Projeto Pontal: Dez anos paralisado
Parece-me que, muitas vezes, os Governos da República e dos Estados ignoram, totalmente, como vivem os brasileiros do Semiárido. Parece mesmo pensar que o Brasil é todo igual, igualzinho em tudo. Erro crasso, rigorosamente imperdoável.
Vejamos: o clima é diferente, a educação é diferente. Tão diferente que em outras regiões, estão a riqueza e no Semiárido, a pobreza. Muitas vezes, a pobreza extrema.
Prestem atenção a este descaso. O Projeto de Irrigação Pontal teve suas obras iniciadas em 1998. No Governo Fernando Henrique Cardoso, foram investidos de R$ 169.000.000,00, cerca de 65% da infraestrutura. Há dez anos tudo está paralisado. Obra inacabada.
O projeto objetivava uma área total de 16.648 hectares, dos quais 7.641 hectares correspondem à superfície agrícola irrigável útil, 3.569 hectares serão aproveitados para pecuária de sequeiro, tecnificada e 240 hectares com piscicultura, além de 5.198 hectares que formam a reserva legal. São 768 lotes irrigados com unidades familiares e 100 lotes para empresas. Isso iria promover 778 operários em pequenos proprietários e oportunizar 100 empresários.
O capital humano que sonhava com estas oportunidades na região é grande, ou seja, proprietários rurais que foram desalojados do projeto. Técnicos em Ciências Agrárias, egressos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano. Agrônomos graduados na Faculdade de Agronomia do Submédio São Francisco, de Juazeiro/BA. Egressos da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), e muitos dos concluintes das Faculdades de Administração.
Todo esse sonho ameaçado com o jeito neocapitalista do Governo Federal de adotar, experimentalmente, a Parceria Público-Privada (PPP), ideia que se arrasta há dez anos sem definição (no caso, entregar a terra molhada a uma megaempresa).
O projeto recebeu aporte de R$ 3.400.000,00 do Governo do estado de Pernambuco, na época do governador Jarbas Vasconcelos. Naquele momento, o Governo tinha interesse pelas obras estruturadoras da economia do Semiárido. O projeto de engenharia do Pontal previa, também, uma derivação do canal principal para o abastecimento do açude Vira-Beiju, que iria possibilitar a implantação de abastecimentos d’água em povoados e sítios localizados nas proximidades do Projeto.
Considero tudo isto uma indiferença, um desrespeito ao povo sofrido do semiárido. Até quando o Governo Federal vai abusar de nossa paciência? Até quando o nosso silêncio será interpretado como tolerância e acomodação diante da negligência e da incompetência?
Em dez anos era tempo do Projeto Pontal estar funcionando a toda carga, gerando empregos e dinamizando a economia. Confio na presidente Dilma Rousseff. Pelo que sei, esta situação não combina com seu estilo de gestão.
*Osvaldo Coelho