Deflagrada na manhã de terça-feira 22, a 26ª fase da Operação Lava Jato mira a empreiteira Odebrecht, com buscas na capital baiana, no Distrito Federal e em outros 8 estados. Batizada de “Xepa”, a nova fase enfoca o suposto esquema de contabilidade paralela na Odebrecht, destinado ao pagamento de propinas e vantagens indevidas a terceiros.
Profissionalmente organizado, segundo os investigadores, o esquema era chamado de “setor de operações estruturadas”. Tal departamento armazenaria dados referentes ao pagamentos ilícitos e permitiria a “comunicação reservada” entre funcionários e executivos envolvidos no esquema.
As investigações suspeitam que, mesmo com o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, preso, os pagamentos ilícitos ocorreram até novembro de 2015, de acordo com o Ministério Público Federal.
A operação mobilizou 380 policiais federais, responsáveis por cumprir 110 ordens judiciais, entre mandados de busca e apreensão, condução coercitiva, prisão temporária e prisão preventiva.
A 26ª fase é um desdobramento das investigações centradas no ex-marqueteiro João Santana, que comandou as campanhas eleitorais de Lula e Dilma a partir de 2006. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, foi a partir do material recolhido no âmbito daquela investigação que planilhas de controle de pagamentos de propinas foram encontradas.
O material, que será enviado também para outros estados, devera ensejar outras investigações relacionadas, ampliando o escopo da Lava Jato para além da Petrobras.
Em acordo de delação premiada, a ex-funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares Guimarães detalhou o funcionamento do “setor de operações estruturadas”. Segundo o depoimento, em agosto de 2015, após a prisão dos principais dirigentes, a empreiteira eliminou o setor, enviou os principais executivos envolvidos para o exterior e promoveu “aparente destruição ou ocultação de provas”, segundo o despacho do juiz Sérgio Moro acerca da 26ª fase da Operação Lava Jato.
Ao menos 14 executivos foram relacionados no despacho, identificados como “solicitantes de pagamentos paralelos ao setor de operações estruturadas da Odebrecht”. No documento divulgado hoje, há citação de pagamentos a terceiros, ainda não identificados, relacionados a obras realizadas pela empreiteira.
Entre elas, o suposto pagamento de 1 milhão de reais em espécie, relacionado à obra do Porto Maravilha, projeto de revitalização da região portuária do Rio de Janeiro, no escopo das obras de infraestrutura das Olimpíadas 2016. Há também dois pagamentos, de 10 mil e 100 mil reais, supostamente efetuados por Nilton Coelho de Andrade Júnior, diretor de contrato da Odebrecht Infraestrutura, responsável por obras da extensão do Trensurb, no Rio Grande do Sul.
Outro diretor de contrato da Odebrecht Infraestrutura, Antônio Roberto Gavioli, de acordo com as investigações, seria responsável pela obra da Arena do Corinthias, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014.
O executivo aparece em planilhas como responsável por solicitação de pagamentos em espécie de R$ 500.000,00, para pessoa identificada pelo codinome “Timão”. Outras obras, como a do aeroporto de Goiânia (GO), também aparecem na planilha relacionada a dois pagamentos, de 1 milhão e de 400 mil reais, dirigidas para pessoa identificada como “Padeiro”.
Carta Capital