A notícia auspiciosa é que, nos últimos cinco anos, o Brasil foi o país que mais bem utilizou os resultados do crescimento econômico para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população, graças principalmente à melhor distribuição de renda: os ganhos sociais equivalem a um país com expansão do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 13%, mais do dobro dos 5,1% da média anual registrada no período de 2006 a 2011. A constatação é do estudo Da riqueza para o bem-estar, elaborado pela consultoria internacional Boston Consulting Group a partir de dados sobre 150 países coletados em diversas fontes, entre as quais o Banco Mundial, o FMI e a ONU. Mas, como acontece com quase todos os estudos desse tipo, antes de se comemorar a boa nova é importante ampliar a análise para além dos frios números e até mesmo fazer alguns cruzamentos com outras pesquisas. Como alerta Christian Orglmeister, diretor do escritório da consultoria em São Paulo, quando se parte de uma base muito baixa, é mais fácil avançar, segundo declarou em entrevista ao Estadão. Ou seja, embora a situação seja melhor, ainda há muito o que fazer. Ele ainda aponta, com precisão, o desafio: manter esse ritmo de crescimento e de distribuição da riqueza e seus benefícios. Para isso, é necessário melhorar a qualidade da educação, modernizar a infraestrutura, flexibilizar o mercado de trabalho e reduzir os entraves burocráticos que atrapalham a realização de negócios.
Seguindo a recomendação de ampliar a análise, vale lançar um olhar atento sobre a Síntese de Indicadores Sociais, elaborado pelo IBGE, que foca as condições de vida da população em 2012. O primeiro aspecto que chama a atenção é o marcante crescimento do número de pessoas com 60 anos ou mais, que saltou 9% do total de brasileiros (15,5 milhões) em 2001 para 12,1% (23,5 milhões) em 2011. Enquanto isso, no mesmo período, o grupo de até 24 anos caiu de 48,2% em 2001 para 40,2% (78,5 milhões) em 2011. E a tendência de queda deve se manter, considerando que, no mesmo período, o número de pessoas com até 14 anos de idade sofreu uma redução de 45,9% para 36%, na relação com a faixa de 15 a 59 anos.
Um dos significados desse cenário é que será cada vez menor o contingente de pessoas ativas no mercado de trabalho na comparação com os inativos. Ou seja, menos pessoas para produzir a riqueza a ser distribuída para maior número de brasileiros. Para os jovens em início de carreira, há um obstáculo adicional: provavelmente, mais profissionais permanecerão no mercado de trabalho durante um tempo maior, com impacto na oferta de oportunidades. Nesse ponto, vale considerar outro indicador social apontado pelo estudo do IBGE: mais da metade dos jovens com menos de 25 anos está concentrada na base da pirâmide, ou seja, nas duas faixas de menor renda per capita familiar (menos de um quarto do salário mínimo e de um quarto até a metade desse valor de referência). Já entre os idosos, esse percentual cai para algo em torno de 18% — efeito de políticas sociais e previdenciárias que garantem benefício de pelo menos um mínimo a idosos carentes, independentemente da contribuição. Aqui cabem, logo de início, duas perguntas, nada retóricas. A primeira: até quando os cofres do INSS suportarão esse descompasso, entre receita e despesa? A segunda: será justo adiar esse problema para que as gerações futuras o resolvam?
Dois dados apresentados pela Síntese, que sinalizam para uma maior dificuldade na manutenção do ritmo de melhora do padrão de vida, são as taxas de natalidade e de fertilidade – esta última chegou a 1,9 filho por mulher em 2010, a menor da última década. Ambas guardam relação com o aumento da escolaridade, que vem numa curva ascendente desde o início dos anos 1990 e agora se acelera com a universalização do acesso ao ensino fundamental e a expansão das matrículas no ensino superior. Na faixa etária dos 15 a 19 anos e com sete anos de estudo, 18,3% têm filhos. Quando a escolaridade sobe para oito ou mais anos de estudos, esse percentual cai para 7%.
Os números da Síntese de Indicadores Sociais apenas reforçam a urgência do enfrentamento dos gargalos da educação, infraestrutura, burocracia e falta de flexibilidade com excessivos encargos nas relações trabalhistas apontados pelo diretor do Boston Consulting Group. Não será tarefa fácil, considerando o impacto negativo da crise internacional nos resultados das empresas. Por exemplo, a pesquisa Panorama Empresarial 2013, realizada pela consultoria Deloitte, revela que 71% das empresas com receita líquida superior a 500 milhões de reais foram afetadas pelo cenário internacional adverso, pelo aumento dos salários e benefícios dos funcionários e pelos custos com fornecedores.
Mesmo com o balanço de um 2012 pouco animador, os empresários confiam num ano novo mais promissor, com um maior aumento do PIB e melhora de importantes indicadores da atividade econômica. E não hesitam em divulgar suas metas. Além de um já tradicional propósito de reduzir custo anunciado por 63% das empresas, os principais focos a serem perseguidos em 2013 pelas empresas participantes do estudo são fortalecimento da marca (59%), investimento em capital humano (53%) e em inovação (49%), assim como em ações de retenção de profissionais (39%). Nessa listagem, nota-se um ponto altamente positivo, quando as empresas incluem no item investimento – e não mais em custos – o capital humano e a retenção de talentos. Para os profissionais, novos e veteranos, é mais uma comprovação de que, em certos aspectos, a crise pode ser sinônimo de oportunidade… desde que se esteja bem preparado para aproveitá-la.
*Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do CIEE e do Conselho Superior de Estudos Avançados – IRS/Fiesp.