Estamos no oitavo mês mas não é risco algum afirmar que 2013 já garantiu seu lugar na História do Brasil. A mobilização espontânea nas ruas e na rede contabiliza muitos ganhos além dos 20 centavos: votações importantes que se arrastavam em câmaras (até então blindadas), recuos de governantes que atendem às reivindicações da população, o surgimento de uma até então desconhecida politizada juventude… No caso do Rio, o governador Sérgio Cabral foi obrigado a sair de sua toca e, entre outras medidas para tentar se salvar, não vai mais demolir no entorno do Maracanã o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio de Lamare; também devolverá o prédio onde se instalara a Aldeia Maracanã à causa indígena (lembrando que a histórica edificação do Império também foi a primeira sede da Funai e depois do Museu do Índio), desistindo de um museu olímpico sem sentido algum; e prometeu só demolir o prédio da Escola Municipal Friedenreich (que é apontada como uma das poucas de qualidade no Rio de IDH-M tão ridículo) depois de erguer outro melhor em troca. Não votei nele, mas comparado aos governos anteriores até que o de Cabral contabilizava ganhos para o estado. Resta saber o que foi apenas maquiagem em seus dois mandatos.
Sim, a política tem, volta e meia, tirado esse blogquasedeliriosentimusical de sua rota original. E se eu tentar um balanço também precoce na minha praia, 2013 não tem sido tão interessante assim. A classe musical brasileira continua rachada em torno das questões do ECAD e do direito autoral e, agora, aguarda a sanção ou o veto de Dilma para um projeto de lei que passou pela Câmara de Deputados e pelo Senado. Mas, independentemente dessa decisão, o setor parece ainda sem rumo. O disco físico continua definhando sem que a venda digital ou os serviços por streaming compensem as perdas e os artistas cada vez mais dependem de incentivos para botar seus blocos na rua. O que não impede que bons discos sejam lançados: instrumentais como os dos grupos Vento Em Madeira e Inventos; de MPB como os últimos de Marcos Valle (com Stacey Kent), Joyce Moreno, Vinicius Calderoni, do grupo vocal Cobra Coral, dos Caymmi Nana, Dori e Danilo cantando o sempre fundamental Dorival; de pop como o “AOR” de Ed Motta (que, em outubro, fará shows no Blue Note de Tóquio, com participação especial do guitarrista americano David T. Walker: http://www.bluenote.co.jp/jp/artists/ed-motta/)…
PS: para não dizer que nada ouvi de novo esta semana, “Subúrbio bossanova”, da Orquestra Criôla, rodou bem nessa manhã de sábado. Canções com sabor de gafieira, quase todas do saxofonista, flautista e líder do grupo Humberto Araújo, alternando parcerias com Cláudio Jorge, João Cavalcanti, Nei Lopes e Paulo César Pinheiro. Também participam do CD Luiz Melodia (voz no “Carinhoso” de Pixinguinha e João de Barro), João Donato (piano em “Vacilou”), Wilson das Neves (“Onde o samba nasceu”), João Cavalcanti (“Temporal, atemporal”) e Verônica Sabino (“Favela”). É produção independente e quem se interessar pode ter mais infos no site da orquestra.
PS2: surpreso e triste com a notícia da morte de Luiz Paulo Horta, com quem trabalhei e aprendi por muitos anos na redação d’O Globo.
PS3: para fãs de jazz, a boa programação do festival de Newport deste ano, que acontece hoje e amanhã, pode ser conferida por streaming no site da NPR.
O elo que pesquei é enorme, espero que funcione, mas, na internet, quem tem dedo chega em qualquer lugar. E um detalhe, os festivais de verão nos EUA acontecem a partir do início da tarde.
por Antônio Carlos Miguel