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Foi na simplicidade do sertão, no meio da caatinga, que o corpo do bispo emérito de Juazeiro, Dom José Rodrigues, foi sepultado no início da tarde de ontem (11). Depois de ter sido velado por toda a noite na Catedral de Juazeiro, na manhã de ontem foi celebrada a missa de despedida do religioso, e em seguida o cortejo seguiu com destino a Carnaíba do Sertão, onde a urna com o corpo foi depositada no Cemitério do Centro Diocesano.
Foi sob o som agudo e solene da corneta do policial militar e aplausos dos presentes que o corpo de Dom José desceu à sepultura e sua história inicia um novo capítulo.
O “Bispo dos Excluídos”, como era carinhosamente conhecido, deixa para as comunidades ribeirinhas e das áreas de sequeiro do semiárido, não apenas a renovação da fé, mas um exemplo de vida dedicada aos mais necessitados.
Durante os 28 anos em que comandou a Diocese de Juazeiro, Dom José Rodrigues jamais se rendeu às ameaças dos poderosos e esteve sempre na linha de frente lutando contra as injustiças sociais. “Ele não só evangelizou, nos ensinou a respeitar e defender os mais humildes e com suas ações nos mostrou o caminho da igualdade e da fraternidade”, disse a católica Maria do Socorro Nascimento.
Durante a despedida, o bispo da Diocese de Juazeiro, Dom José Geraldo da Cruz, disse que o corpo de Dom José estava sendo transportado nos ombros do Bom Pastor, para que ao chegar aos céus pudesse gozar da alegria que ele tanto pregou na terra. “A dor será superada pela certeza de que será bem recebido por Deus. Vá em paz Dom José. Deus te chamou para te acolher no paraíso”, resumiu o bispo.
Orientador espiritual
Centenas de pessoas enfrentaram o sol causticante do meio-dia para dá o último adeus a Dom José. A dona de casa Josefa dos Santos não continha as lágrimas ao afirmar que o religioso foi mais do que um bispo. “Ele foi que nem um pai nos orientava e sempre estava a defender os mais fracos. Fica a lembrança de um homem de fé, a saudade de um amigo querido”.
Jovens da Juventude do Meio Popular cantavam canções que lembravam a história de luta de Dom José. O prefeito de Juazeiro, Isaac Carvalho, decretou luto oficial por três dias e ponto facultativo no dia de ontem. Também os prefeitos de Casa Nova, Orlando Xavier, e Sobradinho, Genilson Silva, decretaram luto pela morte do bispo.
Em nota, o setor de comunicação do Irpaa lamentou a morte de D. José Rodrigues, lembrando que a história da entidade e a sua pessoa estão intimamente ligadas. “D. José Rodrigues foi uma figura central na fundação do Irpaa, sendo inclusive o primeiro presidente da entidade. Em sua caminhada na Diocese de Juazeiro, divulgava o novo paradigma da Convivência com o Semiárido em suas pregações, de forma contextualizada com as passagens bíblicas. Utilizou-se do rádio e outros instrumentos de comunicação para levar ao povo a mensagem de libertação através da convivência com o clima e com nossa região, evidenciando os aspectos políticos que sustentavam a famigerada indústria da Seca no Semiárido Brasileiro”.
Em defesa de todos
Dom José Rodrigues foi nomeado bispo da Diocese de Juazeiro em 1975, período que coincide com a construção da barragem de Sobradinho, obra do governo militar que desabrigou 72 mil famílias dos municípios baianos de Remanso, Casa Nova, Pilão Arcado e Sento-Sé. Na época a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) anunciava que a barragem seria a redenção do povo do Nordeste. No entanto, o bispo testemunhou junto às comunidades ribeirinhas que a obra gerava muitos problemas para as pessoas, principalmente para as famílias rurais que tiveram suas terras, moradias e sua produção engolidas pelas águas da barragem, sem receberem indenizações.
Dom José, conhecido como bispo dos pobres e oprimidos, estimulou a criação da Pastoral da Terra, da Mulher Marginalizada, da Criança, Juventude do Meio Popular, dentre outras. Através dos programas de rádio e cartilhas criadas pela Diocese, o povo começava a ter voz e a formar opinião junto à sociedade na busca da garantia dos seus direitos.
Os Vicentinos também emitiram nota desejando a Dom José a felicidade ao lado do Senhor e que “a sua energia positiva continue a nos iluminar, nos orientar em todos os rumos e caminhos das nossas ações solidárias, benéficas e justas. Que as pessoas amigas que continuam aqui, encontrem a paz e a felicidade na tua lembrança, na tua coragem e na tua luta sempre na defesa dos mais fracos e oprimidos. E que nós, Vicentinos, possamos seguir um caminho de luz próspera com o seu guia espiritual e do Pai”.
Para o diretor-presidente do Diário da Região, Dr. Paganini, companheiro de Dom José por muitos anos na ABI, fica o exemplo de um homem justo que buscou na fé e no conhecimento ferramentas para guiar seu povo. “Foi um defensor incansável dos mais necessitados e sua luta por justiça social será a marca da sua história entre nós”, disse Paganini.
Fotos e texto: Antonio Pedro