Comunidade árabe busca maior aproximação com o Brasil

Agência Brasil

Como parte das comemorações do Dia da Comunidade Árabe no Brasil, ontem (24) a Câmara Legislativa do Distrito Federal recebe, até o dia 6 de maio, a exposição O Mundo Árabe: Civilização e Diversidade. Segundo o argelino Nacer Alem, embaixador da Liga dos Países Árabes no Brasil, a mostra ilustra as diferenças religiosas, culturais e políticas entre os países da região e tem como objetivo estreitar laços com a população brasileira.

“A civilização árabe tem uma grande diversidade e muitas diferenças religiosas. Tem cristãos, muçulmanos, judeus. A maioria é de muçulmanos, mas tem os xiitas e os sunitas, por exemplo”, explica Nacer. Em certos países os casamentos são mistos e não tem problema, mas em outros [países] tem uma festa dos homens e outra das mulheres. E ambos países são muçulmanos”, comenta o embaixador.

O Brasil é um país que recebeu intensa imigração árabe. De acordo com Nacer, a presença dos brasileiros de origem árabe é estimada em 11 milhões de pessoas. “Ás vezes são descendentes distantes, mas os brasileiros guardaram laços [com os países de origem], mesmo não falando árabe. Certamente o fato de o Brasil ser miscigenado quando da chegada dos árabes, facilitou as relações entre o Brasil e os países árabes. O Brasil é muito acolhedor e essa diferença da cor da pele e da religião não é tão visível”, afirmou.

O embaixador falou à Agência Brasil também sobre temas como terrorismo, preconceito, economia, direito internacional, entre outros. Em relação ao Estado Islâmico, Nacer afirmou achar absurdo o uso do termo “Estado” por parte do grupo terrorista, uma vez que não tem estatuto de Estado. Durante toda a conversa, o embaixador usou o termo “Daesh” para se referir ao grupo.

“Não há nada na religião muçulmana que autorize usar, em nome da religião, o termo Estado Islâmico para matar. O suicídio é um dos grandes pecados na religião muçulmana. Deus não aceita isso, é imperdoável. É pecado. Nada justifica alguém usar um cinto explosivo para matar pessoas, ainda menos na religião muçulmana. Olhando de perto o percurso, o currículo dessas pessoas, a maioria é de criminosos, pessoas que tiveram um passado criminoso, no tráfico de drogas, de armas, estupro, roubos”, afirmou Nacer.

Segundo o embaixador, a exposição foi feita porque, quando se fala do mundo árabe, geralmente destaca-se a situação da Síria, Estado Islâmico, Iraque, terrorismo. “Então, quando as pessoas assistem a televisão acham que só há coisas negativas. O mundo árabe é um mundo de paz e tolerância. Ninguém pode aceitar o terrorismo, massacres explosivos, a morte inocentes em nome da religião”.

“O problema é que o terrorismo é um fenômeno antigo. Aconteceu de uma maneira muito forte na Argélia, nos anos 1990. Foram mais de 100 mil mortos em um conflito que durou uma década. Na época, o termo não era utilizado pelo mundo ocidental, falavam em guerra civil, mas era terrorismo. Eu saía de manhã de casa e não sabia se ia voltar, um ônibus ou carro podia explodir. É verdade que o país não tinha um regime democrático, mas nada justifica matar inocentes”.

A guerra civil argelina durou de 1991 a 2002, quando grupos radicais islâmicos tentaram tomar o poder, mas acabaram sendo derrotados pelo governo da Argélia.

Em relação ao papel da Liga dos Estados Árabes, Nacer explicou que a instituição, criada em 1945, servia, inicialmente, para ajudar os países árabes a conquistar independência. Com o passar dos anos, outros objetivos, como a defesa comum, a dimensão política e econômica; a saúde, a justiça e o trabalho foram sendo desenvolvidos.

“Na área do transporte, por exemplo, as regras e as leis são praticamente as mesmas para todos os países da Liga. Há um projeto de conectar todos os países da Liga Árabe por vias férreas, trens. O trecho entre Marrocos, Argélia e Tunísia já existe. O trecho do Sudão com o Egito já existe, mas faltam alguns trechos, na Líbia, na Palestina, por causa de problemas políticos com Israel. Mas podemos dizer que essa rede de vias férreas está 80% feita”, disse.

Ele informou que existe também um projeto de ligar todos os países por rede elétrica comum, porque as capacidades são diferentes de um país a outro. A Argélia, em determinado momento do ano, tem um excedente importante. O Egito, no verão, tem uma demanda enorme, que não consegue suprir, por causa do nível do rio Nilo e do turismo. Então, a ideia é repartir essa energia elétrica entre os países da Liga”, explica.

Nacer afirmou que, entre eles, há um acordo de livre comércio. Alguns países protegem certos produtos para não prejudicar a produção nacional mas, de maneira, geral, não há barreiras tarifárias entre os países.

A Liga dos Estados Árabes é composta por 22 membros: Arábia Saudita, Argélia, Bareine, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuaite, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Palestina, Síria (suspenso), Omã, Somália, Sudão e Tunísia.

O embaixador afirmou que, apesar de a Liga ter um papel importante na negociação entre os países, não há conselho sobre segurança. Desta maneira, quando existem conflitos que tomam dimensões internacionais é a Organização das Nações Unidas que toma a frente.

“O mundo árabe atravessa um momento bem difícil. No exterior pode parecer que a Liga Árabe não assume seu papel [nos conflitos], mas estamos sempre ao lado, trabalhando em colaboração com o Conselho de Segurança da ONU e ajudando na resolução dos problemas”.

Para o representante da Liga, manter relações com o Brasil é muito importante para os países árabes, principalmente pelo peso que o país exerce política e economicamente na América do Sul.

“Nas negociações internacionais é preciso ter ligações com outros blocos regionais, outros países. O Brasil sempre teve como foco o respeito ao Direito Internacional. E os países da Liga Árabe concordam com esse aspecto. Nas discussões regulares do Brasil, sobre a situação nos países árabes, como a Síria, o Brasil tem uma posição louvável. A respeito da questão síria, o Brasil insiste na integridade territorial do país e defende que não pode haver influências externas na escolha do governo. É importante que tenham soberania, escolham seu governo e presidente. Isso é uma posição forte e muito apreciada no mundo árabe”.

De acordo com Nacer, as relações econômicas entre o Brasil e os países da liga são muito fortes e aumentam a cada ano. Quase todos os países árabes têm relações comerciais aqui. Os produtos que o Brasil mais exporta são: carne, frango, açúcar, café e madeira. As importações são predominantemente de produtos petrolíferos, adubos, peças de automóveis, concreto e sal.

Segundo a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, de 2002 a 2013, o comércio com os países da Liga Árabe passou de US$ 4,9 bilhões para US$ 25,4 bilhões (saldo de US$ 2,6 bilhões para o Brasil em 2013).

A exposição foi organizada pelo Conselho de Embaixadores Árabes no Brasil e pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. A entrada é gratuita e o acervo contém fotos, quadros, objetos de arte, trajes típicos, banners, quadros, vasos e objetos de porcelana de 16 países.

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