Com um terço dos senadores alvo de investigações na Lava Jato, a subprocuradora-geral Raquel Dodge não deve enfrentar dificuldades para ter seu nome aprovado no Senado após ser indicada para comandar a Procuradoria-Geral da República pelo presidente Michel Temer. Na avaliação de parlamentares da base e da oposição, o fato de ela ter figurado na lista tríplice levada ao presidente a capacita para ocupar o cargo.
A previsão é de que Raquel seja sabatinada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado no dia 12 de julho. O relator da indicação será o senador Roberto Rocha (PSB-BA), que já sinalizou um parecer favorável. “A princípio não há motivo para ser contra a indicação”, afirmou o senador. “Foi uma grande escolha e vamos testemunhar isso na sabatina.”
Ao indicar Raquel para substituir Rodrigo Janot, Temer rompeu uma tradição de governos do PT de escolher sempre o mais votado da lista tríplice da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR). Em guerra com o atual procurador-geral, o presidente optou pela segunda colocada, em vez do mais votado, o subprocurador-geral Nicolao Dino, aliado de Janot.
Embora Raquel tenha sido apontada como um nome de preferência da base de Temer, parlamentares do PT avaliam que o fato de ela se colocar como opositora a Janot pode indicar que vai conter possíveis excessos da Operação Lava Jato. Ela, porém, sinalizou que manterá a operação. Em entrevista ao Estado no fim do mês passado, Raquel defendeu a Lava Jato e disse que “a atuação do Ministério Público Federal não pode retroceder nem um milímetro sequer”.
O líder da bancada, Lindbergh Farias (PT-RJ), admitiu que, no “mérito”, não tem nada contra o nome da subprocuradora, mas estranha a celeridade que governistas querem dar para a análise da indicação. Para ele, a sabatina deveria ocorrer apenas em agosto, após o recesso. “Tem de dar um tempo, porque daí dá tempo para a imprensa investigar. Foi assim com Alexandre de Moraes (ministro do Supremo Tribunal Federal)”, afirmou.
Sem volta. Um dos senadores da oposição mais atuantes, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a escolha do segundo da lista não desabona Raquel. “O fato de ter indicado alguém da lista tríplice, mesmo quebrando a tradição de escolher o mais votado, não deixa receio de que o que foi conquistado pelo Ministério Público vá ter algum tipo de reversão”, disse.
“O (ex-procurador-geral) Roberto Gurgel foi indicado pelo ex-presidente Lula e foi implacável no julgamento do mensalão. Ela foi colocada na lista tríplice porque teve a confiança dos demais procuradores”, afirmou Randolfe.
O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), minimizou ontem o apoio que Raquel recebeu de nomes de seu partido. Nas últimas semanas, a subprocuradora vinha recebendo nos bastidores apoio de caciques, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney (AP). “O PMDB e nenhum partido apadrinham a nomeação do procurador-geral da República. Eu trabalhei pela aprovação e pela recondução de Janot, e nem por isso o PMDB apoiou a indicação. Senadores sabatinam e votam de acordo com suas consciências”, disse.
Questionado se haverá constrangimento pela participação de senadores investigados na sabatina, Jucá negou. “Não vejo nenhum empecilho regimental. Não cabe a mim criar óbice. Caberá a cada um deles avaliar”, afirmou o senador.
Fonte: Estadão