Até o fechamento desta edição ainda não havia um desfecho na rebelião de detentos no Conjunto Penal de Juazeiro, que começou nas primeiras horas de ontem (19). Durante todo o dia familiares dos detentos aguardavam aflitos informações de dentro do presídio. De acordo com informações da direção da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Estado da Bahia (Seap) a rebelião começou por conta da transferência de alguns detentos de um pavilhão para outro. Já informações de familiares dão conta de que os presos seriam transferidos para a cidade de Serrinha.
Rita de Cássia Santos Silva, que tem o pai e um irmão presos, assegura que já na visita do último domingo (18) havia sinalização do motim. Ela critica a administração do presídio, a revista feita nas mulheres e a falta de assistência aos familiares dos detentos. “Isso é uma falta de respeito com nós. Estamos aqui desde as 8 horas e ninguém nos dá uma informação. Nossos familiares estão lá dentro sem nenhuma assistência, somos humilhadas durante a revista, colocam até lanterna na nossa vagina. Cadê o diretor que não aparece para nos passar alguma informação? Não sabemos como estão eles lá dentro, se estão feridos, se tem mortos”, desabafa. Já a senhora Zumira Santos, que tem dois filhos detentos, também lamenta a falta de informações e de assistência aos familiares. “Só saio daqui quando tiver notícias dos meus filhos. Olhe nossa situação, sem água, sem um lugar para sentar e até para fazer as necessidades temos que ir para dentro do mato”, diz revoltada a aposentada.
Clima tenso
As nuvens de fumaça que saiam constantemente da ala B do presídio indicavam que os detentos continuavam rebelados. Todo o conjunto penal foi cercado por policiais militares e até cães adestrados foram utilizados para tentar conter a rebelião. Os detentos exigiram a presença de um juiz e, por volta das 16 horas o magistrado Roberto Paranhos chegou e foi recebido com aplausos pelos parentes dos detentos. O clima voltou a ficar tenso quando duas ambulâncias do Samu chegaram ao local e adentraram no presídio. Minutos depois as ambulâncias saíram e, revoltados, familiares exigiram que as portas dos veículos fossem abertas para checarem se haviam feridos no interior do veículo.
Por volta das 18 horas o comandante de Policiamento da Regional Norte, coronel Lira Junior, o diretor de Segurança Prisional, major Júlio César e o diretor do Conjunto Penal, Manoel Thadeu Serafim, compareceram ao portão do presídio com as últimas informações.
Sem diálogo
Segundo o coronel Lira a presença da PM no local era para garantir a integridade dos detentos, dos funcionários do presídio e dos familiares. Ele afirmou que desde o início da rebelião que as autoridades tentam um diálogo com os detentos, mas sem resultados. O comandante deixou claro que a PM só iria intervir nas últimas consequências, porém adiantou que não vai permitir que ninguém faça mal ao outro. O major Julio Cesar, que veio de Salvador para ajudar nas negociações, defendeu uma relação de respeito entre todos para que as informações fossem repassadas de acordo com o que ocorresse dentro do presídio. Ele ratificou que, apesar das presenças de representantes do Ministério Público, do Poder Judiciário e da Comissão de Direitos Humanos, não houve um canal de negociação. O diretor do Conjunto Penal, Thadeu Serafim, explicou que todas as formas de conversas foram sugeridas, entretanto, garante que os detentos não quiseram a negociação. “Não sabemos qual a verdadeira situação lá dentro. Todo o pavilhão já foi destruído e existem oito reféns em poder dos rebelados”, disse o diretor que não descartou a possibilidade de existirem feridos e confirmou que pela manhã, na tentativa de conter o motim, policiais efetuaram disparos, contudo não soube precisar se houve ou não feridos.
Presentes ao local os vereadores Alex Tanuri (primeiro diretor do presídio), Bené Marques, Valdeci Alves (Neguinha da Santa Casa) e Anastácio José (vereador eleito) confirmaram que a situação é crítica, mas que torcem para que tudo se resolva através do diálogo.
Quando foi construído, em 2006, a capacidade do Conjunto Penal de Juazeiro era de 268 detentos. Com a ampliação da ala feminina a capacidade passou para 348 e hoje abriga 649 detentos, muito embora familiares assegurem que o número de presos beira os 800.
De acordo com o diretor do presídio todos os 278 detentos da Ala B participam da rebelião.
Texto e fotos: Antonio Pedro