A violência entre os menores infratores internados nas unidades do Departamento de Ações Socioeducativas (Degase) do Rio já causou duas mortes e 12 tentativas de homicídio. Em 2013, não houve assassinatos e apenas duas tentativas no sistema socioeducativo. No segundo dia da série “Novo Degase, velhas práticas”, o EXTRA mostra que a rotina das unidades para menores infratores do Rio continua marcada pela violência entre os jovens, seja com guerras entre facções criminosas rivais ou punições após o descumprimento das regras de convivência impostas pelos adolescentes.
No dia 9 de julho deste ano, Marcos Antônio dos Santos Tavares, de 17 anos, que estava internado no Dom Bosco (antigo Instituto Padre Severino), não conseguiu escapar das agressões dos outros colegas de alojamento e foi assassinado. Segundo o atestado de óbito, seu fígado foi rompido com os socos e pontapés na barriga. Marcos teria sido morto após um desentendimento com os garotos. O motivo? Recebeu um apelido que não lhe agradou. Antes, Marcos já tinha sido acusado pelos seus algozes de pertencer a facção rival àquela que ele tinha dito pertencer, e precisou “desenrolar”, ou seja, negociar, mas acabou aceito pelos garotos, de acordo com os relatos dos próprios à Justiça.
A mãe de Marcos Antônio, que prefere não se identificar, com medo de represálias, não se conforma de seu filho ter sido morto dentro de uma unidade na qual estava sob os cuidados do Estado.
– Alguma coisa está errada. Com tantos agentes lá dentro para cuidar dos garotos, como não ouviram meu filho gritar por socorro? Por quê ninguém socorreu o meu filho? Do jeito que ele foi morto, com tanta violência, com certeza sofreu muito. E deve ter gritado muito. Então quer dizer que foi falta de socorro. Ninguém socorreu meu filho e deixaram ele ser morto lá dentro do Degase. Pensei que ele sairia de lá com vida, mas saiu morto, dentro de um caixão – lamentou.
Três meses antes, na mesma unidade, outro adolescente havia sido assassinado após uma briga de facções rivais. No Degase, assim como nos presídios, os menores são separados pelos funcionários, nos alojamentos, de acordo com as facções do tráfico. Em algumas atividades, no entanto, os rivais se encontram e os conflitos explodem.
De acordo com o diretor geral do Degase, o coronel da PM Alexandre Azevedo, após a morte dos adolescentes, houve mudança na rotina de segurança do Dom Bosco. Além disso, ele afirma que foi criada uma nova unidade apenas para atender os adolescentes de primeira passagem, como era o caso das duas vítimas.
Azevedo reconhece o aumento da violência entre os adolescentes, e afirma que o Degase tem se preparado para tentar lidar com isso.
– Esse fato (crescimento das agressões entre os jovens) chama atenção pela banalização da violência. Nessa perspectiva, é preciso analisar as mudanças do perfil social do adolescente em conflito com a lei, tarefa que o Degase tem buscado realizar – analisa.
Para um defensor público do Coordenação de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cededica), que prefere não se identificar, os casos de agressões entre os jovens são resultado de um despreparo de Degase para recepcionar com os menores.
– Os agentes socioeducativos precisam estar preparados para lidar com esses conflitos. Precisam ter preparo para conter os jovens de maneira correta, sem violência – avalia.
Extra Globo