No ano em que o Estatuto do Idoso completa 10 anos de vigência, o Abrigo Pedras Preciosas completa 25 anos de fundado. O Estatuto, sancionado em 2003, comemora junto com o Dia Internacional do Idoso, 1º de outubro. O Abrigo dia 20 de agosto de 1988, um sábado, sem qualquer comemoração especial nestes calendários em que são anotados as datas festivas e os eventos.
Em uma das ruas, destas quadras, quadradas, sem imaginação da Vila (que agora é bairro), São Joaquim, Sobradinho, em um prédio que destoa da falta de calçamento, por ser bonito, cuidado e com jardim, está lá: Abrigo Pedras Preciosas.
Destes vinte e cinco anos, mil histórias poder-se-ia contar de um local fundado, construído e mantido para ser o final das histórias de vida de pessoas que, na sua maioria, chegam sem acreditar que é possível viver depois de perder juventude. Histórias dos tempos ruins, dos tempos bons, das dificuldades e, porque não dizer, da busca para ser o substituto do lar que estas pessoas perderam ao longo da existência.
Para ser Lar e atender às necessidades, crescentes e cada vez mais complexas que a idade avançada cria, o Abrigo ganhou uma clínica inteira de fisioterapia da Associação Manos Unidas da Espanha e Associação Ajuda Solidária (Filhas de Jesus – Espanha); denominada Madre Cândida Maria de Jesus, uma homenagem da Congregação Filhas de Jesus em Sobradinho à época, resultado do empenho da Irmã Angélica, Paróquia São Francisco de Assis, através do vigário Padre João de Sena.Tem um refeitório, ala de recreação e um pátio iluminado pelo sol e vegetação colorida.
Para afastar as sombras presentes nas histórias de seus abrigados, os quartos são claros, as roupas limpas, as camas confortáveis e os corredores decorados com alegria. Confundindo-se com a história do Abrigo, a presidente e “quase mãe de todos estes meus filhos”, Vanderléia dos Reis Ribeiro, detalha cada realização, dando o nome dos benfeitores: “A prefeitura nos dá o fisioterapeuta duas vezes por semana, em troca abrimos espaço para pessoas da comunidade que precisam de tratamento. O SESC de Petrolina nos envia frutas e iogurtes toda semana. A Casa de Nazaré, da Congregação das Filhas de Jesus em Belo Horizonte envia três mil reais todo mês. A prefeitura voltou a nos doar três mil reais por mês, com um convênio firmado em abril de 2013, para aquisição de alimentos, valor que nos é de grande ajuda”.
Além destes parceiros regulares, Vanderléia lembra que a comunidade de Sobradinho participa com visitas e o comércio local, entidades civis e religiosas nunca deixam de contribuir: “Só podemos agradecer e muito” – diz.
Tem ainda a contribuição do Programa Fome Zero do governo federal, mas de governos, federais e estaduais é só isso: “Já insistimos, mas os prefeitos de Sobradinho nunca se sensibilizaram para criar e fazer funcionar o Conselho do Idoso. Sem o Conselho não podemos manter convênios”.
Em seus 118 artigos o Estatuto do Idoso detalha cada cuidado, assume inúmeros compromissos e, entre dezenas de outras coisas decreta que a família do idoso será priorizada: “Artigo 3º, Parágrafo Único, Item V: priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;”.
Quem está no Abrigo ou não tem família ou tem e com ela rompeu todos os laços ou a família não pode suprir suas necessidades. Cada um deles tem a renda mínima estabelecida pelo governo e é com este dinheiro, insuficiente, que contribuem para prover sua subsistência no “atendimento asilar”. São histórias de abandono, de rejeição por parte da família e muitas por parte próprio abrigado.
“Não é fácil, não é simples, mas é gratificante” – sorri Vanderléia – “Vim para cá há quinze anos, para ficar um mês e nunca mais fui embora”, e completa com ênfase: “Nem quero ir!”.
Para não ir precisa de muito mais coisas: “Um carro. Se tivéssemos um carro a vida ia ser menos complicada”, diz referindo-se à dificuldade de locomover os abrigados para tratamentos específicos em Juazeiro e Petrolina. Quem aí se dispõe? E com o carro viriam mais compromissos: A manutenção, o abastecimento. Mas, um carro, ah… seria o máximo.
Enquanto o carro não vem cobra do prefeito a instalação do Conselho do Idoso e porque não? O calçamento da rua do abrigo.
Por baixo, nos meses tranquilos, para atender aos vinte e cinco abrigados, “30 mil dá”, mas, quase sempre “não conseguimos tudo. Sorte nossa”, diz, repassando à sorte o resultado das peregrinações em gabinetes, escritórios e empresas, “que temos conseguido cumprir nossos compromissos” e para não quebrar o ritmo pede ao jornalista: “Poderia fazer um favor: Ir buscar a médica do PSF que atende aqui?”.
Concluindo: O Abrigo Pedras Preciosas é imprescindível. Prefeito de Sobradinho, até por ser jovem, agilize o Conselho. Quem estiver por aí e puder doe um carro, doe o que puder e vá visitar o Abrigo.
Lá no começo dissemos que o 20 de agosto não era marcado por nenhuma efeméride nestes calendários. Tem um engano aí. Dia 20 de agosto de 1923, exatos sessenta e cinco anos, o número em que se entra para a classificação de “idoso”, nasceu Dina Mangabeira, poeta, que poucos conhecem, que escreveu: “Quando desatar o laço do presente que lhe dei, não deixe cair o abraço que dentro dele enviei”.
Pois é isso: Por menos presentes que os idosos que nos rodeiam ou que estão no Abrigo Pedras Preciosas tenham nos oferecido, lembre-se: Veio um abraço junto. Retribua!