Durante discurso para os empresários nesta segunda-feira (25), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, usou a expressão “minicrise” para se referir à atual situação econômica e cambial do país.
Na sequência, ao ser questionado pelos jornalistas se esta era a primeira vez que o ministro da Fazenda admitia que o país estava passando por uma crise, Mantega respondeu: “O que eu falei na minha apresentação é que nós estamos administrando uma crise desde 2008, com altos e baixos. e o que eu disse é que esta turbulência de agora é inferior ao que aconteceu em 2011, 2012 que é a crise europeia.”
“O que eu mostrei ali é que o Brasil, diante desta minicrise que nós falamos, ele está numa situação relativamente segura porque nós temos mais reservas, não está faltando dólar no spot (mercado à vista) e o câmbio está caindo talvez por uma virtude nossa. O real se desvaloriza mais talvez por uma virtude, não por um defeito. Qual é a virtude? Nós temos um mercado mais líquido, mais internacionalizado, mais aberto, que é o nosso mercado de derivativos”, acrescentou.
Segundo ele, desta vez a crise é menor porque os países avançados estão se recuperando. “Essa é a boa notícia que eu tentei dar. (…) Os Estados Unidos estão se recuperando, a China parou de desacelerar e voltou a acelerar e essas são as duas locomotivas mundiais. A terceira locomotiva é a União Europeia, que pela primeira vez deu um dado positivo, saindo da recessão.”
Se este movimento se consolidar na União Europeia, com mais dois, três ou quatro resultados positivos, é possível afirmar “que a economia mundial está saindo do buraco e vai começar a irradiar crescimento para os emergentes que, neste momento, sofreram um pouco, inclusive o Brasil”, destacou o ministro.
BC pode injetar até mais que US$ 60 bi, diz Mantega
Questionado sobre se havia uma perspectiva para o patamar do câmbio, Mantega afirmou que isso dependerá da atuação do banco central norte-americano (Federal Reserve). “Cabe a ele fazer os movimentos que vão acalmar este mercado, desde que foi ele que causou esta turbulência. Quando começarem a retirar os estímulos e eles estiverem quantificados, o mercado se acalma. Porque o mercado fica nervoso quando ele tem indefinição”, disse.
Segundo ele, se for preciso, a injeção de US$ 60 bilhões do Banco Central pode ser ainda maior. “Não não colocamos nada, é câmbio futuro. Só faz uma aplicação, uma aposta. (…) O Banco Central falou em US$ 60 bilhões, podemos até ter mais que US$ 60 bilhões, se for o caso. Não temos limite para isso”, disse.
Sobre o fato de o real ser uma das moedas que mais estão sofrendo ante o dólar, o ministro disse ainda que isso se deve, em parte, ao fato de ao país ter um mercado muito aberto, mas garantiu que o Brasil “tem muita reserva, tem muita munição para enfrentar uma situação como essa”.
Segundo ele, a situação do Brasil é mais favorável que a de outros países. “Na soma dos países emergentes já houve uma redução de reservas de US$ 150 bilhões. Aqui no Brasil não caiu nenhum tostão, nenhum dólar saiu do Brasil”, afirmou.
De acordo com Mantega, em outros países o problema é de falta de dólar, o que não ocorre no Brasil. “Aqui não falta dólar. Aqui, no mercado à vista, está sobrando, o mercado está líquido. Onde ocorre a desvalorização do real é no mercado futuro, mercado de derivativos onde os fundos ficam comprados em real. É mais por uma questão ou de fazer hedge ou é uma aposta para ganhar dinheiro”, disse.
Segundo ele, o movimento ocorre com mais intensidade no Brasil porque o país tem o mercado mais aberto, mais líquido, mais seguro de derivativos. “Nós temos muitas reservas, o Banco Central está entusiasmado em não deixar que haja uma flutuação excessiva”, acrescentou.