Copom sobe juro para 8,5% ao ano na terceira elevação seguida

Pressionado pela alta do dólar e seu impacto na inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu nesta quarta-feira (10) e decidiu aumentar a taxa básica de juros da economia brasileira de 8% para 8,5% ao ano, uma alta de 0,5 ponto percentual.

Esse foi o terceiro aumento consecutivo na taxa Selic, que vem subindo desde abril deste ano, o que elevou os juros para o maior nível desde abril de 2012 – quando estavam em 9% ao ano.

A decisão também levou o Brasil à vice-liderança no ranking mundial de juros reais (após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses), calculado pelo MoneYou, com taxa de 2,5% ao ano, perdendo apenas para a China (2,9% ao ano). No fim de maio, na reunião anterior do Copom, o país estava em quarto lugar nos maiores juros reais de todo mundo.

Com o aumento de 0,5 ponto nos juros básicos da economia, o Copom também confirmou a aposta quase unânime dos economistas do mercado financeiro. Os analistas projetam ainda mais duas elevações neste ano para a taxa de juros, que, segundo suas estimativas, deverá fechar 2013 em 9,25% ao ano.

Ao fim do encontro, foi divulgada a seguinte frase: “Dando prosseguimento ao ajuste da taxa básica de juros, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 8,50% ao ano, sem viés. O Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”.

Sistema de metas e objetivo do BC

Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o IPCA. Ao subir os juros, o BC atua para controlar a inflação e, ao baixá-los, julga, teoricamente, que a inflação está compatível com a meta. Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Entretanto, o próprio Banco Central tem previu, no relatório de inflação divulgado no fim de junho, um IPCA próximo de 6% neste ano. Os dados mostram que a instituição manteve a taxa básica de juros inalterada na mínima histórica, em 7,25% ao ano desde outubro do ano passado, elevando-a somente em abril, mesmo com a deterioração do cenário de inflação registrado no primeiro trimestre deste ano. Em doze meses até junho, o IPCA somou 6,7%.

“Mesmo com o BC apertando a política de juros, acho que a inflação vai continuar perto de 6% neste ano e em 2014. Se não apertar, piora. Eu acho que o BC, depois de ter promovido uma queda muito grande anteriormente nos juros, sem ter a garantia de que a inflação estava sob controle, demorou muito para começar a subir a taxa básica”, avaliou Alcides Leite, economista e professor da Trevisan Escola de Negócios.

A alta de juros, segundo economistas, também pode impactar, entretanto, o crescimento da economia brasileira, que tem sido constantemente revisado para baixo. No fim de 2012, o mercado financeiro estimava que o Produto Interno Bruto (PIB) do país avançaria 3,30% neste ano. Na semana passada, a previsão já havia recuado para um crescimento de 2,34% e já há economistas falando em 2% de alta.

Alta do dólar e mercado de trabalho

O economista Alcides Leite avaliou que o fator que mais influenciou o Copom a subir os juros nesta quarta-feira é a alta do dólar – que opera próximo de R$ 2,30 devido à sinalização dos Estados Unidos em retirar os estímulos monetários nos próximos meses, e também por conta de dúvidas sobre a condução da política econômica no Brasil. Até meados de maio, a moeda norte-americana oscilava ao redor de R$ 2.

“Não podemos desconsiderar que quase 25% dos produtos consumidos em nossa economia são importados, e assim, o dólar elevado acentua pressão inflacionária mais intensa”, avaliou Sidnei Nehme, da NGO Corretora.

Analistas do mercado analisam que uma alta de R$ 0,10 no preço do dólar poderia ter um impacto de, no máximo, 0,2 ponto no IPCA deste ano. Deste modo, se o dólar estava em cerca de R$ 2 antes da sinalização do BC norte-americano e passou, atualmente, para um valor próximo de R$ 2,30, o impacto seria de até 0,6 ponto percentual no IPCA. Entretanto, o dólar teria de permanecer neste patamar.

Antes da alta recente do dólar, a expectativa dos economistas dos bancos era de que o aumento dos juros total previsto para este ano seria de um ponto percentual, passando de 7,25% para 8,25% ao ano no fim de 2013. Após a disparada do câmbio, os economistas passaram a prever um ciclo bem maior de alta dos juros: para 9,25% ao ano no fim de 2013.

No fim de junho, o Copom também reafirmou, no relatório de inflação, que um “risco importante” para a inflação tem origem no mercado de trabalho – que mostra “estreita margem de ociosidade” (dados do IBGE mostram o desemprego próximo da mínima histórica). “O Comitê reafirma que um aspecto crucial nessas circunstâncias é a possibilidade de o aquecimento no mercado de trabalho levar à concessão de aumentos reais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade, com repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação”, informou o Banco Central.

Atração de capitais

Além de combater os efeitos do dólar alto nos preços, a alta de juros, segundo analistas do mercado financeiro, teoricamente contribuiria para evitar uma pressão maior de alta na cotação da moeda norte-americana. Isso porque, com juros maiores, poderia haver uma maior atração por capitais em busca de uma remuneração também mais alta, sendo que o Brasil tem, agora, a segunda taxa de juros real mais alta do planeta.

Para o economista Sidnei Nehme, porém, não é possível ter expectativas de melhora de fluxos de recursos externos para o país. “O desgaste de imagem do Brasil, na visão do investidor estrangeiro, tem sido muito intenso. A credibilidade na política econômica em geral, incluindo o BC, é muito baixa, e as perspectivas de atividade econômica são cadentes, refletindo diretamente na perspectiva de crescimento do PIB, que vem sendo vigorosamente revisto para pior por analistas econômicos e pelo mercado financeiro”, avaliou ele.

Em sua visão, a balança comercial fragilizada (com o pior resultado em 18 anos no primeiro semestre), além do nível de investimentos externos “insuficientes”, de uma política fiscal (contas públicas) severamente criticada (pelo uso de manobras contábeis) em um ambiente de crescente déficit em transações correntes (nas operações do Brasil com o exterior) “fomentam e dão sustentabilidade à tendência de alta do preço da moeda americana”.

(G1)

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