabalho quem testou IgG positivo), paradoxalmente pode representar incentivo para que os profissionais mais jovens ou em maior vulnerabilidade econômica se deixem infectar deliberadamente.
Ressalta-se ainda, que a maioria dos testes rápidos disponíveis é baseada na detecção de anticorpos. Como as pessoas que se infectam pelo novo coronavírus só desenvolvem anticorpos em média após 7 dias de início dos sintomas, esse tipo de teste não é o ideal para investigar pessoas na fase inicial da doença, quando os sintomas se apresentam.
Diante desse cenário, as medidas de achatamento da curva de crescimento deverão continuar focadas nos pilares fundamentais: higiene das mãos, distanciamento social e principalmente, o uso de máscaras. Estudos revelam que a máscara caseira reduziu em até 78% a eliminação de microrganismos no ambiente, além de limitar o contato das mãos com boca e nariz, através de uma barreira física.
Essas e outras imperfeições nas abordagens centradas nos testes em massa fazem com que, no presente momento, um programa abrangente de testagem, certificação e retestagem esteja além dos limites da capacidade do nosso sistema de saúde.
Fábio Vilas-Boas
Doutor em Ciências e Secretário Estadual da Saúde
Artigo publicado no jornal Correio, em 28 de abril de 2020