Quando planejamos ou temos um filho, a felicidade e a responsabilidade são tão grandes que muitas vezes nos parece uma missão impossível. Mesmo que a jornada já tenha começado. Diante de um conflito – de não conseguir que a criança saia da frente da TV até como fazê-la entender que seus pais não vão mais morar juntos –, é legítimo achar que a força de ser mãe ou ser pai vai desmoronar. Mas também legítimo é entender que pode precisar de ajuda. De alguém da família, de um educador da escola, de um amigo ou, sim, de um terapeuta. Mas quem é esse profissional? Como entender esses vários “psis” disponíveis?

Psicólogo, psicanalista, psicopedagogo e psiquiatra são alguns dos especialistas apoiadores dos pais, desde um caso de transtorno comportamental diagnosticado a uma dificuldade pontual emocional. Ah, mas antigamente não precisávamos deles, alguém pode dizer. Verdade, sabe por quê? Antes sabíamos menos sobre o que se passa na infância. “O preconceito contra esse tipo de atuação profissional está diminuindo porque temos informações melhores”, diz o pediatra Eduardo Juan Troster, coordenador da UTI Neonatal do Hospital Albert Einstein (SP). “As questões da saúde evoluíram tanto que é praticamente impossível só um profissional dar conta de um ser humano do ponto de vista clínico, orgânico, mental, emocional”, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP).

Claro que não é fácil enxergar um problema no filho. Para ninguém. Qual pai ou mãe não luta todos os dias para que ele seja feliz? “Os pais têm sempre um filho imaginado, e, às vezes, não conseguem aceitar o filho real, assumir para si mesmo que ele é diferente do esperado. É difícil não se culpar, não se decepcionar ou até sentir um certo ciúme de que outra pessoa vai ajudá-lo e não você”, diz Gina Khafif Levinzon, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Outra dificuldade pode ser a de não querer acreditar que o filho, de fato, tem algum problema e sempre buscar uma justificativa para o comportamento dele. Aceitar a realidade não quer dizer que você falhou.

Mas quando procurar ajuda? Há dois sinais mais fortes. “Primeiro, se a criança ou adolescente tem um problema acadêmico. Não uma nota baixa, mas quando realmente se percebe que não está aprendendo. Segundo, se tem algum prejuízo de relacionamento social. Se exclui ou é excluído, é impulsivo demais, fica isolado no recreio, não tem amigos. Com a criança sofrendo, investigue”, diz o psiquiatra Gustavo Teixeira,  autor dos livros Manual Antibullying e Desatentos e Hiperativos (ambos da Ed. BestSeller). S
Juntos pela criança

Parceria e foco são fundamentais. “Não adianta ter uma série de intervenções se os pais possuem uma conduta inapropriada. Indiretamente, eles quase que passam por um processo terapêutico também”, diz o psiquiatra Paulo Germano Marmorato, coordenador do Ambulatório de Socialização, do Serviço de Psiquiatria da Infância e do Adolescente do Hospital das Clínicas (SP). “Muitos temem que a criança fique dependente da terapia. Mas, na verdade, o objetivo é justamente fazer com que ela caminhe sozinha”, afirma Gina Levinzon.

Por isso, para Marmorato, os pais precisam saber o que está acontecendo com a criança o tempo todo. “Para entenderem que tipo de proposta o profissional oferece. É um ‘o que vamos fazer para que seu filho consiga lidar melhor com o que está acontecendo’”, afirma ele, que também é psicoterapeuta. “O profissional verá primeiro os pais, perguntará sobre a concepção e o parto, os primeiros anos de vida, se teve doenças, como é a questão da alimentação, sono etc., e qual a queixa. Só depois a criança entra e, se necessário, começam as sessões”, explica Rita Calegari. Nelas, a criança vai ser submetida a testes específicos, mas ela achará que está brincando. “A gente avalia tudo, pensa nos encaminhamentos, que podem ser desde a terapia, uma consulta a um neurologista ou até fazer uma atividade física”, diz a especialista.

As alterações de comportamento da criança são mais facilmente percebidas na escola. “O diagnóstico de um problema é frequentemente feito pela professora, que tem contato quase todos os dias do ano com a criança”, afirma Troster.

Paciência e foco

Se o diagnóstico exige habilidade do profissional, o tratamento pede paciência. É bem diferente de identificar um sintoma, levar ao médico, fazer o exame no laboratório, tomar o remédio e aguardar a cura. O tempo do tratamento varia conforme o caso e o método.
Paciência, rede de assistência e informação são os ingredientes principais, não só na hora de optar por levar a criança ao terapeuta, mas para lidar com ela todos os dias. “Criança não vem com manual, todos erram e podem corrigir seus erros”, diz a psicóloga Ceres de Araújo, professora da PUC-SP. “A ideia é ajudar os pais a desenvolverem melhor a capacidade de ser pais daquela criança”, diz a psicanalista Gina Levozin.

Para cada caso, uma ação

Os sintomas e diagnósticos variam. Fundamental é o primeiro profissional a atender a criança – seja o pediatra, psiquiatra, psicólogo ou psicanalista – fazer o encaminhamento necessário. Aqui, alguns exemplos dos casos mais comuns que chegam ao consultórios

criança; tristeza; lei da palmada (Foto: Thinkstock)

Meu marido e eu nos separamos e ainda não sabemos como fazer nosso filho, de 2 anos, entender a situação como definitiva.
Mais do que o cuidado focado na criança, a primeira boa orientação profissional deve ser digirida aos pais, que não podem perder o foco de que conjugalidade é uma coisa, e paternidade, outra. “O bom senso deve ser mantido, assim como a comunicação amistosa, com o objetivo de assegurar a saúde mental do seu filho”, diz a terapeuta Regina Glashan. É bom também não subestimar a criança, que já percebe o que está acontecendo.

Minha mãe faleceu de forma inesperada e não sei como lidar com minha filha, de 3 anos, que não para de perguntar pela avó.
A orientação para dificuldades em lidar com a morte sempre varia do grau de proximidade da pessoa que faleceu e a idade da criança. Primeiro, é preciso observar. “Às vezes a criança nem chora, mas manifesta a falta brigando o tempo todo”, diz a psicoterapeuta Maria Helena Franco. Ou, ao contrário: ela pode estar aparentemente bem, mas fazendo perguntas. “Converse com a criança com sinceridade. Tudo com limite, mas esconder sentimentos dela pode só deixá-la mais angustiada. A criança vive a tristeza, sim, e precisamos validar isso.” Em casos mais duradouros, a terapia específica do luto pode ajudar a família toda.

A timidez de meu filho de 6 anos faz com que  ele não se enturme com outras crianças e o está prejudicando na escola.
Se a timidez em excesso atrapalha o convívio social, seria interessante procurar uma ajuda psicológica. “Inicialmente se faz uma avaliação para saber quais os motivos que o levam a se sentir tão retraído, que podem ser questões familiares ou individuais”, aponta a psicanalista Gina Levozin. Para ela, esse grau de timidez pode mostrar insegurança e o trabalho é recuperar a confiança dele em si e no ambiente.

Minha filha acaba de completar 7 anos e está apresentando dificuldade com a leitura e com o básico de matemática.
Em primeiro lugar, é preciso esgotar os recursos da escola, saber que todas as possíveis intervenções já foram feitas. “Se a escola percebe que isso continua e que a criança não está acompanhando a turma pode ser hora de procurar um psicopedagogo. ‘Ir ou não bem na escola’ nesta fase tem a ver com a construção da autoestima e é fundamental mostrar a ela que pode aprender”, explica Quézia Bombonato, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia.

Minha filha tem 4 anos e eu simplesmente acho que ela anda triste.
Para a psicóloga Ceres de Araújo, existem diferentes tipos de tristeza. “Uma criança pode estar doente, anêmica, apática e parecer triste. Ou demonstrar isso quando não é o centro das atenções. Ou pode até ser um sintoma de depressão.” Sim, a doença acontece com crianças pequenas e o melhor a fazer é observar se ela persiste e, nesse caso, procurar ajuda.

E QUANDO O PROBLEMA É COM OS PAIS?
Sensíveis ao que as rodeia, as crianças podem apontar os problemas, mas não ser a fonte. Ou seja: pode não estar acontecendo nada com o filho, mas é ele quem vai revelar a dificuldade da família.
E não apenas estamos falando de casais em conflito – chegando à separação ou não –, perda de emprego de um dos pais, ou outro fator traumático no dia a dia, em que os adultos estejam “pedindo socorro”. Mas também de casos em que a questão seja a exagerada expectativa dos pais e a comparação desmedida com outras crianças. Segundo os especialistas, chegam ao consultório os mais diversos casos. “Desde separações em litígio, ou alguém deprimido, até pais muito invasivos, que exigem demais da criança e do desenvolvimento dela”, explica a psicanalista Gina Levozin.
Muitas vezes os pais procuram o especialista, mas apenas uma conversa já resolve, até com o encaminhamento deles a uma terapia em separado. “A orientação pode ser suficiente. Informação correta acalma ansiedades”, diz a psicóloga Ceres de Araújo.

 Fonte: Revista Crescer

Leave a Comment

Your email address will not be published.

Política Relevantes

TCE vai fiscalizar a execução de emendas parlamentares estaduais

post-image

O plenário do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE/BA) aprovou proposta de Resolução que dispõe sobre a fiscalização e o acompanhamento da execução de emendas parlamentares estaduais e estabelece normas para assegurar a transparência, a rastreabilidade e a conformidade constitucional dessas transferências sobre as normas e procedimentos destinados à fiscalização e ao acompanhamento das emendas parlamentares estaduais, abrangendo também as transferências voluntárias delas decorrentes. A proposta de Resolução teve como relator o conselheiro Inaldo da Paixão Santos Araújo, que acolheu as sugestões de aprimoramento do texto de autoria da conselheira Carolina Matos.

Aprovada na sessão plenária do dia 9 de dezembro, a Resolução 085/2025 entrou em vigor a partir da última sexta-feira (12.12), quando foi publicada no Diário Oficial Eletrônico do TCE/BA, e tem como objetivos fundamentais assegurar a transparência e a rastreabilidade na execução orçamentária e financeira, além da…

Read More
Política Relevantes

Senado aprova aumento na idade máxima para ingresso na PM e Bombeiros

post-image

O Plenário do Senado aprovou, na quarta-feira, 10, o Projeto de Lei 1.492/2020, que altera a idade máxima de ingresso em concursos da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros. Atualmente, a legislação determina o limite de 30 anos para as duas corporações.

Com a aprovação do texto, a idade máxima passa a ser de 35 anos para o quadro de oficiais e praças, e de 40 anos para o quadro de oficiais médicos, de saúde ou outras especializações eventualmente existentes em âmbito estadual ou distrital.

“Estamos diante de um projeto que vai mudar a vida dos concurseiros policiais e bombeiros. O que estamos fazendo é garantir que, uma vez que ele passe, mesmo que o estado demore a abrir a vaga, ele não perde o concurso que se dedicou a fazer”, afirmou o senador Jorge Seif.

Juazeiro Política Relevantes

Cozinha Comunitária em Juazeiro contribuirá para o combate à fome, afirma secretária Fabya Reis

post-image

O enfrentamento à insegurança alimentar será um dos principais destaques da Cozinha Comunitária e Solidária inaugurada no município de Juazeiro neste sábado (13).

O equipamento foi entregue pela secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Fabya Reis, com a presença de outras autoridades, de lideranças locais e regionais, a exemplo do vice-prefeito Tiano Félix.

“Esta ação integra o Programa Bahia Sem Fome e um conjunto de iniciativas no campo do enfrentamento às vulnerabilidades. Aqui serão produzidas refeições de qualidade, ofertadas gratuitamente para a população que mais precisa. Iniciativas como esta contribuíram para a saída do Brasil do Mapa da Fome e seguiremos, assim, neste projeto de transformação social liderado pelo presidente Lula e pelo governador Jerônimo Rodrigues”, pontou.

No município, a ação é uma parceria com a entidade Arcas Norte e Movimento dos Trabalhadores…

Read More
Política Relevantes

Lei do Impeachment entra na ordem do dia do Legislativo

post-image

O Congresso Nacional começa a semana agitado, com mais um round do embate entre o Legislativo e o Judiciário. Parlamentares colocaram na pauta a retomada da tramitação de uma proposta de atualização da Lei do Impeachment de 2023. A movimentação ocorre em resposta direta à decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu trechos da legislação em vigor desde 1950, limitando as possibilidades de abertura de processos de impeachment contra ministros da Suprema Corte.

A articulação do Legislativo ocorre em torno do Projeto de Lei (PL) nº 1.388/2023, de autoria do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e elaborado por uma comissão de juristas presidida por Ricardo Lewandowski, ex-ministro do STF e atual titular da Justiça. A relatoria da matéria está com o senador Weverton Rocha (PDT-MA) e a expectativa é de que o parecer do…

Read More
Política Relevantes

Congresso aprova LDO com superávit de R$ 34 bilhões em 2026

post-image

O Congresso Nacional aprovou nesta quinta-feira (4) o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026. A LDO estabelece diretrizes para a elaboração e a execução da Lei Orçamentária de 2026. 

O texto segue agora para sanção presidencial. Com a aprovação, a expectativa é que o Congresso vote na próxima semana a Lei Orçamentária Anual (LOA) para o ano que vem.

Entre outros pontos, a LDO prevê um superávit de R$ 34,3 bilhões em 2026, o equivalente a 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB). O texto estabelece ainda que o governo poderá considerar o limite inferior da meta para fazer limitações de gastos.

Salário mínimo e limite de despesas

O texto da LDO trabalha com o parâmetro de R$ 1.627,00 para o salário mínimo em janeiro. Mas o valor final…

Read More
Juazeiro Política Relevantes

Prefeito Andrei participa da XXX Cúpula de Mercocidades e projeta Juazeiro no debate internacional

post-image

O prefeito de Juazeiro, Andrei Gonçalves, participou da XXX Cúpula de Mercocidades 2025, o maior encontro de integração entre cidades da América do Sul, realizado de quarta a sexta-feira (05), em Niterói-RJ.

O evento, que celebra os 30 anos da Rede Mercocidades, reuniu prefeitos, gestores públicos, especialistas, acadêmicos, representantes de organismos internacionais e lideranças da sociedade civil para debater caminhos para cidades mais resilientes, pacíficas e sustentáveis.

Durante a cúpula, Andrei integrou o painel “Projetos e Iniciativas em Inovação: o olhar dos municípios”, apresentando as ações que Juazeiro vem implementando na transformação urbana, na modernização da gestão e na promoção de políticas públicas voltadas ao bem-estar da população. “Foram momentos de troca, aprendizado e construção de ideias que fortalecem o futuro das nossas cidades e o compromisso com políticas públicas que melhoram a vida das pessoas. Participei…

Read More
Política Relevantes

Messias inicia corrida final no Senado para salvar indicação ao STF

post-image

O advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), começa a semana com a missão de reverter o cenário desfavorável que encontra no Senado e buscar os votos que podem ser o fiel da balança de sua aprovação.

Articuladores do governo ouvidos pelo Estadão/Broadcast afirmam que o AGU já ativou o modo “atirar para todo lado”, a fim de tentar captar o maior número de votos antes de sua sabatina, marcada para 10 de dezembro, data que o governo tenta postergar.

Alvo de resistência dos parlamentares, o indicado deve manter a estratégia de tentar marcar o máximo de reuniões presenciais com senadores, sejam eles propensos ou não ao seu nome. Quando não recebido, Messias seguirá investindo nas ligações.

Outra frente é a articulação feita por ministros do STF. Nos últimos dias, André Mendonça, Cristiano…

Read More
Política Relevantes

“A crise climática é um problema de saúde pública. Hoje, no mundo, um a cada 12 hospitais paralisa as atividades por causa de eventos climáticos extremos”, diz ministro da Saúde

post-image

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou um investimento de R$ 9,8 bilhões em ações de adaptação no Sistema Único de Saúde (SUS) para construção de novas unidades de saúde e a aquisição de equipamentos resilientes às mudanças climáticas. A medida faz parte das ações do AdaptaSUS, plano apresentado na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém.

O AdaptaSUS prevê estratégias para que a rede de saúde pública enfrente os impactos das mudanças climáticas, contendo 27 metas e 93 ações a serem executadas até 2035. O anúncio foi feito durante a construção de novas unidades de saúde e a aquisição de equipamentos resilientes às mudanças climáticas.

“A crise climática é um problema de saúde pública. Hoje, no mundo, um a cada 12 hospitais paralisa as atividades por causa de eventos climáticos extremos. Para…

Read More