Para analisar toda e qualquer ação, seja de reforma, mudança ou transformação social, é imprescindível que o observador, mediante o mecanismo da introspecção, se situe no ponto de vista do ator; posto isto, sustento que o vazio partidário e sindicalista que se dá nesse movimento de revolução nas ruas é porque, aos olhos dos cidadãos, todos os partidos e sindicatos tradicionais de esquerda e/ou direita estão atrelados aos governos, e todos os governos (municipal, estadual e federal) estão buscando pactos de governabilidade com baseem uma coalizão com as estruturas, tanto partidárias, quanto sindicais, com uma demonstração de tentativa de eliminar qualquer possibilidade de oposição, desconhecendo o fato de que,quando a oposição é forte, segundo a razão, bom senso e boa intenção; bem como a capacidade, conhecimento e atitude; e ainda, se ela é, ao mesmo tempo, inteligente, instigante e interessante, então o Estado é tão forte quanto.
Não devemos entender a crítica a esta coalizão petista com defesa de um estado mínimo com deseja os conservadores neoliberais, o problema é que com esta coalizão só sobrou a oposição cidadã, uma oposição com base na consciência e na razão das pessoas que não se sentem representadas diante desse arquétipo de governabilidade, ondeas pessoas que estão livres de vínculos com as estruturas tradicionais estão fazendo a transformação pragmática e histórica,baseada em uma sinergia que se sustenta nas redes sócias e encontram afinidades entre uma razão prática e até mesmo positivista mediante a necessidade da retomada de uma ordem sem corrupção. Assim, toda crise, principalmente se global, enquanto atual, demonstra a indubitável necessidade de reformulações em um dado sistema no qual a noção de especulação individual deve ceder lugar à noção de responsabilidade social, pois só assim se constrói República.
A humanidade não é apenas um conjunto de pessoas, mas sim uma espécie em expansão.ALei de Evolução é prova cabal disto, senão vejamos: há cerca de cinco mil anos surgiu uma das primeiras revoluções, e construímos as primeiras noções de civilizações organizadas; há quinhentos anos fizemos a revolução industrial, amadurecemos os meios de produção e mecanizamos as relações; há cinquenta anos fizemos a revolução tecnológica, aceleramos a informação e midiatizamos as relações; nos últimos cinco anos,começou-seuma revolução de consciência, porém inobservada e/ou ignorada por aqueles que detêm o poder decisório, principalmente em nossa sociedade.
Visualizado o quadro abaixo da linha do tempo, podemos compreender um pouco do nosso processo histórico de ser no mundo, onde caracterizam os períodos os paradigmas, os modos de produção e bases das relações de poder:
PERÍODO PARADIGMA PRODUÇÃO PODER
Arcaico Mitológico Agrícola (1ª) Glória
Id. Antiga Antropocêntrico Agrícola (1ª) Palavra
Id. Média Teocêntrico (?) Agrícola (1ª) Terra
Id. Moderna Antropocêntrico Manufaturada (2ª) Capital
Id. Contemp. Antropocêntrico Manufaturada (2ª) Capital
Pós-Modernidade Tecno-Homo Tecnológica (3ª) Informação + Conhecimento
Hoje em dia já temos consciência e percebemos que a tecnologia pode produzir e difundir a informação.Contudo,só o ser humano produz conhecimento; porém, ainda estamos defasados na compreensão da razão da existência para a construção do equilíbrio dinâmico que produza harmonia social no globo como um todo.
Depois de toda essa caminhada histórica, muitos de nós humanos encontram-se em estado de pobreza.Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, de 7 bilhões de pessoas, que é o total de seres humanos no planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha de pobreza. Então, nós não podemos dizer que o capitalismo e as formas de governos vigentes e ditas democráticas, na maioria tiveram êxito. Hoje temos os que vivem em pobreza material; e outros, ditos ricos, em pobreza espiritual; e outros em ambas as situações; pois muitos de nós, nesse sistema, perdemos a saúde para ganhar dinheiro e depois não temos dinheiro para recuperá-la.
Em qualquer que sejam as condições sociais em que os indivíduos se encontrem,todas provocam inquietações que demonstram uma crise factual de consciência no sujeito, que uma vez dualizado entre o certo e o errado; o bem e o mal; o capitalismo e o socialismo; e sem clareza de propósitos na sua busca de segurança, satisfação e felicidade, incessantemente, terminam por explodir em uma manifestação globalizada de questionamentos, que encontram solidariedade entre os também insatisfeitos mundo afora.Nesta manifestação da condição de incerteza,a qual esses sujeitos e/ou atores sociais reconhecem como forma saturada de viver em sociedade, ou seja, parece que o escravo moderno dá sinais de rejeição da sua condição, buscando sua emancipação através da expansão natural de sua consciência, no mínimo político-cidadã. Consideramos o fato dessa crise individual um caos produtivo nesse momento.
Leonardo Boff,em recente artigo publicado, nos trás o poeta cubano Ricardo Retamar, que nos diz: “O ser humano possui duas fomes: uma de pão, que é saciável; e outra de beleza, que é insaciável”. Sob beleza se entende educação, cultura, reconhecimento da dignidade humana e dos direitos pessoais e sociais, como saúde com qualidade mínima e transporte menos desumano.Essa segunda fome não foi atendida adequadamente pelo poder público na nossa sociedade, seja do PT ou de outros partidos. Os que mataram sua fome querem ver atendidas outras fomes, não em último lugar: a fome de cultura e de participação. Avulta a consciência das profundas desigualdades sociais, que é o grande estigma da sociedade brasileira. Esse fenômeno se torna mais e mais intolerável na medida em que cresce a consciência de cidadania e de democracia real.
A evolução da sociedade exige tanto reformas, quanto mudanças, como transformações.Reformas e mudanças são transformações adiadas; eis que os dirigentes dos governos precisam transformar-se, a não ser que ainda não tenham grau de inteligência significativo para empreender acerca da razão de sua função social, bem como qual o seu papel diante do novo paradigma que se apresenta nas ruas. No entanto, vale lembrar que só as transformações consistentes, diretas, corretas e completas libertam uma sociedade das amarras da mediocridade.
O que não é mais aceitável mesmo é o engodo político, como por exemplo: no momento dessa explosão de cidadania,em que a sociedade exige e anseia por respostas contra as mazelas das corrupções, o poder político desta mesma sociedade, que está intrinsicamente implicado no processo, procura formular perguntas, em forma de plebiscito, com o claro objetivo de desviar a atenção e o foco do real problema. Isso é o mesmo que tentar adiar o inevitável, ou seja, fazer mudanças para adiar as transformações necessárias. Esse descompasso proposital não terá vida longa, pois há uma razão maior que requer sua materialização, e todos sabem disto.
Devemos sempre relembrar que transformação social alguma ocorre senão primeiro em nós, em nossa individualidade, e a partir do nosso interior – coisa da consciência. A indignação indica que algo há de errado na sociedade.Porém, não devemos esquecer da nossa responsabilidade, enquanto cidadão e eleitor, pois, afinal, a Sociedade Brasileira é e está como nós a fazemos e construímos até então. Portanto, quem quiser ver o culpado pelo caos social, que se olhe no espelho, pois nós votamos e muitas vezes não sabemos nem porque votamos. Isso precisa mudar!
Penso que temos uma juventude mais bem informada, em função de todo o aparato tecnológico que produz rede das redes nas ruas, e devemos tirar o melhor dessa experiência, pois já sabemos que todos nós nascemos e vivemos dentro de um contexto social que é muito mais amplo do que nossa existência individual nesse mundo de redes sociais, e a crise social nada mais é do que o produto de nossa crise individual. Ela é a demonstração factual do resultado coletivo de nossas ações individuais, pois, quando agimos, as projetamos no social; e aquilo que parecia devaneio e queixume de internautas ganhou materialização nas ruas.
Indubitavelmente percebo que todo esse movimento é fruto das mentes cansadas de tantos desencontros, e que vem buscando a retomada da direção da consciência cidadã, da harmonia social, em tempos da midiatização das relações,visto que 144 homicídios por mês em nossa cidade já é mais que o suficiente para a sociedade refletir e buscar alternativas, mesmo sabendo que toda crise social ou ecológica se radica em crises individuais ou psicológicas, principalmente entre aqueles que amam o poder, mas não tem o poder de amar.E também não dá mais para governar só com pão e circo, mesmo porque, o circo da FIFA ficou muito caro, excluindo negros e pobres da periferia, em uma clara segregação econômica e cultural, produto da colonização Fifense e com a concordância conveniente dos nossos governantes em nome do progresso. Tenho dito!!
por Gel Varela