Um relacionamento para dar certo precisa de alguns ingredientes essenciais sem os quais o seu fim será iminente, traumático e inevitável. A coisa primeira e mais importante é o desejo sincero de querer estar perto, de se relacionar de fato “sem forçação de barra”, ou seja, sem que seja algo penoso, doloroso, sofrido e indesejado. Seja qual for o tipo de relacionamento: romântico, negócios ou amizade, quando ele é baseado na indesejabilidade do querer estar junto já nasce defeituoso, mentiroso e fracassado. Portanto, antes de tudo descubra se você de fato deseja estar junto da pessoa com quem você se relaciona.
Observe se tal relacionamento te faz sentir bem, te faz crescer como pessoa e se deixa em você rastros de felicidade que sejam duradouros, sinceros e verdadeiros. Perceba se permanecer se relacionando assim te faz bem ou deixa um rastro de dor, culpa, tristeza ou algo que se pareça com isso. E caso perceba que algo de ruim cresce em ti, ou te torna alguém cada vez pior aos olhos dos seus valores de outrora, e tudo isso agravado por conta dessa relação, acenda o alerta vermelho e procure ajuda já. E o faça rápido, antes que seja tarde demais e você se perca por completo de si mesmo.
A coisa seguinte a ser considerada é a confiabilidade mútua. Ela está atrelada intimamente à sinceridade transparente, ou seja, uma relação sem mentiras, enganos, traições ou dissimulações. Ninguém acorda um belo dia e planeja ser ou agir mal, traindo a confiança de alguém a quem jurou lealdade, fidelidade e transparência. O que acontece é que vamos dando pequenos e sucessivos passos na direção contrária dos valores que sempre nortearam nossa vida, quer seja por revolta, desejo, curiosidade ou mera falta de disciplina e vigilância. Agindo assim, um belo dia você acordará em um lugar estranho, com gente estranha em intimidade contigo, em uma condição que já não se reconhecerá mais e nos casos mais graves já nem saberá quem foi um dia de tão perdido que estará de si mesmo e de tudo o que já foi um dia.
Após decidir intimamente que quer de fato estar nessa relação, reafirmar os valores da sinceridade transparente, lealdade e fidelidade, precisarás desenvolver a arte dialogal. É por ela que nos expressamos com o outro e este conosco, pois uma ação de diálogo só é mútua quando se fala e se é ouvido, mas também se permite o mesmo ao outro. Quem monopoliza uma discussão relacional não quer solução, mas sim impor limites e sua vontade ao outro ou, em geral, gritar e falar mais alto tão somente para ofuscar ou ocultar algo, do que se envergonha ou teme que se torne público, em sua própria conduta, passada ou presente
Minha experiência como conselheiro tem me ensinado que quando uma pessoa mal permite que a outra fale, fica acusando e apontando erros ou supostas falhas que respaldariam as sua reciprocidade nas ações, o que isso indica é uma flagrante falha em seu caráter, ou usando uma linguagem mais simples, revela graves e profundas fissuras em sua personalidade e comportamento, Quem reage assim, aos gritos e se impondo pelo autoritarismo na voz, pode ter no passado distante ou recente, ou mesmo no tempo presente, coisas a ocultar. E por temer a revelação de tudo isso se esconde sob o manto da verborragia e gritaria impositiva.
Nenhum relacionamento irá adiante sem que se tome a decisão, por livre escolha, de fazer a coisa certa refazendo o que foi danificado ou quebrado. E o que é a coisa certa a ser feita? Como cristão eu creio que é você decidir agir conforme os princípios e valores que norteiam a fé cristã. Valores os quais para preservá-los fazemos tudo ao nosso alcance. E, mesmo com dano próprio, fazemos a melhor escolha, aos olhos de Deus e segundo a Revelação em Sua Palavra, para não nos tornarmos em pedra de tropeço ou fonte de escândalo ao Reino e ao Seu santo nome. Refiro-me a escolhas as quais levam um cristão sincero a como que esmurrar o seu próprio corpo, sufocando vontades, desejos e inclinações latentes e pulsantes no ser, pela preservação de um ideal maior: Um sincero desejo de agradar a Cristo cumprindo a Sua vontade em sua vida.
Alguns chamarão isso de hipocrisia ou burrice, prefiro chamar de obediência, submissão ao Senhor e amor incondicional a Ele. Não consigo imaginar como uma relação construída em bases mentirosas, permeadas de mecanismos de auto-enganação e visivelmente enfática na busca egocêntrica ou hedonista da auto-realização, se recusando a ser algo honesto e transparente, possa dar certo ou ter algum futuro que valha a pena o risco.
O que fazer quando nos perdemos assim, quer seja numa amizade, relação amorosa ou nos negócios? Simples: Pare de passar a perna no outro e se achar o mais esperto. Torne-se responsável e consequente e seja sincero com quem você se relaciona. Decida ser honesto primeiro com Deus, depois consigo mesmo, com seus amigos, parceiros, sócios ou com quem um dia afirmaste amar. Enfim, não se permita mais buscar os próprio interesses, em detrimento da dor que isso possa causar a outros. E caso não esteja feliz nessa relação use de total sinceridade, mas não engane ninguém, pois o primeiro enganado será sempre você mesmo. Não use discursos rebuscados, cheios de frases ambíguas e eloquentes buscando legitimar suas intenções ou ações erradas, escondendo suas reais intenções. Seja honesto e leal para que no futuro tenhas o direito de exigir o mesmo dos outros para consigo.
Em seguida, aguce sua memória e se lembre das vezes em sua vida nas quais alguém te prejudicou, passou a perna, enganou, traiu ou tirou vantagem de você se aproveitando de sua confiança nele. Pense no quão dolorosa foi a dor da traição, da quebra de uma aliança ou da separação. Pense nisso e decida não suscitar no outro tais sentimentos provocados, dessa vez, por ti. Aja com responsabilidade e inteligência. Você foi prejudicado nos negócios por um sócio? Encerre a sociedade, se não puder ocorrer entendimento e perdão. Uma amizade se tornou nociva e destrutiva? Mantenha distância e blinde a sua alma, até ser possível um dia tentar refazê-la. A pessoa que amas te enganou, traiu, já não desperta desejo ou interesse de conviverem juntos? Aqui recomendo que busque ajuda. Profissional, espiritual ou ambas. Não se joga algo assim para o alto do nada, mesmo que apareça algo mais atrativo em sua vida.
Seja decente com os outros e coerente com a sua História de Vida. Não a destrua! Busque alguém confiável para se aconselhar. E mesmo acreditando que não tem mais jeito nessa relação e que ela se tornou apática, sem amor ou desejo, respeite o outro, na exata proporção que gostaria que respeitasse a ti. Não faça escolhas, nem tome atitudes ou pronuncie palavras precipitadamente que possam ferir o outro. Mas se já o fez ou ainda faz pare e busque consertar isso o quanto antes. Não faça com os outros aquilo que te causaria dor se fizessem contigo, ainda que já tenham te feito sofrer. Antes de fazer algo que magoará a outrem na relação, procure esse alguém e mostre que se importa com seus sentimentos. Conversem e cheguem a algum acordo, mas dialoguem primeiro, sem pressa e com calma. Não se envolva em algo novo antes de resolver o relacionamento que ainda existe.
Quem sabe depois de passada essa tormenta destruidora em sua alma não renasça em ti, qual fênix espiritual ressurreta, uma pessoa melhor ainda do que você já foi até então? Que o Senhor Deus da Glória, plena em graça, amor e misericórdia, o Todo Poderoso, Senhor da vida, pleno em amor e perdão, te ajude a perdoar a si mesmo e ao outro,em qualquer coisa feita ou desejada na alma, que te ajude a restaurar relacionamentos quebrados e a reaprender como seguir em frente, amando, dando o melhor de si e, assim, se reencontrando com a verdadeira felicidade. Shalom!
Teobaldo Pedro de Jesus – Teólogo, pastor, educador e psicanalista.